terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O homem.

Ele entrou na vida dele de maneira singular.
Entrou munido de palavras e gestos de amor.
Entrou lambendo as feridas, enxugando lágrimas.
Ele então imperfeito, cobrou perfeição dele.
Disse que não tinha voz, gestos, corpo de homem.
Humilhou, denegriu, excluiu.
Sumiu...
O tempo, senhor de tudo, mostrou a verdade.
Ele tinha corpo de homem e cabeça de moleque.
E dele, de quem disse que era menino, encontrou cabeça de homem.
Um homem que encontrou outro homem, de verdade.
Um homem que não exclui por ser diferente, que ensina a ser de verdade.
Um homem que sabe reconhecer que nem só de qualidades vive o homem.
Um homem, de verdade, um homem, na verdade, o homem, que ele jamais pôde ser.

E.F

Resquícios.

Tudo isso me modificou e o inevitável aconteceu.
Meu corpo e minha alma não andam mais juntos,
meu ser se olha no espelho e não se reconhece.
As batidas deixaram sequelas, talvez difíceis de cicatrizar.
Os que vem a mim, recebem o meu pior, não sei onde está o melhor.
Se foi com as falsas promessas.
Estão no meu travesseiro, na toalha de papel.
Desceu pelo ralo da pia.
Se perdeu no pensamento vazio.
Se foi... a esperança, as palavras, o olhar doce.
Se foi você, se foi...

E.F



domingo, 19 de fevereiro de 2012

O reclame.



O garoto perfeito também chora. E melhor: ele é imperfeito e faz questão de mostrar suas imperfeições.
Não gosto de mostrar fraqueza, não quero que o inimigo descubra meu ponto fraco, se bem que nem eu mesmo o conheço bem, pois, sempre que acredito que tenho um ponto fraco, sempre aparece um outro ponto fraco para me mostrar que aquele ponto ainda é forte, ainda se mantém forte, apesar dos pesares.
Toda essa pompa colocada em cima das pessoas bonitas e bem vestidas me incomoda profundamente, porque eu sei o que tenho guardado na minha máquina registradora cinzenta. E são coisas valiosas, mas que sempre serão deixadas de lado, trocadas por corpo, beleza e status. Não ousem discordar de mim, sei muito bem o que estou falando e você também.
Não é difícil saber o porquê da minha indagação. Nunca, jamais, em hipótese alguma, o público vai aos confins de um teatro de bolso assistir um espetáculo dirigido e escrito por um jovem brilhante, cuja idéias ainda não foram descobertas. Nunca o público descerá ao sub mundo dos talentos indescobertos se ele pode ter a miserável segunda opção de ir ver um espetáculo onde o elenco inclui globais, ex-realits ou é dirigido por diretores famosos que não fazem nada além de maquiar aquilo que já fizeram ou que já foi feito por alguém, mas, que pelo nome e toda pompa que envolve, leva milhares e milhares de espectadores ao teatro para ver o batido com cara de novo.
Enquanto isso, um jovem cheio de idéias agradece o encontro das palmas de seis ou sete pessoas que entram no teatro pequeno para ver o grande.
De um lado, os pequenos que vêem o grande. Do outro, o pequeno que é visto pelos grandes como grande.
Lendo uma reportagem sobre o Stven Jobs, eu fiquei encantado pela maneira que ele conseguiu, aos 24 anos de idade, fundar uma empresa e ser bem sucedido e mesmo com as quedas, conseguir se reerguer e ser mais brilhante do que já era, do que pensavam que podia ser. Simples: Jobs veio de uma época onde o talento era realmente necessário, onde você era reconhecido por saber fazer e bem recompensado por isso. Hoje é completamente o oposto. Parece que quanto mais você sabe fazer, menos você é recompensado financeiramente por isso. E não é difícil entender minha colocação: Uma jovem é hostilizada numa faculdade por usar um vestido curto, outra, glorificada por que mora no Canadá, outra por que ganha um programa de TV e por ai vai. Em menos de um mês, estão ganhando o que um excelente artista ou professor ganha em um ano. Então você vem e me diz: - Ah, mas o sucesso delas é passageiro. Sim. Mas a questão levantada aqui não é o sucesso e sim, o reconhecimento. Muitas vezes essas pessoas são mais reconhecidas como profissionais do que quem investiu a vida inteira para ser o melhor. Voltamos na questão do sucesso passageiro... e também voltamos lá em cima, no começo deste texto, no jovem sonhador que luta para levar uma peça ao palco com seus próprios recursos em um teatro de bolso e de uma celebridade instantânea que estréia em uma sala de teatro glamorosa do outro lado da cidade.   Isso não é passageiro. A peça que o jovem montou e que não teve público nem crítica nem nada e que, possivelmente não será mais montada, não é passageira. Ela ainda será o motivo de muitas indagações deste jovem sobre suas perspectivas de futuro. Ela ainda será o motivo da discordância familiar a cerca de suas escolhas, ela será ainda, motivo de elogio para os sete espectadores-familiares-amigos- do começo dessa história.
O que falo aqui senhores, é sobre a banalização do talento e a valorização do supérfluo. No fundo, todos criticam as novas celebridades, mas neste momento, um crítico de teatro que poderia estar em um teatro de bolso vendo uma peça feita por um grupo amador, está em uma grande sala acompanhando a desenvoltura de um ator-atriz-modelo-dancarina e ex-alguma coisa, para daqui há uma semana colocar em primeira capa e vender revista.

