terça-feira, 27 de dezembro de 2011

De mãos dadas.


A figura do menino solitário que todos os dias, sentava-se para olhar o mar, não pode mais ser vista por aqueles que o observavam pensando: - o que pensa esse menino?
Ele agora corre livre. As tristezas e angústias do sairam do se coração, para que o amor pudesse ocupa-lo. O que é seu lugar por direito.
Quando sentava-se em frente ao mar, o menino deixava suas lágrimas ali, misturando-se com as dele.
No seu pensamento, o porque de haver tanto amor dentro de si e não ter para quem entrega-lo.
O porque de haver tanto amor e não receber.
O porque de apenas querer amar e ser amado.
Hoje, é possível ver esse menino correndo livremente pela praia com o sonho que virou realidade.
É possível ver esse menino, brincando no mar com o sonho que virou realidade.
Esse menino finalmente encontrou o amor e com ele, caminha de mãos dadas em busca de uma construção.
Esses meninos, andam lado a lado buscando um só propósito. Se amarem eternamente.
Num fim de tarde, o menino sobe na pedra que muitas vezes fora seu lugar de meditação. Olha para baixo e vê o mar revolto. É... as suas lágrimas estão lá, brincando de vai e vem junto com as ondas. Elas jamais voltarão para ele.
O amor caminha de mãos dadas pela praia. As ondas que vem, molham os seus pés. As lágrimas ali contidas ou são sugadas pela areia ou são levadas de volta.
Dos seus olhos, apenas lágrimas de felicidade cairão.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O amigo oculto.

Em uma empresa de Telemarketing qualquer, é dia de confraternização de fim de ano. E é claro, não poderia faltar o símbolo máximo da falsidade universal: O amigo oculto.

MARTA- Bem, o ano está acabando e eu gostaria de dizer que a nossa empresa está muito, muito, muito satisfeita com o desempenho de vocês. A nossa equipe foi diminuindo, diminuindo, diminuindo, até ficar vocês seis. E é bom saber que vocês foram determinados e guerreiros, para continuar vestindo a camisa dessa empresa durante todo esse tempo.

Pensamento:

VAL- Agüentei por que tenho dois filhos para criar.

PEDRO- Vaca...se você soubesse que eu contribui para que todos saíssem fazendo fofocas pelo corredor.

ANA- Eu só tô aqui até aparecer algo melhor.

SÉRGIO- Quando eu fizer seis meses nessa merda tento fazer um acordo para eles me mandarem embora, só para receber o seguro.

DIRA- Tive que ter um filho atrás do outro para segurar esse emprego. Se eu não tivesse grávida já tinha sido mandada embora.

ZECA- Vestir a camisa? Nem uniforme eles nos dão de tão mãos de vaca que são.

Todos sorriem falsamente.

Ação:

MARTA- Bem, o natal é uma época de união ,de amor e paz e por isso estamos aqui reunidos para o nosso tradicional amigo oculto (riso falso). Então, vamos começar equipe? Quem quer começar?

Silêncio.

MARTA- Bem... então, eu começo. Então... o meu amigo oculto é alto, não tem dentes e é careca....! Quem será? Quem será?

Todos se olham com cara de tédio.

MARTA- Ah gente, era só uma brincadeirinha... vocês sabem que amigo oculto é sempre assim. A gente fala o contrário do que a pessoa é...!

Todos continuam com olhar de tédio.

MARTHA- Hãããã, então. O meu amigo oculto é determinado, pontual e bate todas as metas do dia. Ele é o....o.... Pedro!

Todos batem uma palma. Os dois dão um abraço frio.

Pensamento:

PEDRO- Galinha velha. Vive me metendo pressão para bater essas porra dessas metas. Vive dizendo que eu vou ser demitido. Desejo tudo que não presta para você.

MARTA- Não faz mais que a obrigação.

Ação:

PEDRO- Pô Marta, obrigado. Eu... amo essa empresa e tenho prazer em acordar de manhã para vir pra cá. Te adoro e você sabe e todas as vezes que eu falei mal de você aqui dentro é por que a gente sempre implica com quem a gente ama.

Pensamento de todos:

- Puxa saco, filho da p...!

MARTA- Eu sei que não há mágoas querido, eu sei. Abre o presente.

PEDRO- Nossa... um vidro de álcool gel.. não precisava.

MARTA- Precisava querido por que sempre que você vai ao banheiro não lavas as mãos que eu seEi! (risinho)

PEDRO- Obrigado. Bem, meu amigo oculto na verdade não é amigo e sim, uma inimiga declarada. É a pessoa que menos gosto na empresa, mas, já que tive a infelicidade de tirar, tenho que agüentar. É a Val.

MARTA- Ai,ai. O Pedro sempre com o seu humor frio. Você não existe.

Todos batem uma palma.

VAL- Bem, obrigada. Eu sei que o Pedro fala isso da boca pra fora por que no fundo ele gosta de mim sim.

Pensamento de todos:

-Ah, não gosta não!

VAL- Então... o que será que eu ganhei? Hum.. um vidro de óleo de peroba!

PEDRO- Para você passar nessa sua cara de pau toda vez que você liga pra empresa dizendo que não virá por que um filho seu está doente, mas na verdade, você está de ressaca!

VAL- Hãããã. Obrigada! Bem, a pessoa que eu tirei vive saindo pra beber água de cinco em cinco minutos e se formos calcular o tempo que ele passa fora do local de trabalho, já dá as férias do mês dele...!

Todos olham para Sérgio.

SÉRGIO- Eu já falei que tenho pedra nos rins e tenho que tomar água toda hora.

VAL- Então... abre o seu presente querido, abre!

