sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A protagonista.


Noite de  vento e raios fortes. Início de uma tempestade. Queria a natureza reproduzir o que se passava no interior de Liz?
Ela está ali, encostada na parede, olhando para o corpo no chão e chorando pra si. Todos que ali estavam mal sabiam quem ela era. Também não importava se o único que sabia de sua existência estava  morto.
Todos perguntavam o que houvera acontecido e não encotravam respostas. Apenas ela sabia o por que da morte de André.
Uma moça loira deitou sobre o corpo e chorou compulsivamente. Era ela. A mulher. Era ela a segunda. Era ela, a verdade por trás de todas as palavras de amor malditas.
Como ela pode acreditar em tudo o que ele dizia? Era tudo o que ela pensava.
Mas o fato, é que não há tempo para questionamentos. Ele estava ali, no chão,morto, e sobre ele, ela.
Os olhos de Liz se fecharam e uma lágrima caiu. Uma.
Ela saiu do local e entrou no seu carro, uma blazer preta.
Ligou o som na rádio local e tocava a musica que serviu de trilha para seus momentos com ele: Hole in my soul- Aerosmith.
Ela dirigiu por horas, relembrando todos os momentos que passaram juntos. Todos os momentos fictícios em que ela, como coadjuvante, acreditava ser protagonista. É pecado xingar um morto? Foda-se!
-Desgraçado. Maldito. Filho da puta!
Mesmo se ele não tivesse morrido, ele iria morrer de qualquer jeito. Fisica ou sentimentalmente. Não importa. A morte seria o melhor caminho.
Ignorando todas as placas de Não prossiga, ela entra numa estrada interditada. Uma forte chuva começa a cair e ela prossegue. Nem faz questão de ligar o para-brisas. A sua visão é turva. Afinal, o que é uma chuva no vidro impedindo a visão para quem não viu a realidade diante dos olhos por tanto tempo?
Chegando a margem do precípício, ela acende aquele que pode ser seu último cigarro. Desce do carro e senta-se sobre o capô. Dali, não se avista nada. Apenas ouve-se o vento que uiva como o clamor das almas.
A chuva apaga o seu cigarro. Foda-se. Ela nem queria fumar mesmo. Mas é que um cigarro combinava bem com a cena.
As imagens então começam a aparecer como fantasmas.
Ele descobriu que ele era casado havia sete meses. Casado. Há cinco anos e com dois filhos pequenos, um menino de cinco e uma menina de três.
Pelas suas contas, eles se conheçeram no verão de dois mil,  então, havia onze anos que estavam juntos, seis que ele havia casado com a outra. Sendo assim, ela tinha seis anos como mulher e cinco como amante. Isso, se ele não tivesse outra antes da outra. De dois mil para dois mil e onze, noves fora... é... onze anos. Onze anos sendo enganada. Ou seriam cinco? Ah, já não importa mais.
O fato é que seu caso era diferente. Primeiro ele a conheçeu, para depois encontrar outra e se casar e continuar com ela. Dá pra entender?
Ele sempre disse a ela que não casaria por que não acreditava em matrimônio religioso, nem civil, nem nada. Preferia apenas viver junto. E ela, claro, concordou. Ela sempre concordou com tudo.
Quando será que ele conheçeu a amante que na verdade é mulher? Ah, não importa.
E como ele teve tempo para construir uma familia sem que ela percebesse? Também não importa.
O fato é que ela nunca desconfiou dos plantões que ele fazia nem de suas viagens. Ela acreditou. Todas as mulheres acreditam, com ela não seria diferente.
O que importa agora, é que ela descobriu. Não importa como. Ela descobriu.
Ela nunca acreditou que seria fria a esse ponto, mas ela aguentou longos sete meses.Foi o tempo de continuar bancando a "namulher" perfeita enquanto destruia sua vida aos poucos.
O primeiro passo foi, a cinco meses, contar para ele que sabia que ele tinha outra e fingir que o havia perdoado.
O segundo, foi dizer que aceitava passar de primeira, para segunda mulher. Que o amava de uma tal forma que aceitaria passar por isso. Que entendia que havia duas crianças na história e que blábláblá.
O terceiro, foi vê-lo sofrer pela morte do  filho.
O quarto foi vê-lo sofrer pela morte da filha.
A mulher, desgraçada, não morreu, mesmo diante de inúmeras tentativas. A desgraçada devia ter pacto com o demônio. Mas tudo bem. Vê-la chorando e sofrendo diante do corpo do infeliz bastou.
O quinto passo foi marcar o jantar de onze anos no restaurante preferido dos dois e deixa-lo sozinho, esperando por ela enquanto tomava o vinho. Ah, o vinho que ele mais gostava.
O sexto, foi vê-lo agonizando e se debatendo no chão e o olhar de pena de todos os presentes. E depois de morto, ver a loira- a segunda que virou primeira- sofrendo e chorando.
Pronto, lágrimas e lágrimas derramadas por todos. Sofrimentos distribuidos igualmente, agora é hora de olhar para baixo do precipício e tomar uma decisão.
Apesar da forte chuva e da escuridão, dava para ver que era bastante alto.
Todas as mortes devidamente resolvidas, agora é a hora e a vez dela.
A respiração ofegante por causa da chuva lhe cansou. Mas ainda assim, ela conseguiu empurrar o carro e joga-lo precipício abaixo.
A partir de agora, ela seguiria a pé, pegaria uma carona e recomeçaria sua vida em outro lugar.
Vocês acharam que ela iria se matar? Ora. Ela a é protagonista dessa história. E protagonistas não morrem no final baybe!

Por: Elmo Ferrér

Um comentário: