terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A memória póstuma.



Mais um fim de tarde de inverno.
O casal de oitenta anos senta-se embaixo da árvore sem folhas.
Assim fazem, ha mais de sessenta anos.
Assim faz ela, ha mais de cinco anos.
Ele reclama dos flocos de neve que insistem em cair em seu casaco.
Ela, sorrir e faz seu crochê.
Ela olha intensamente para o infinito agora.
A imagem: Uma gota de lágrima se trasforma em gelo.
A memória: Uma jovem de vinte anos sendo cortejada na saida da escola.
Uma rosa vermelha dada pelo belo cavalheiro.
O primeiro beijo embaixo daquela árvore.
Os primeiros anos se passando.
As primeiras folhas caindo.
Sem filhos, sem netos, apenas, os dois.
Apenas, amor.
Apenas, o sentar no banquinho ao entardecer.
Ele coloca sua cabeça sobre o colo dela e ela lhe faz cafuné.
Há sessenta anos. Sempre assim.
A imagem: A segunda gota de lágrima se transforma em gelo.
A memória: As palavras de amor ditas do fundo do coração.
Os passeios no bosque.
As tardes de frio em frente a lareira.
Mais um entardecer embaixo daquela árvore.
As rugas, as folhas.
A idade passando, a árvore perdendo folhas.
A imagem: Uma senhora sentada no banquinho conversando sozinha.
A memória: As conversas de fim de tarde.
As folhas caindo, o tempo passando.
A vontade: Tê-lo ali.
A memória: Ausência.


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