quarta-feira, 28 de março de 2012

Mais uma dança


Mais uma vez ela é convidada a dançar. E ela sabe: aprendeu!
Quando chegou no salão há um tempo, dois ou três anos, ela mal sabia fazer o dois pra lá e dois pra cá. Mas então, veio o primeiro convite. Um rapaz bonito, alto, branco, olhos claros. Tentador. Alguns pisões no pé aqui, um passo perdido ali, duas músicas foram dançadas e um "foi um prazer dançar com você" encerrou a coreografia. Ainda tem a parte do rapaz saindo sem olhar pra trás e ela pensando: "Ele me usou. Dançou comigo o quanto que quis e depois foi embora."
Mas no outro dia lá estava ela novamente. Loiros, morenos, altos, baixos, barrigudos, bigodudos, feios, bonitos, espíritas, católicos. Todos dançam e vão embora. No máximo, um ou outro paga uma cerveja ou estende a conversa.
Fábio ainda chegou a leva-la em casa, mas não passou disso.
Márcio, bêbado, a beijou mas depois não a procurou mais.
Ela passou dias sem ir ao baile, triste, por não encontrar o par perfeito.
Mas ainda assim, lá está ela, sentada, esperando alguém convida-la. Dia após dia. E sempre consegue.
Hoje ela tem a certeza de que só é convidada pra dançar, porque sabe dançar. Porque aprendeu.
E de uma certa forma, ser usada como acompanhante de alguns pra uma ou duas músicas, é o que ela sabe fazer de melhor.

Elmo.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Enquanto espero a chuva.


*em Maio, estreia o espetáculo infanto-juvenil "enquanto espero a chuva" do qual eu sou ator e dramaturgo. Aqui você confere a sinopse da peça.

A rua das amoreiras é o reduto de cinco crianças: Os irmãos Vicente e Pedro, Ana, Maria e Carlos. É lá onde todas as brincadeiras são possíveis e a alegria não tem hora pra acabar. Mas a hora um dia chega. Após uma trágica enchente, Vicente perde toda sua família, inclusive Pedro. Ele então é obrigado a ir morar com o padrinho e perde contato com seus grandes amigos. Indo parar no interior da Bahia, ele se vê oprimido pela mulher do seu padrinho, que não o deixa chorar pela falta dos pais dizendo sempre que homem não chora. Quando a chuva vem, Vicente se sente aliviado. Pode chorar, pois suas lágrimas se misturam a chuva e assim ninguém percebe seu pranto. A chuva que levou sua familia é também o consolo para seus dias tristes. Prestes a reencontrar seus amigos, ele foge. E é no caminho, que histórias de vida se encontram, mostrando que jamais uma verdadeira história de amor e amizade, tem um fim.

Elmo Ferrér.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Tolo paciente.


Lágrimas nos olhos. Ele espera que o amor venha novamente.
Espera sentado, em um banco de praça. Em uma fria manhã de Dezembro.
(...)
Quando as feridas estavam quase cicatrizadas, ele as mostrou. Sabia que não podia tirar o curativo, mas acreditou nas palavras do curandeiro que prometeu: iria cuidar das feridas. Em pouco tempo, seu coração estaria novo, pronto para amar novamente.
Balela. Curandeiro, coração, tudo uma farsa.
Coração ainda estava com feridas abertas. Curandeiro, com feridas passadas.
Feridas passadas que procurou passar. Uma maneira de aliviar, de transmitir, de pagar o mal com o mal.
Mais uma vez,  o tolo paciente acreditou e deu seu coração a sacrifício.
Pagou pra ver e mais uma vez... sofreu por amor.
O diagnóstico do cardiologista foi preciso. Era preciso arranca-lo e deixa-lo numa caixa com gelo por algum tempo, até que pudesse realmente se recompor.
E agora? O tolo paciente viveria sem coração por um bom tempo? E os amores próximos? Como amar sem coração?
Passou a amar com o cérebro. Passou a amar com a razão. A razão que fez com que amasse não amando. Com que quisesse e não querendo querer. Que se desse pela metade, sem esperanças, sem expectativas.
Um dia, o coração sairá da caixa de gelo, para voltar ao tolo paciente e para reaprender a bater dentro de um corpo. Até que venham as próximas feridas!

O diário de Mr. Jones.

Mr. Jones é um escritor atrapalhado que vive metendo os pés pelas mãos.
Todos os dias, ele postará seus pensamentos aqui.
Tive que emprestar um espaço a ele só para ele ir embora... não aguentava mais!

Elmo.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Filme barato.



