sábado, 22 de janeiro de 2011

RAINHAS- Final

Personagem- Elas sempre estão aqui. Sempre. Ainda não são capazes de perceber que podem escrever a própria história. Elas se vêem como eles a vêem.  Na verdade, elas não se vêem. Nunca, jamais se vêem.
Musica. (água).
Mina- Naquele sonho, minhas lágrimas viravam um rio.
            Naiá- E eu flutuava sobre a água.
Duas- E dançava sobre ela.
Musica- Atores entram com tecidos (rio) e se postam entre as atrizes, que levantam lentamente.movimento de banhar.
                        Mina- Nesse rio...
                        Naiá- Eu era rainha.
                        Duas- Rainha das águas.
Dança. Após a dança as duas caem de joelhos, ficam de quatro.
                        Mina- Ta vendo sua imagem na água.
                        Naiá- Ela dança.
                        Mina- Ela é solta.
Entra personagem.
Personagem- Como elas podem descobrir a beleza que tem dentro delas se a vida lhes fadou ao fato de serem apenas lavadeiras, esposas, donas de casa? A vida lhes fadou a tudo, menos ao direito de serem mulheres livres. Da opressão dos maridos, da escravidão cotidiana de serem apenas reles servidoras da sociedade.
As duas desconstroem o corpo e passam a posição de lavadeiras novamente.
                        Naiá- Você sonha toda noite?
                        Mina- De noite e de dia.
                        Personagens- Sonham a cada instante.
Um personagem faz um círculo com um giz em torno de Mina, enquanto faz outro em torno de Naiá.
                        Naiá- E se a gente largasse tudo?
                        Mina- E se a gente corresse pra bem longe daqui?
Personagens- fazendo outro círculo - E se vocês percebessem que são gente?
As duas pulam para outro círculo.
                        Mina- E se a gente desse um basta em tudo?
                        Naiá- E se a gente...
                        Ator- Vivesse...
                        Mina- E se a gente...
                        Ator- Sorrisse...
                        Naiá- E se a gente...
                        Ator- Amasse...
As atrizes vão falando a frase, pulando os círculos que os personagens vão fazendo, música. Ao fim, todos caem, as duas levantam e ficam em posição de lavadeira.
                        Duas- E se a gente...
Mina- Ta na hora de ir.
                        Naiá-   Ele espera a janta na mesa quando chegar.
                        Mina- Ele espera a roupa lavada...
                        Naiá- Ele espera a mulher disposta.
                        Duas- A mulher que ele não olha.
Musica. Levantam. Colocam a trouxa na cabeça. Saem.

                                                                                              Fim.
                        

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

RAINHAS- Parte II

Mina- Ê Naiá. Serviço que nunca acaba.
                        Naiá- Caba não. Nunca. Mesmo quando acaba, não acaba.
                        Mina- Essa noite tive um sonho...
                        Naiá- Cê sonha?
                        Mina- Ô. É o único jeito de sair daqui não é?
                        Naiá- Eu sonho também, de vez em quando.
                        Duas- Sonhei que o rio se abria diante de mim. Sonhei que eu era rainha.
As duas pegam uma peça que estavam a lavar e vestem.
                        Naiá- E essas roupa tudo virava gente.
A medida que vão falando, vai entrando mais atores e colocando as peças que estão no chão.
                        Mina- E pra essa gente, a gente era gente. Gente de verdade.
                        Naiá- A gente era rainha dessa gente.
Coreografia.
Após a coreografia as atrizes estatizam e os atores falam tirando as peças e jogando para o alto.
                        Ator I- Fragmentos...
                        Ator II- Sonhos...
                        Atores – Roupa pra lavar...
                        Ator I- Suor...
                        Ator II- Sorriso...
                        Atores- Lagrimas pra enxugar.
Atores saem. Atrizes descongelam, derretem, posição de lavar roupa.
                        Mina- Olha só. Esta imagem embaçada na água...
                        Duas- Sou eu.
                        Naiá- Assim eu sou, assim me vejo...
Mina- É engraçado como a gente fica toda distorcida quando aparece na água.
Naiá- Do mesmo jeito que a gente se vê na água eles vê a gente.
Mina- O tempo parece que passa tão devagar quando estamos aqui lavando roupa.
Naiá- Mas pelo nosso rosto queimado ele passa mais depressa.
Movimento de lavar o rosto algumas vezes. Estatiza.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