SÉRGIO- Uma.. garrafa d’água!

VAL- Exatamente. Seus problemas acabaram.

SÉRGIO- Obrigado Val. Bem, o meu amigo oculto na verdade é uma amiga. É conhecida como Ratinha pelos corredores pela quantidade de filhos que tem... é a Dira.

Pensamento de todos:

- Falou pouco mais falou bonito!

DIRA- Obrigado Sérgio.

SÉRGIO- Não foi nada, eu precisa fazer isso por você.

DIRA- Uma cartela de anticoncepcional...? Obrigada!

SÉRGIO- Nada... e dentro da caixa tem camisinha também. Feminina e masculina.

DIRA- Eh, então. O meu amigo oculto é recém chegado na empresa e é a pessoa que mais tenho afinidade.

Pensamento de todos:

-Ela tá dando pra ele.

DIRA- É o Zeca!

ZECA- Valeu Diraaa! E onde está o meu presente?

DIRA- Então... eu resolvi fazer uma surpresa para todos e principalmente pra você. O seu presente está aqui ó!

Aponta para a barriga.

TODOS- Oh!

ZECA- Eh... ah... que... bom! Você tá grávida? Nossa, que... presente legal!

Pensamento de todos:

- Será que ele vai acreditar que é o pai?

ZECA- Bem... estou até sem palavras agora. Minha amiga oculta é a Ana.

ANA- Valeu Zeca. Bem gente, eu não vou me prolongar muito por que o que eu tenho a dizer é muito breve. A minha amiga oculta é a Marta e eu quero dizer Marta, que você foi o pesadelo de todos nós durante esse ano. Que a sua pressão fez com que eu caísse em depressão e tentasse me matar cinco vezes, mas que graças a Deus você não conseguiu por que o Deus que eu sirvo é maior! Tá aqui o seu presente. É um espelho para que você possa se olhar e ver que você não é perfeita e vive cobrando perfeição dos outros. É isso.

MARTA- Bem... eu sei que você acha que sou a pior pessoa do mundo, mas, gente... tudo o que eu faço é para ver o sucesso da equipe.Mas, não guardarei mágoas querida. Sei que estamos todos sensíveis devido ao espírito do natal. Agora vamos dar um abraço conjunto para demonstrar a força da nossa equipe.

Todos se abraçam por...três segundos.

Pensamento:

MARTA- Tenho que dá um jeito dessa vaca ser demitida.

Ação:

MARTA- Ok, ok, agora todos voltando para o local de trabalho porque não podemos deixar os telefones tocando. Vamos bater a meta do natal gente, não deixa a peteca cair. Vamos, rápido, já perdemos tempo demais.

Todos saem correndo.

MARTA- Ah, pessoal... um feliz natal!

Pensamento de todos:

- Vai se lascar sua p...!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A memória póstuma.



Mais um fim de tarde de inverno.
O casal de oitenta anos senta-se embaixo da árvore sem folhas.
Assim fazem, ha mais de sessenta anos.
Assim faz ela, ha mais de cinco anos.
Ele reclama dos flocos de neve que insistem em cair em seu casaco.
Ela, sorrir e faz seu crochê.
Ela olha intensamente para o infinito agora.
A imagem: Uma gota de lágrima se trasforma em gelo.
A memória: Uma jovem de vinte anos sendo cortejada na saida da escola.
Uma rosa vermelha dada pelo belo cavalheiro.
O primeiro beijo embaixo daquela árvore.
Os primeiros anos se passando.
As primeiras folhas caindo.
Sem filhos, sem netos, apenas, os dois.
Apenas, amor.
Apenas, o sentar no banquinho ao entardecer.
Ele coloca sua cabeça sobre o colo dela e ela lhe faz cafuné.
Há sessenta anos. Sempre assim.
A imagem: A segunda gota de lágrima se transforma em gelo.
A memória: As palavras de amor ditas do fundo do coração.
Os passeios no bosque.
As tardes de frio em frente a lareira.
Mais um entardecer embaixo daquela árvore.
As rugas, as folhas.
A idade passando, a árvore perdendo folhas.
A imagem: Uma senhora sentada no banquinho conversando sozinha.
A memória: As conversas de fim de tarde.
As folhas caindo, o tempo passando.
A vontade: Tê-lo ali.
A memória: Ausência.


Eu, que transformo sentimentos em palavras...



Devo falar que tenho medo?
E esse sentimento vem quando quer e toma conta de mim com tanta força? Amor...
Faz com que eu me sinta pequeno, com que me sinta fraco, sem as rédeas do meu próprio coração.
O que falar de algo que me faz chorar, me faz perder o sono, perder a fome?
O que falar de algo que não me deixa ver o tempo passar e nem saber o lugar que estou?
Devo falar... tenho medo!
Eu quero estar com você , estar em você, ter você.
E você? Me quer contigo?
O que falar de um sentimento que se disfarça?
Que veio há um tempo e me mostrou que não era o que eu pensava e que agora volta com a mesma intensidade?
Devo falar...eu tenho medo.
Tenho medo por que reconheço que o que sinto é amor.
E a incerteza de te ter ja se mistura com a dúvida de te perder.
O medo de perder...
Quantas vezes eu já perdi?
Quantas vezes eu dei meu coração para a pessoa errada?
E o que fazer agora que sei que posso ter a pessoa certa?
Lhe entrego o coração, fraco, frágil, com pequenos buracos?
Me lançar em seus braços, me prender em sua boca?
É tudo que mais quero.
Mas... e ele? E o coração?
Como saber se você vem para ajudar a fechar ou fazer mais um buraco?
Devo falar que tenho medo mas que ao mesmo tenho segurança?
Devo falar que saber que te amo me faz querer acordar?
Eu, que transformo sentimentos em palavras...
Queria te dar todas as palavras em todas as línguas que conheço.
Queria que esse medo não me dominasse.
Queria ainda que a certeza fosse a única coisa que tenho,
como tinha há um tempo atrás.
Você me faz andar na linha entre o amor e a dúvida,
me faz ir na sua direção até mesmo quando eu não quero.
Mas ir na sua direção é o que me faz respirar e ao mesmo tempo me faz perder o ar.
Me mostra que estou certo?
Me pega no colo e diz que agora estou seguro?
Com você ao meu lado, mesmo longe, não devo falar que tenho medo.
Devo falar que te amo, mesmo que o medo de falar te amo esteja aqui.
Esse é mais um poema falando de você, falando para você,
dizendo que estou aqui, tentando juntar os pedaços do que sobrou de mim
para te dar...
da maneira mais pura, mais sincera e mais sensível que posso.
Apesar do medíocre medo...!