Elmo Ferrér.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

E o gato borralheiro mais uma vez se apresenta no palco das ilusões...



Mais uma madrugada eu sem saber o que fazer, meio sem rumo, meio sem nexo. Fechar os olhos e encostar a cabeça no travesseiro parece uma solução, mas ao mesmo tempo, se transforma em dúvida, do não saber se, ao fechar os olhos, eles se abrirão novamente.
Na verdade, me sinto de olhos fechados há muito tempo. Olhos fechados para a realidade que esta a minha frente e eu, meio “belo adormecido” não consigo, ou não quero acreditar.
O que me tira o sono a cada dia, é a idéia ou conclusão de que, o mundo ainda é extremamente pequeno para mim e ao mesmo tempo muito grande, cheio de possibilidades e coisas, lugares a ser explorado. Talvez o meu lugar seja pequeno, a minha casa, a minha cidade, o meu corpo.
Mas a idéia de que posso ir muito mais longe do que estou, essa sim, é a grande causadora das minhas insônias. Não me conformo em estar aqui as 01:00hs da madrugada deitado em uma cama... eu podia estar criando, explorando, descobrindo esse mundo pequeno-grande.
Essa insatisfação ora é boa ora é ruim, porque tem o poder  de me fazer crescer ou acordar para o fato de que talvez não haja crescimento, talvez eu não seja tão bom quanto penso e o mundo já tenha percebido isso, menos eu. Talvez eu não escreva assim tão bem, afinal, existe tanta gente escrevendo neste país, no mundo, quem dará foco a um rapaz escondido nos confins do centro oeste? Numa cidade que teria tudo para ser um grande pólo de cultura mas caminha rapidamente para o ostracismo cultural?
Quem sou para querer chegar mais longe do que posso, contrariando toda a profecia de vida lida e relida para mim por toda a vida pela minha família?
Bem, eu respondo. Meu nome é Elmo de Almeida. Eu sei quem sou e sei onde quero chegar e sei que esse é o meu grande dilema. Eu sei onde quero chegar, sei por qual estrada seguir, mas parece que as pedras e as cercas que atravancam este caminho ganham força a medida que caminho e uma força inexplicável, um vento forte desfavorável, me faz sempre recuar para trás, me levando e me colocando em um espaço onde não quero estar. Onde não quero ficar.
A vida é dura. É difícil ser árvore quando você nasceu para ser mar.

Elmo Ferrér

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Monólogo da atriz narcisista.


*conto em duas partes

Por: Elmo Ferrér

(...)