RAINHAS- Parte I

Prólogo:
(Ao chegar, o público depara-se com um personagem mítico, roupas devem estar espalhadas pelo palco, desde o começo. Mina e Naiá estão sentadas, na posição de quem esta lavando roupas, estatizada).
Personagem- As histórias foram se espalhando. Tal qual as roupas pelo   chão. São roupas?  Memórias? Pessoas? Você já contou alguma história? Eu conto várias, sempre! 
Musica. Mina descongela, lava roupa.
Mina-  Essa água nos meus olhos não é reflexo do rio. Tampouco suor que desce da testa. É água de choro mesmo. É água do rio que minha alma se transformou.
Mina congela. Naiá descongela.
Naiá-   Essa pele morena queimada do sol.  O sol é minha luz de todo dia, é meu relógio. O sol é meu guia. É como sei que o tempo passa.
Duas-   Lavo roupa por que tenho que lavar. Roupa dos outros. Mas também,  cada roupa que lavo, lavo com força. E ai vem o suor, as lágrimas. É uma maneira de colocar tudo pra fora. Quando tudo sai como água, é mais fácil.
O personagem passa por trás delas, que congelam.
Personagem- Elas lavam roupas todos os dias. Quase o dia todo. Aqui ,são Mina e Naiá. Pros outros são lavadeiras, apenas. Em casa, “muié”. E pra elas? O que elas são?
Mina- Fonte de incerteza. Tristeza.
Naiá-   Fonte de água doce. Água salgada.
Musica- as duas levantam no mesmo tempo.
Personagem- São jóias que a vida lapidou de maneira bruta.  São duas mulheres fadadas a prisão em meio a liberdade.
Música aumenta. As duas correm para as roupas no chão. Experimentam algumas peças.
                        Mina- Vê Naiá.
                        Naiá-   Como estou?
                        Mina-  É tão engraçado lavar as roupas dos outros e não tem nem o que vestir direito não é?
                        Naiá- Pior é estar vestida pobremente, mas estar sempre nua para quem não vê na gente qualquer beleza.
Musica. As personagens começam a narrar a medida que a história acontece ao fundo.
                        Mina-  Ele chega em casa sempre com a cara fechada. Mal olha na minha cara. Quer comida na mesa. Mal percebe que estou vestida. Que hoje estou de roupa lavada, cabelos soltos. Só quer comida na mesa. Quando a comida não ta boa, ele só me olha com a cara feia. Não diz nada. Não precisa dizer. Então, minha alma vira rio e meus olhos cachoeira.
                        Naiá- Hoje ele chegou bravo. Não quis saber de mim. Sempre procuro entender por que ele não quer saber de mim. Então, eu vejo que nem mesma eu sei de mim. O que é a minha vida? Lavar roupa pros barão. Fazer trabalho de casa. Me cuidar? Não cuido não. 
As duas se olham, se aproximam. Derretem e voltam a lavar roupa.
                       
                        Naiá- Uma música tocava...
            Mina- E eu, mesmo sem saber dançar, dançava

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A chuva


A chuva cai agora.
Cada dia de chuva é um dia de lembranças. Cada gota, é uma lágrima.
Soberana, ela caia do céu e molhava nosso corpo.
Feito duas crianças, corríamos pela rua.
Seus cabelos soltos, seu sorriso, imagem embaçada em minha memória.
De mãos dadas, andávamos chutando as poças d’água.
Naquele dia, eu chorei. Minhas lágrimas estavam lá, misturadas a água da chuva.
Choro de alegria.
A chuva cai agora. Onde está você?