A dança dos quatro ventos. Capítulo II- A adorável desconhecida.


(...)

O olhar penetrante daquela mulher deixou Gaudêncio impressionado. Era capaz de ver o mundo através dos olhos dela. Por um instante, o tempo parou, tudo estatizou e em meio a grande poeira, as silhuetas dos dois pareciam uma miragem.

A desconhecida levanta a garrafa e com ar provocativo, arqueia a sobrancelha direita e da um sorriso de canto de boca. Bate com o pé esquerdo no chão e um tango triste começa a tocar. A mulher dança graciosamente, parece levitar pelo espaço. Gaudêncio tenta manifestar alguma reação, mas mal consegue se mexer tamanho o seu encantamento.

Ao mesmo tempo que se deixava enfeitiçar pela graça daquela adorável desconhecida, algo dentro dele lhe pedia para tomar cuidado. Os seus olhos se alternavam entre os olhos, o corpo e a mão dela, que segurava a garrafa com graciosidade. Até então, a arte de colher ventos e guardar em garrafas era apenas sua e do seu avô. Como será que aquela mulher descobriu o ponto onde a estrada se divide? Como ela sabe da dança dos quatro ventos? Quantos ventos ela já colheu?

A música para, os ventos voltam a dançar furiosamente. Os cabelos da mulher batem em seu rosto, deixando a mostra apenas metade do mesmo. Com os olhos semi fechados devido à poeira, ele a encara profundamente, numa distância de dois metros.

- Quem é você? –disse ele.

Ela deu uma longa gargalhada, passou as mãos pelos cabelos e se aproximou. Gaudêncio não podia negar que aquela mulher era extremamente apaixonante. Como uma espécie de feitiçaria, os olhos dele não conseguem se desviar dos dela. Com os cabelos dançando com os ventos, ela para alguns centímetros a sua frente.

- Por que você quer saber? – disse.

- Você sabia que esse lugar é meu e do meu avô? Que a arte de colher ventos é apenas nossa? Quem te autorizou a invadir o meu território?- a voz dele estava trêmula.

- Está nervoso meu rapaz? Calma. Não vim invadir o seu espaço nem roubar o que é seu, vim aqui apenas pegar o que é meu.

- E o que é seu?

- É isso que pretendo descobrir. Quem sabe se o que entrar nessa garrafa passe a ser meu à medida que me identifique com o que colhi?

- Você colhe ventos a quanto tempo?

- Depende. O tempo que para mim pode ser muito para você pode ser quase nada. Eu colho ventos por que procuro uma história em especial. Já você...

- Eu colho por que gosto de ouvir o que eles tem para me contar.

- Não! Você os colhe por que não tem história própria . Porque não tem identidade. Porque para você é mais fácil colher histórias que plantar as próprias. Desde que você aprendeu a colher vento, você esqueceu do principal: construir a sua vida, a sua história.

- E quem você pensa que é para me dizer o que faço ou deixo de fazer? Você nem me conhece.

Ela se aproxima dele e os dois ficam face a face.

- Eu conheço mais você do que você imagina.- ela lhe dá um beijo e os dois dançam em meio ao redemoinho.

Continua...







segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A dança dos quatro ventos. Capítulo I - Colhedor de histórias.



O céu estava repleto de nuvens cinzas, como sempre. Os quatro ventos eram fortes, intensos, como sempre. E era bem ali, onde as quatro estradas se encontravam, que Gaudêncio costumava ficar. No olho do furacão.

Ele sentava-se e admirava os ventos do sul, do norte, do leste e do oeste, dançando a melodia descompassada, repleta de uivos e poeira.

A garrafa, fortemente segura em sua mão esquerda, ainda se encontrava fechada. Havia a hora exata para abri-la.

O que será que os ventos teriam para contar? Quantas histórias, quantas almas viriam com eles?

A silhueta de quatro deuses aparece dançando a ciranda e, é justamente nessa hora, que ele se coloca no meio da roda e abre sua garrafa.

Um grande redemoinho se forma e, domado de uma forma inexplicável, o vento entra na garrafa. Eis mais uma história.

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Gaudêncio tem 30 anos e desde pequeno, ouve seu avô dizer que costuma colher ventos. Aos 12, foi levado por ele ao centro de tudo, uma estrada comum que, em um dia especial, na 2ª segunda-feira do mês, quando as nuvens cobrem o sol e tomam conta do céu, ela se divide em quatro. São quatro destinos diferentes. Nesse dia, pode-se ver viajantes de todos os lugares do mundo, seguindo em cortejo para o lugar onde vão todas as almas. Cada alma que passa, conta histórias que os ventos embalam e transformam em música. E são essas músicas que os quatro ventos dançam.