Palmas. As cortinas se fecham e Elizabeth vai pro seu camarim. Tranca-se, solitária. Em frente ao imenso espelho, começa a tirar o figurino de sua personagem e em seguida a maquiagem.
- Senhora Elizabeth. Tem um fã querendo cumprimenta-la.- disse um dos contra-regra.
- Diga a ele que espere. Sabe que não falo com ninguém enquanto estou na personagem.
- Disse que é jornalista, não pode esperar muito.
- Tudo bem, mande-o entrar.
Ela ponhe agilmente um roupão e senta-se em sua cadeira negra, com ar de diva.
- Elizabeth Montevidell?- disse o jornalista apenas com a cabeça para dentro do camarim.
- Entre!
- Meu nome é Carlos Arantes, sou do "Diário de Notícias".
- Sim, sei bem quem é você. O crítico de teatro. Assistiu ao espetáculo?
- Certamente. Gostaria de entrevista-la, é possível?
- Não gosto de dar entrevistas, mas abrirei uma exceção para o senhor.
- Acho que é importante porque o seu espetáculo não esta sendo muito assistido e...
- Veio me dizer o que já sei?- disse, seca.
- Bem. Ao que a senhora credita a falta de público no seu espetáculo?
- A falta de cultura desse povo que só se preocupa com realit show e cultura pobre, em massa.
- Bem, mas bem sabemos que existem outros espetáculos pela cidade e, em sua maioria, bem vistos e aplaudidos por público e crítica.
- Normal! Os outros espetáculos tem em seu elenco celebridades da tv. Pessoas que nem sequer sabem o que é teatro e fazem peça para se auto promover. Senhor... o público não aprendeu ainda a assistir aquilo que realmente é bom. Eles querem saber do que é sucesso do momento. Em outras palavras: deem bananas aos macacos, se é isso que eles querem!- ela se vira para o espelho e continua a tirar a maquiagem.
- A senhora não acha que pode ser pelo fato da senhora não fazer mais sucesso e não ser chamada para mais nenhuma novela, filme, seriado e programas de tv? Existem boatos de que a senhora aceitou fazer esse espetáculo porque esta em fim de carreira.
Ela vira rapidamente.
- O senhor veio aqui para me afrontar? Me difamar? Ponha-se daqui pra fora!- ela se levanta e sai. Ele vai atrás, pelo corredor.
- Mas, senhora... não digo nenhuma mentira. Quem assistiu ao espetáculo, isso é, as nove pessoas, dez comigo, percebeu que a senhora já não está mais em condições de estar nos palcos.
Ela para, vira-se e olha profundamente nos olhos do jornalista.
- Quem pode dizer sobre minhas condições sou eu, seu "jornalistazinho" de jornal de limpar a bunda. O senhor, como as outras nove pessoas que estavam na plateia vieram aqui para tripudiar, para assistir meu espetáculo e depois sair por ai falando mal. O que vai ajudar a vender muito jornal e render quem sabe um aumento para o senhor, não é? Esse tipo de imprensa marrom não me interessa. Quem entende de arte, de teatro, sabe que o espetáculo é primoroso.
- Mas não estou dizendo que o espetáculo não seja primoroso. O texto é muito bem escrito e a direção é muito sinuosa, um belo casamento estético principalmente. Os outros atores também estão muito bem. Mas sinto dizer que talvez a falta de sucesso desse espetáculo deve-se a senhora. Uma atriz conhecida por não ser muito popular, que teve sua boa fase nos anos 80 até meados dos anos 90, mas que hoje, não é ninguém.
Ela lhe dá um tapa na face.
- Ponha-se daqui pra fora. Idiota!
- Pode saber que tudo que aconteceu neste corredor será colocado em primeira página.
- Dane-se! Aproveite e convide os seus poucos leitores para assistirem o espetáculo de amanhã.
Ela dá de costas e entra no camarim. Olha-se no imenso espelho a sua frente e vai até ele, devagar.
- Quem já foi rainha, nunca perde a majestade. Esses abutres verão que o show não acabou. Ninguém vai sair por ai falando de mim. Eu sou uma diva! Uma das melhores atrizes que esse país já teve. Não posso ser humilhada dessa maneira, servir de pano de fundo para texto, direção e pra esses "atorezinhos" de merda que dividem o palco comigo. O público gosta mesmo é de um bom circo! Esperem o próximo espetáculo.

continua...