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Os porques,,,,

Estou aqui
Esperando uma resposta
Esperando uma explicação
Por que você acabou com nosso futuro?
Por que pôs tudo a perder?
Quero saber o porquê das  histórias, lugares, pessoas e momentos fictícios.
Quero o saber o porquê das palavras, dos afagos, dos beijos , abraços e juras de amor.
Foi amor?
Por que me prometeu um futuro quando eu apenas quis viver o presente?
Por que hoje estou no futuro e você no passado?
Por quê?

História de uma alma.

 Foi enquanto eu chorava, que minha alma resolveu sair de mim.
Ela saiu em forma d’água.
Essa  dor sólida se tornou líquida e se esvaiu por esses dois ralos que tenho em minha face e viraram nuvem, que agora molham  o jardim de flores mortas que você plantou ali, no meu quintal.
Essa chuva ácida molha as flores que não renascem e sim, morrem cada vez mais.
Elas esperam o vento frio da solidão levá-las para longe. Ontem foi uma, hoje outra e no fim, um dia, todos serão levadas.
Ali, não muito longe, uma velha varre o quintal repleto de flores e folhas secas levadas pelo vento e,logo após junta-las, ela as incendeia . Essa fumaça negra que sobe, alimenta mais uma nuvem que logo se transformará  em chuva, outra vez.
E assim ,ela se esvai e vira nuvem. E chove novamente, e ela se esvai, e vira nuvem. E assim será...

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

As palavras- Vanessa da Mata

As palavras saem quase sem querer,
Rezam por nós dois.
Tome conta do que vai dizer.
Elas estão dentro dos meus olhos
Da minha boca, dos meus ombros
Se quiser ouvir
É fácil perceber
Não me acerte
Não me cerque
Me dê absolvição
Faça luz onde há involução
Escolha os versos para ser meu bem e não ser meu mal
Reabilite o meu coração
Tentei
Rasguei sua alma e pus no fogo
Não assoprei
Não relutei
Os buracos que eu cavei
Não quis rever
Mas o amargo delas resvalou em mim
Não me deu direito de viver em paz
Estou aqui para te pedir perdão
Não me acerte
Não me cerque
Me dê absolvição
Faça luz onde há involução
Escolha os versos para ser meu bem e não ser meu mal
Reabilite o meu coração
As palavras fogem
Se você deixar
O impacto é grande demais
Cidades inteiras nascem a partir daí
Violentam, enlouquecem ou me fazem dormir
Adoecem, curam ou me dão limites
Vá com carinho no que vai dizer
Não me acerte
Não me cerque
Me dê absolvição
Faça luz onde há involução
Escolha os versos para ser meu bem e não ser meu mal
Reabilite o meu coração

O tempo passa e ele espera

Ele senta na areia da praia e assiste, sem pressa, o lento morrer do sol.Ele assiste a lua nascer e o mar subir.
Ele assiste a lua morrer,o sol nascer e o mar descer.
Nada mais poderá ser feito  ou desfeito.
Ele anda lentamente pela areia da praia em direção a lugar nenhum. Cada pegada que fica na areia, logo é apagada pelas ondas do mar.
Ele senta na areia da praia e assiste, sem pressa, o lento morrer do sol.
Ele deita de braços abertos e olha para o céu escuro, hoje sem lua, sem estrelas.
Sem pressa ele espera mais um morrer da noite e mais um nascer do dia.
Do que lhe adianta a pressa se a vida para ele parou? 
Do que lhe adianta o nascer e o morrer cotidiano do sol e da lua?
Pra que serve tudo isso para um homem que não tem mais coração? Que não tem mais alma?
Pra que serve saber que as pegadas foram apagadas, que o sol e a lua nascem e morrem todos os dias, que o mar sobe e desce cotidianamente? Pra que serve tudo isso, se as palavras ditas não foram esquecidas, as dores não cicatrizaram e a memória não morre?
Pra que ter pressa quando por muitas vezes ele pediu que o tempo não passasse para ficar ao lado dela ,mas ele passava rápido demais?
Pra que ter pressa quando ele pediu para o tempo passar rápido para ele poder esquecê-la depressa, mas ele não passava.
Pra que ter pressa quando não se ama mais? Quando não há mais fé? Quando não se acredita mais em nada?
Pra que ter pressa?
Ele senta na areia da praia e assiste, mais uma vez, o nascer do sol. E espera pacientemente, o morrer.