Seu avô era tido como louco por todos, que diziam que isso era impossível. Ele mesmo, já levou muita gente na estrada, mas ninguém pôde ver nada. Gaudêncio, como grande herdeiro, só não via como também aprendeu a colher vento e ouvir as histórias das almas.

Ele estava lá quando a alma de seu pai seguiu para a estrada que dava pro Norte. Foi ele quem indicou a direção também para alma da sua mãe encontrar a do seu pai. E, há pouco tempo, a do seu avô seguiu para o leste, onde vão as almas mais velhas.

Contando com a última que pegou, já são cinqüenta e sete garrafas, enfileiradas em estantes no quartinho dos fundos, feito de taipa, construído por seu avô. Antes dessas cinqüenta e sete, já passaram por lá mais de mil. Mas, sempre que seu avô ouvia a história dos ventos, ele os libertava no monte das árvores secas, a poucos metros de sua cabana.

Todas as histórias que ouve, estão escritas em um caderno velho que Gaudêncio ganhou do seu avô. Um caderno tão velho quanto ele. E enorme, com tantas folhas impossíveis de contar.

Em busca de uma nova história, lá foi ele mais uma vez colher vento. Pegou o seu cavalo e com a garrafa presa na cintura, correu para o meio do redemoinho.

Os uivos começaram devagar, como sempre. Almas começam a viajar por entre as estradas e a dança começa a tomar passo. Mas eis, que no meio daquela ventania, uma silhueta lhe chama a atenção. Cabelos negros voam pelo espaço. Um vestido vermelho dança. Seria ela mais uma alma? Que história teria para contar?

Aos poucos ele vai se aproximando. Uma mulher branca, de cabelos negros e vestido vermelho dança no meio dos quatro ventos. E em sua mão, uma garrafa.

Continua...

La tempête.



Você percebeu...
A água do mar é salgada.
As lágrimas, também.
Todo dia eu vou lá.
Sento na pedra que marcou o nosso primeiro encontro.
Deixo cair minhas lágrimas no mar.
Deixo o mar um pouco mais salgado.
Deixo minha saudade sair pelos olhos.
Os meus braços me envolvem como que envolvendo os seus. E eu beijo as costas da mãos procurando por seus lábios.
E essa tormenta...vai passar?
Eu passo as mãos pelos meus cabelos como se fossem seus.
Eu acaricio meu rosto como se fosse o seu.
Eu sou seu.
Somos tanto um do outro que me tocar é te tocar.
É tentar te sentir e esqueçer a falta que você faz.
Como se isso fosse possível.
Olha o tamanho do mar...
Olha o tamanho da minha saudade...
Olha quantas lágrimas...

Elmo Ferrér

O deus.



“Era noite. Fátima, já no seu nono mês de gestação, contempla as estrelas na varanda de casa. Ela contou: haviam sete. Uma, a mais brilhante, cai do céu e Fátima sente a primeira contração. Sim, a estrela mais brilhante cai no sertão e cede espaço para uma ainda mais forte e vigorosa. Um deus vem ao mundo.”

Nossa história começa em Belém. Não...! Não a Belém que todos conhecem. Essa Belém é “Belém do passa quatro”, interior do Brasil.

Todos dançam alegremente comemorando a chegada do menino. Sua mãe, Fátima, não recebeu o anuncio de gravidez através de um anjo, muito pelo contrário, descobriu que estava grávida sozinha. E também não contou com a ajuda de um anjo para contar ao seu marido, contou sozinha. E este, deu no pé e a deixou... sozinha.

Talvez a única coisa que temos nessa história que pode ser comparada a outra seja a estrela. Essa não mostrou o caminho, apenas caiu e um bebê nasceu.

Aquele povo de Belém, acostumado com a tristeza e com as promessas de uma vida melhor jamais esquece o ocorrido. Uma noite linda, para ficar na história. Todo o vilarejo se cobriu de flores que caiam de todas as partes e, na casa de Fátima, luzes dançavam alegremente. Foi então que três sertanejos apareceram para contemplar o menino e um deles disse:

- Esse não é um menino comum. Ele veio ao mundo com a missão de fazer a todos felizes. Ele veio com o dom do sorriso!

Ronaldo foi o nome escolhido para ele. O nome que pertenceu ao seu avô e ao seu pai.

A partir daquele dia, sorrisos tomavam conta dos rostos de todos. Não havia mais seca e nem tristeza naquele lugar.

Era impressionante, mas o menino brilhava. Era um brilho único, brilho de estrela. E desde pequeno, Ronaldo gostava de contar histórias, imitar as pessoas do vilarejo, se enfeitar, pintar a cara e fazer rir. Esse dom de transformação era admirável.

A felicidade perdurou naquele lugar por mais de vinte anos.

Mas, um deus não vem ao mundo para servir a um só povo e as angustias de Ronaldo começaram a aparecer ainda na adolescência e se fortaleceram conforme a maturidade ia chegando. A vontade de ser bem maior do que poderia era gritante.

Sua mãe não entendia, afinal, o que podia faltar a um menino que nasceu abençoado e com um dom capaz de modificar todo um lugar?

Ele também não entendia e foi por isso que naquela tarde, resolveu subir ao monte para pensar. Foi então, que lhe apareceu a figura de um palhaço.

- Ei! Onde está o sorriso do deus da alegria? - disse o velho palhaço olhando-o nos olhos.

- Esta lá. Estampado na cara de todos.- ele falou, deixando que uma pequena lágrima caísse.

O palhaço a segurou antes da mesma chegar ao chão.

