Rosa vai até o sinal fechado.
ROSA- Olhem bem... vocês, que estão ai dentro do luxo dos seus carros, vocês que mal sabem o que é passar necessidade, que mal sentem fome, ou, quando sentem, vão a uma lanchonete qualquer e enche o bucho... nós somos artistas, atores, de teatro. Viemos do interior tentar a vida aqui. Vocês sabem o que é isso?
O sinal apita.
ROSA- Não sabem. Nem mesmo se importam não é?
Sai de volta ao acostamento.
LUA- Alguém jogou dez centavos.
ROSA- É o que vale a cultura para eles.
CHICO- Cultura? Quem te viu ali , não viu cultura Rosa. Viu uma pobre morta de fome que vai encher a barriga com alguma coisa que valha...dez centavos.
LUA- Quem acha que se come com isso?
CHICO- Quem não precisa. Quem joga fora não sabe o valor que dez centavos tem. Acho que um tomate da pra comprar.
ROSA- A que ponto chegamos...
CHICO- De que ponto saímos?
LUA- Ninguém percebe que somos três jovens querendo apenas fazer arte de maneira digna?
CHICO- Não. Ninguém percebe. Sabe o que eles percebem? Percebem aqueles que estão lá, no mais lindo palco, com a mais linda roupa, a mais linda maquiagem, cobrando caro por algo que muitas vezes eles podem ter de graça.
LUA- Eles sim, são artistas. Nós somos apenas vagabundos.
ROSA- Vagabundos.
CHICO- Vagabundos.
ROSA- Abriu.
LUA- Quem vai?
CHICO- Ninguém. Dessa vez, ninguém vai. Vamos ficar sem ir um tempo. Esse é nosso protesto. Quem sabe alguém sente a nossa falta?
Os três se olham e riem.
TODOS- Vamos todos.
Todos vão ao sinal e fazem uma performance. O sinal toca, os três estatizam e a luz fecha.