Mulher de Bandido


MULHER DE BANDIDO
ELA- (Fumando um cigarro )- Sinceramente. Eu sou mesmo uma idiota, imbecil, tola. É isso. tudo isso. Eu jurei para mim mesma que não iria me apaixonar, que não iria me deixar envolver por ninguém. Mas não. Eu sempre escuto esse bolo de carne, veia e sangue que tenho aqui no peito. É. Por que para mim, ele não passa disso. Um bolo de carne, veia e sangue. Se eu pudesse, enfiava um punhal no meu peito e rançava essa merda. Mas não. Isso eu não faço. Além de detonar meu peito, vou ficar com uma cicatriz imensa, deformada. Também, o máximo que eu  faria era rancar o silicone, e paguei caro, muito caro nesse silicone. Merda! Eu coloquei esse silicone por causa dele sabia? Por causa dele. Ele falava que gostava de mulher com peitão. Pra mim, não teve nada mais humilhante do que o dia em que ele pediu para eu transar com ele com dois melões embaixo da blusa. Mas fiz né? O que a gente não faz por amor.
Cara, eu me sacrifiquei por aquele desgraçado. Eu fiz coisas que até Deus duvida. Até assaltar banco disfarçada de Bin Laden eu assaltei. Mas também, não foi por falta de aviso. Minha mãe, minhas amigas, todo mundo sempre me dizia que não era pra eu me envolver com bandido.  Mas é que eu acreditei né? Acreditei.
Acreditei quando ele me disse que eu era única. Que eu era mais bonita que as outras. E olha que na época eu ainda não havia operado as vistas, nem feito o tratamento contra espinha, nem tirado os dois dentes de vampiro que eu tinha. Eu mudei por ele. Eu quis agradar, afinal, ele vivia elogiando a Débora Secco, a Juliana Paes, a Angelina Jolie. Dizia que elas sim eram mulheres de verdade. Tá vendo essa boca?  Você acha que era assim. Até botox nos lábios eu botei. Tudo bem que eu fiquei a cara do Carlinhos Beauty, mas enfim, a gente nem sempre acerta não é mesmo?
 Mas onde eu estava mesmo? Ah, lembrei. Eu ESTOU no fundo do poço. No fundo, do fundo do poço. Eu tive que deixar tudo para trás, amigas, mãe, pai, meus quatro filhos... e claro, meu marido. Deixei tudo por esse desgraçado. Desgraçado.
Hoje, tudo que resta é lamentar. Ser trocada por outra é a pior coisa que alguém pode passar. Eu mesma não desejo isso para ninguém. Acho uma puta falta de sacanagem uma pessoa trair a outra, trocar... como se  a gente fosse absorvente.
Não, mas eu não traí o meu marido não. A gente não tava bem, não tava. Ele só queria saber de trabalhar, colocar as coisas dentro de casa. Cuidar dos meus filhos, e olha que nem dele eles eram. Mas eu não. Eu sempre quis mais. Agora, eu fico assim, como estou. Trocada por uma cachorra com os peitos maiores que os meus, mais alta, loira... E eu fico pensando: o que eu posso fazer? Colocar mais silicone? Pintar o cabelo? Fazer o joelho?  Nada mais adianta. Isso não vai trazer ele de volta. Não vai. Eu agora vou sair por ai. Vou tentar me vingar. Vou ficar com quem aparecer na minha frente. Eu vou mudar. Eu vou mudar!! Só preciso saber o quê dessa vez.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Férias

Olá galera. No momento estou de férias e preparando meu livro e meus dois novos textos teatrais. Em breve, novidades!

Beijos!!!