- Guarde-a! Deixe para usá-la no momento que mais precisar. Quando ela for realmente necessária. E olha que talvez nem seja você quem a use.

- Como assim?

- Cada coisa que habita em você, pertence a um ser que também habita o mesmo espaço. Você tem milhares de criaturas habitando o seu interior rapaz. Poderíamos chamá-los de personagens. São inúmeros.

- E são grandes?

- Você os faz se tornarem grandes ou pequenos. Você tem esse poder. Veja!

O velho palhaço tira de uma bolsa de retalhos uma pequena caixa, que, ao abrir, se transforma em um pequeno palco.

- Eu conheço esse lugar. Já sonhei com ele. – disse Ronaldo com os olhos brilhantes.

- Sim. Esse é o seu verdadeiro lar. É aqui, onde todos os seus “eus” irão se encontrar. E você acha que todos que estão ali naquela vila já viram tudo, já sorriam e já te amaram o suficiente? Não rapaz... há muito ainda a se descobrir. Por mais que seja duvidosa a caminhada e por mais que o caminho a seguir não seja fácil, você tem uma missão e deve cumpri-la. Uma estátua de pedra te espera de braços abertos e você deve ir ao seu encontro.

- Mas... e minha mãe? E todos?

- Não há como fugir de quem você é rapaz. Não há como fugir de sua verdadeira missão. Aqui você nasceu, mas o seu destino está bem longe desse lugar. Você nasceu para levar alegria para todos os povos. Para ser grande, tão grande, que todos, em todos os lugares, poderão te ver. Toma!

O palhaço retira seu nariz e o entrega.

- Quando precisar, é só usá-la. Essa é menor máscara do mundo, mas que se torna grande através da mágica que provoca nas pessoas. Agora, olhe para frente. Vê o sol? É pra lá que deve seguir.

O velho palhaço sumiu sem que Ronaldo percebesse. Os seus olhos estavam ali, focados no sol.

O sino da igreja badalou três vezes. Fátima, da janela de casa, viu o filho, montado em um cavalo branco, se despedir de toda a população. Por mais que ela não entendesse, sabia que não criara o filho para viver apenas naquele lugar. No seu olhar marejado, esperança de felicidade para seu tão querido filho.

As flores que cobriram a vila no dia do seu nascimento, voltaram a cair.

A silhueta do rapaz em seu cavalo foi sumindo dos olhares de adeus de todos ali presentes. Daquele momento em diante, uma nova história começa na vida daquele jovem deus. A partir de agora, sua história passará a ser contada através de cada aplauso recebido.

Evoé!



A dança dos quatro ventos.


" Folhas secas e folhas das cartas que escrevi para Maria faziam um grande redemoinho.Eu pude ver os quatro ventos dançando. Eu pude ouvir o uivo que mais pareciam risadas. Eu pude ver minha própria sorte sendo lançada. Coisas que vivi, vi e senti. Coisas que só eu sei o que são e o quanto me modificaram."

A partir de amanhã, "Os quatro ventos", conto em três capítulos.

Ei, menina!


"-Ei, menina! O que tem nessa caixa?
- Tudo o que eu sou.
- Posso ver?
- Pode!
- Mas... não tem nada.
- Nada que seus olhos possam ver. Tudo o que vejo e que é invisível aos olhos."

Um dia eu vi você correndo por aquela plantação de rosas.
Eu tive medo dos espinhos te machucarem menina. Mas não, as flores se curvaram para que  você passasse.
Menina... eu te amo!
E os bandolins... somente eu e você ouvimos?
Aquela caixa que você levava nas mãos. Dizia haver todo o seu sentimento.
E havia mais.
Haviam corações, letras, contos, verdades e sorrisos.
Havia a alma protegida que poucos podem enxergar.
Menina... eu te amo!
Como é doce seu sorriso e quantas coisas tu tens guardada.
Coisas que só eu posso ver. Coisas que os anjos vêem. Coisas invisíveis aos olhos.
Ei, menina!
Gosto quando você corre e o vento balança seus cabelos.
Gosto mais ainda quando você sorri.
Como é bom ver suas asas. E como é bom ver o mundo através dos seus olhos.
Menina... eu te amo!
Desejo tanto que você seja feliz que até esqueço de ser.
Quero te protejer e te cobrir nas noites de frio.
Quero te dar um beijo de boa noite e cantar para você dormir.
Quero acompanhar o crescimento das suas asas e poder cuidar de cada pena.
Eu ouço os bandolins quando você corre.
Eu ouço os bandolins quando você fala.
Eu ouço os bandolins quando você sorri.
Menina... eu te amo!
Quero que você seja feliz.
Quero te ver correr e ser a terra fofa para amparar sua queda...
Não quero que se machuque.
Cuidado com a caixa. O mundo está ai dentro, eu posso ver também.
Se você cair, estou aqui para te ajudar a levantar...
Menina... eu te amo!

                                                                                                                                           Elmo Ferrér


Pássaro.



Os meus olhos brilharam ao ver as crianças brincando na rua. Vi isso através da grade. E além da grade, da janela de vidro.
Saudade das minhas asas.
Saudade de pegar minha palha e construir minha casa do meu jeito.
Saudade de voar.
Não tenho forças para cantar. E quando eu canto, é um canto triste.
Uma ópera morta. Um som que vem de uma alma presa, vazia, solitária.
Saudade de quando a gente voava em bando.
E quando o vento batia em minhas penas... era mágico. Era divino.
Ali eu era feliz e não sabia.
Uma pedrada acertou em cheio o meu coração.
Quando vi, já estava preso.
Muitos até pensaram que eu havia morrido.
E realmente, eu morri.
Por que você ter asas e não poder voar, é o mesmo que ter vida e não poder viver.