E quando eu vi, já era amor!
E quando eu vi, já era um filme.
Um ser humano se desdobrando para amar e ser amado, passando por tolo.
Um ator que não sabia o que iria acontecer. Roteiro improvisado.
Da poltrona cômoda, você assistia a tudo. O drama era comédia.
E o meu amor foi virando uma loucura.
Loucura pra quem via. Realidade pra quem vivia.
E o amor virou monólogo, monótono.
E aos poucos, o sentimento foi de desintegrando...
E aos poucos, o filme vai sendo assistido em uma sala escura pra meia dúzia de pessoas.
Que esperam a próxima sessão sem saber que, o ator principal fez seu último e doloroso filme... de amor!

Elmo.

sábado, 3 de março de 2012

Dói.

Dói demais pensar em como tudo foi rápido e intenso. Rápido pra você, intenso pra mim.
Dói pensar que neste momento em que encharco meu travesseiro, você já esta em outros braços. Porque pra mim, ainda não terminou.
Não entrei por essa porta, enfrentei um turbilhão de emoções e julgamentos, para sair de uma hora pra outra. Eu quis entrar. Eu quis estar nessa casa, nesse quarto, nessa vida a dois, nesse monólogo que foi estar contigo.
As paredes que  aguentaram meus socos de ira, que sustentaram nossos corpos numa daquelas atrações selvagens... as paredes parecem se desmoronar a cada instante.
Esse jardim... por que está tão seco? Você não tem cuidado?
Se eu ainda estivesse aqui, poderia curar as suas feridas...cuidar das flores.
Doí...!
Pensar que enquanto ando só por essa rua esburacada, nossa cama serve de podium para o seu mais novo troféu.
Eu sento num meio fio qualquer para esperar a dor passar. Eu sei, ela estará de volta daqui há alguns segundos. Eu sei, estou me enganando, achando que passa de vez em quando. Não passa!
A dor não passa.
Por mais que vá embora alguns detalhes de tudo que fomos.
Por mais que o seu cheiro não esteja mais em mim.
A dor não passa. A doença não cura.
Dói pensar que o vazio que sinto só pode ser preenchido por você.
Que esse alimento que sacia minha fome também é o meu veneno.
É o que me mata lentamente e me tira o prazer cotidiano.
Doí. Olhar pra trás e ver tudo o que eu fui um dia, antes de te conhecer.
Olhar pra trás e ver tudo o que fui com você; um nada.
Tudo o que sou sem você ;um nada.
Tudo que sou pra você ; um nada.
Dói!

Dúbias dúvidas.

Será que o melhor é desistir?Aceitar que simplesmente não dá e que a vida prepara coisas boas para uns e para outros ela simplesmente não prepara nada?
Será que estou nadando contra a corrente, acreditando no inacreditável, vendo luz onde não existe frestas?
Será que me engano o tempo todo achando que sou forte e capaz, quando na verdade, sou apenas aquilo que eu e ninguém mais, pode ver?
Será que o melhor seja admitir que uns passam por provações pra no fim, receberem a felicidade, enquanto outros passam por provações apenas para perceberem que a sua vida se resume apenas a isso? Sofrer por sofrer...?



Elmo Ferrér

O sonho.

‎"Hoje eu queria te olhar nos olhos e te dizer que mais uma vez sonhei contigo. E que foi um sonho bom, como todos que tenho, como tudo o que lembro.
Me deu saudade da época em que éramos um, de nossas brincadeiras bobas, nossas danças loucas no meio da sala, nosso sexo em todos os cantos da casa. Nosso louco amor.
Somos tão parecidos, nos completamos de tantas formas, que foi difícil reconhecer o quanto eu te amava, por que por muitas vezes, te ver, era me ver. E por muitas vezes eu apenas me enxerguei em você, o que me fez ver o quanto você é perfeitamente imperfeita.
Talvez, eu deveria pedir pro tempo voltar e pras nossas horas serem eternas e eu pudesse reparar todas as falhas, tampar todas as rachaduras, te beijar mais, te abraçar mais, dizer mais "te amo", dançar mais com você sem se preocupar com o resto do mundo.
Mas eu entendo...! Existem coisas que não voltam e se voltam, reaparecem modificadas, esculpidas pelo tempo e pelas dores.
Hoje somos duas pessoas completamente diferentes e iguais ao que fomos um dia. Os olhos continuam sendo os mesmos, mesmo que mude o brilho.
A boca continua a ser a mesma, mesmo que mudem as palavras.
O coração continua sendo o mesmo e, o sentimento dentro dele,também. Mesmo que amortecidos pelo tempo."

Elmo Ferrér