                                                                                                                                        Elmo Ferrér




Mais um dia...



Eis mais um dia.
Mais um dia de não querer estar aqui, de não querer mais estar em qualquer lugar.
As coisas não se encaixam, as palavras não fazem sentido. Nada faz sentido.
As pessoas são vazias, o mundo,cheio demais.
Querer voar é um pensamento constante.
A forma de conseguir voar é uma tormenta.
As vozes que gritam...meu silêncio pede tempo.
Correr já não mais adianta.
Eu danço, mas a música não me toca mais.
A comida não enche minha barriga, a água não mata minha sede.
Nada mais faz sentido.
Não há sentido em haver mais um dia.

Elmo Ferrér

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Artigo de um escritor que não sabe onde foi parar a felicidade. Por: Mr.Jones

*Mr.Jones, personagem da peça Me &Mr. Jones, de Elmo Ferrér.


Sabe, eu sinceramente cansei de esperar pela felicidade. Já estou me convencendo que ela não virá. Acho que deve ter pego o ônibus errado e descido em outro ponto, onde certamente, deve ter encontrado alguém com o mesmo nome e achado que era eu. Tudo bem. Outros sentimentos desceram no meu ponto e aprendi a conviver com eles. Alguns fingiram tão bem, que eu cheguei a pensar que fosse ela, mas com o tempo fui percebendo que não era e me desfiz, paguei a passagem de ida deles para algum lugar bem longe de mim.


Volta e meia eu vou no ponto de ônibus, só para conferir se ela vai descer. Sei lá, quem sabe não é? As vezes ela se deu conta que estava com a pessoa errada, pegou a lista telefônica, descobriu meu endereço e veio sem avisar. Também acho que ela poderia ter vindo ontem e, como não me encontrou, voltou pra trás. Ou quem sabe ela está vagando por ai, batendo de porta em porta tentando me encontrar?

Também penso, que ela pode ter ido com aquela minha ex, que por muitas vezes acreditei ser o motivo da minha felicidade.

Não. Acho que não.

Bem, tenho aqui comigo, deixa eu ver: a angústia, o arrependimento, a tristeza, a solidão (que mesmo com tantos outros sentimentos para me acompanhar não que ir embora) , a dúvida. Ah, ali encostada na porta, fumando um cigarro, tomando um wisk e rindo da minha cara está a paixão. Disse que ia na semana passada e até agora não foi. O amor disse que ia comprar cigarros e até hoje não voltou. Tudo bem.

É, acho que só falta mesmo a felicidade. O pior é que não consigo substituí-la por nada. Merda. Já fumei, bebi, me droguei, fui em show de stand-up comedy, mas nada a substitui.

A alegria esta aqui, me cobrando por que não falei dela ainda. É que eu não lembrava, afinal, ela some e aparece quando bem quer e ainda por cima tenta me enganar sempre, se fazendo passar pela felicidade.

Acho que vou colocar uma música antiga. Tentar ficar um pouco com as lembranças boas, afinal, as ruins precisam sair de férias. Não, acho melhor não. Vai que elas resolvam ficar mais um tempo, é melhor não pagar para ver.

É... acho que vou esperar mais um pouco. Quem sabe não é? Vou checar meus e-mails para ver se ela não mandou algum sinal...

Tinha um aqui, mas era Spam. Droga!

Sabe de uma, vou dormir. Sonhar. A felicidade sempre está no meu sonho, lá no subconsciente. Se bem que ontem achei que ia sonhar com ela e tive um pesadelo terrível. Mas acho que agora, é o melhor a se fazer.

Mas, faz um favor? Se por um acaso ela bater na sua porta, você pode dar meu endereço? Ah, claro. Você vai achar que ela é sua e ficará com ela.

Então vou dormir e esperar né? Fazer o quê?

Até!

Mr. Jones

A morte e as borboletas.

Eu olhei para você dormindo e dei um sorriso de canto de boca.
Sai pelo imenso jardim para colher as flores que enfeitarão nossa mesa de café da manhã.
Eu arrumei a mesa com todo cuidado. Coloquei aquela toalha com desenhos de borboletas que você tanto gosta...
Borboletas...
Elas voam em cima de você enquanto você dorme. Elas voam pelo imenso jardim. Elas voam em volta da mesa do café.
Eu lhe dou um beijo na face para que você acorde. Mas eu sei... eu sei que não vai acordar.
Deixo a mesa posta e deito ao seu lado. Abraço-te como se esse fosse nosso último abraço.
E as borboletas... elas voam por todo nosso quarto.
Eu sei... elas vieram te buscar.
Fica mais um pouco. Toma seu último café comigo?
As borboletas podem esperar.
Elas bem que podiam me levar...
Amor... como é bom sentir o seu abraço.
Mesmo frio aqueçe meu coração.
Você está aqui. Está?
As borboletas vieram te buscar...
Fique mais um pouco. Até o café esfriar.
Depois você pode me beijar e poderá ir.
Mas antes... meu amor...deixe que eu seja seu mais uma vez.
As borboletas podem esperar. Elas tem a vida inteira para voar...!

Elmo Ferrér

Artigo de um escritor que não acredita na palavra amor. Por: Mr. Jones

* Mr. Jones é um personagem da peça Me and Mr. Jones. A partir de hoje, ele aparecerá por aqui para dar sua opinião ríspida sobre alguns assuntos.

Eu acho tão patético esse termo :“amor”. As pessoas usam isso de uma maneira tão ...descartável. Palavra patética. Não. Não me peça para lhe dizer: - Meu bem, vamos tomar um sorvete. Ou quem sabe: - Mô, quê que você sente por mim? Acho isso tão brega, tão cafona. Esses termos literalmente não servem para mim. Não me vejo dizendo isso em nenhuma hipótese. Não sou contra o amor não, como você já deve está pensando. É que vejo a vida por um ponto de vista mais prático. Pra quê dizer tudo isso se no futuro essas palavrinhas medíocres serão completamente banidas do seu vocabulário? Daqui a uns, sei lá, cinco anos, você mal vai olhar na cara da sua mulher. Seus filhos chatos estarão gritando na sala, vão bater um no outro e depois começar a chorar, enquanto você estará na cozinha tentando trocar o gás, a sua mulher gorda xinga que a panela tava pegando pressão e o feijão vai ficar duro. E então, você olha na cara dela e pensa nas palavrinhas lindas que ela dizia no começo e que hoje, foram substituídas por : Você não tem dinheiro para nada, as crianças precisam de roupa, eu não tenho tempo para arrumar minhas unhas, tô parecendo um monstro - e realmente está, mas você não fala isso para ela pra não piorar a situação- dentre outras coisas que não vale a pena registrar.


Eu sei, você vai ler esse artigo e vai dizer que eu não tenho sensibilidade e que sou pessimista. E sou mesmo. Ah... também, como não? Ora! Não fui criado para esse negócio de amor. Sou fruto da relação daquele casal frustrado do começo da história, que me criaram para ser capitalista, para trabalhar e casar, para viver como eles e ter os filhos que eles tiveram. E eu juro: tentei.

Conheci uma garota a uns dois anos atrás. Foi numa balada que fui meio à contra gosto com o pessoal da faculdade. Sabe, nunca gostei de balada, de agitação, acho isso tão medíocre. As pessoas vão para a balada para tentar arranjar alguém e saem de lá achando que encontraram a pessoa da sua vida. Mal sabem que essa é apenas mais uma balada e que depois virão outras, e outros. Bem, como dizia, conheci uma garota, Andrea. Achei ela bonita , gostosa... – é sempre tudo a mesma coisa- claro, como foi minha primeira vez numa balada, achei o que todos acham, que ela seria a mulher da minha vida. Mas nosso diálogo se restringiu a:

- Qual seu nome?

- Andrea.

- Você vem sempre aqui?

- Sempre!

- E você tem namorado?

- Vamos parar de conversa? Sou puta meu filho. Puta! E ai, vai ou não?

Não, não fui. Quer dizer, fui. Pra casa. Acho que a noite deu o que tinha que dar. No fundo eu queria ter ficado com a Andrea, mas estava duro. É.. eu estava duro e não fiquei com ela. Paciência.

Essa foi a minha última experiência em tentar amar uma mulher. Claro que houve as da infância, adolescência. Mas sempre uma frustração. Sempre fui o patinho feio sabe? Não que deixei de ser, mas hoje, estou mais pra ganso...

Sabe... eu decidi que não preciso de amor para viver. Preciso apenas de um papel e uma caneta, ou uma máquina. Quando quero sexo pago. Quando quero que alguém me escute, escrevo, e ta tudo bem. Sério. Eu sei que você deve estar pensando que eu sou um revoltado. Não sou não, juro. É que vivo na realidade. Existem duas pessoas em mim. A de fora, é essa que você acabara de conhecer. A de dentro, as pessoas só conhecem por pseudônimo. Muitas pessoas se apaixonam pelas minhas histórias e meus personagens e então, supõem que sou um romântico apaixonado. Mal sabe elas que escritores são assim, uma fusão de várias pessoas, vários sentimentos, gênios incompreendidos...

Mas ,continuo na minha teoria, que no fundo também é prática: Não acredito nesse negócio que os homens chamam de amor.

Bem, termino aqui. Tocaram a campanhia, deve ser a Andrea. É ela mesma. Volta e meia a gente se encontra para uma noite de...amor.

Mr. Jones

Saco- diálogo entre dois espermatozóides.

A sirene toca e todos saem em disparada. É um puxando o rabo do outro para conseguir chegar primeiro e coisa e tal.


Ele - Ei, você está muito devagar. Se não correr, não conseguirá chegar nunca.

Ela - Não faço muita questão. Nem sei o que tem lá fora. Vai que eu atravesse a fronteira e não goste?

Ele - Mas essa a vida minha filha. Tem que se atirar mesmo. Entrar de cabeça.O mínimo que pode acontecer é você não conseguir passar e, se passar, não conseguir voltar. Mas tudo bem. A vida é feita de riscos.

Ela - É, mas não estou disposta a correr risco. E outra, eu já sei o que vai acontecer,então, sem expectativas ok?

Ele - Sabe o que vai acontecer? Como assim?

Ela - Como, ”como assim” meu bem? Eu estou aqui há séculos sei muito bem como são as coisas. É por isso que deixei de correr. É uma vida muito incerta. Você já ficou sabendo de alguém que foi e voltou? Não. E tem também aquelas vezes que aquela bola luminosa lá não aparece,o povo corre no maior breu.

Ele - É verdade... sabe que um dia eu cheguei quase lá? Mas só foi o tempo de ver geral caindo no vácuo. Menina, mas eu sofri viu? Quanto mais eu corria pra voltar, mas aquela corrente me puxava e eu ouvia os gritos do povo caindo. Uma coisa. Fiquei traumatizado.

Ela - Tá vendo? Ainda corremos risco de morte.

Ele - Como é seu nome?

Ela - É melhor você correr senão não conseguirá chegar.

Ele - Ah, tudo bem, eu já perdi a corrida mesmo. É melhor ficar e conversar. Não vai me dizer seu nome?

Ela - -procurando disfraçar- Espermatozóida.

Ele - Oi? Eu não ouvi bem.

Ela - Espermatozóida!

Ele - Acho que você poderia falar um pouco mais devagar, eu não entendi muito bem.

Ela - Também, tem alguém ali fora que não para de gritar. Saco! Espermatozóida, pronto! E olha só, antes de você começar a fazer piadinhas sobre meu nome eu vou logo avisando que...

Ele - -interrompendo- Não, não. Relaxa. Eu nunca imaginei que iria encontrar alguém com esse nome.

Ela - Pois é, encontrou. Agora me deixa sozinha por favor.

Ele - Não, você não entendeu. Meu nome é espermatozóide. Eu nunca imaginei que iria encontrar alguém com o mesmo nome que eu...

Ela - Bem, que bom! Assim não pago mico sozinha né?

Ele – Pois é. Eu nem sei por que me colocaram esse nome. Afinal, nem conheço meus pais, não tenho parentes.

Ela- Eu também não. Aliás, você é a primeira pessoa que para pra conversar comigo por mais de dois minutos. Todos estão sempre correndo. HÁ pouco tempo atrás mesmo parou um cara, aliás, muito parecido com você, mas quando a gente ia começar a conversar, a sirene tocou e ele saiu correndo. É sempre assim. Nossos diálogos não passam de:- “Oi, você vem sempre aqui?- E logo saem correndo.

Ele- É verdade. A última pessoa que conversei também foi assim. Saiu para correr e nunca mais voltou.

Ela- É muito difícil criar um vínculo aqui dentro.

Ele- E você vem sempre aqui?

Ela- Ih, lá vem você com esse papo furado de todos. Meu querido, eu moro aqui, assim como você e todos que estão aqui.

Ele- É verdade... Às vezes eu esqueço.

Toca uma sirene.

Ela- De novo? Gente, esse homem não cansa.

Ele- Verdade. O que será que ele faz?

Ela- Ah, isso eu não sei. Ontem, eu sem querer, ouvi alguém falando lá fora : “– Vai, vai. Não para, não para-“ Acho que ele deve ser corredor ou algo assim. Só sei que, seja lá o que ele for, não pode parar jamais.

Ele- Será? Você já ouviu o tanto de grito, uivo, gemido que vem lá de fora? É uma coisa de louco. Boa pessoa ele não deve ser.

Ela- Bem, alguns de nós já quiseram pagar pra ver e o resultado foi trágico. O pior mesmo, é que a galera fica disputando para ver quem chega primeiro, mas o fim é sempre o mesmo. Ninguém volta, os que não conseguem entrar voltam com ar de derrotados, os que conseguem, não ganham nenhum prêmio. É tudo muito incerto. Não dá para arriscar.

Ele- Pois é. eu faço parte do time que nunca consegue chegar nem na metade do caminho. Sabe, eu já estou mesmo é cansado de ficar aqui dentro. Todo o dia a mesma coisa. Corre, volta, corre, volta. Não há muitas novidades, todos se vestem do mesmo jeito...preciso de novidade!

Ela- É. Também acho esse lugar um saco!

Ele- Sabe de uma? Quando tocar o próximo sinal eu vou com tudo. Vou me jogar, sem medo.

Ela- Bem, se você acha necessário passar por tudo isso, vai mesmo, se joga. Depois manda uma carta ou qualquer coisa dizendo como é lá.

Ele- Pode deixar.

Sirene toca.

Ele- Bem, lá vou eu...

Ela- Beijos. Vê se não some.

Ele- - correndo- Pode deixar!

Ela- É sempre assim. Quando acho que encontrei o cara da minha vida ele me larga por corrida. Ninguém quer compromisso sério hoje em dia. Acho que vou ficar pra titia. Saco!

O artigo- parte II

Parecia que as horas não passavam. Ele foi dormir mais cedo para ver se a noite era mais curta mas foi uma tentativa em vão. Revirava na cama imaginando como seria esse encontro. O que é mais surpreendente para ele, é se sentir tão atraído por Cristian sem nem sequer saber quem ele era direito. A única certeza que tinha é que ele se encantou por ele desde o primeiro momento que viu sua foto e leu seu texto na internet.


Até mesmo o fato de não saber se Cristian era gay ou não, não o intimidou. Irá a esse encontro e se tudo der certo, já vai tentar uma investida ali mesmo, sem demora. A vida é curta demais para se perder tempo.

Quem é “ele”? Trata-se de um personagem anônimo, cuja a identidade não será revelada. A história, apesar de tê-lo como protagonista, envolverá mais Cristian do que ele. Você entenderá por que.

O alarme irritante do celular anuncia: 07:00hs da manhã. Que noite terrível e que parecia não acabar. Como sempre faz, ele acorda três horas antes de qualquer compromisso que é para não se atrasar. Toma seu banho, se arruma e sai. pega o ônibus que passa em frente ao museu e, depois de 30 minutos que pareciam não terem fim, chega ao seu destino. Exatamente às 09:00hs.

Senta-se numa das mesas da biblioteca, pega o livro que está lendo a uma semana e espera o tempo passar. A história do livro pouco importa, a mente está em outro lugar.

09:45hs e o seu olhar foca na porta. A qualquer momento o seu ídolo e quem sabe, grande amor, passará por ela. 09:46hs, passa uma mulher gorda. 09:47hs, passam dois adolescentes. 09:47hs, passa uma menina. 09:48hs, passa um homem alto, branco, de cabelos pretos e olhos verdes. Exatamente. É ele. Cristian acaba de passar por aquela porta às 09:48hs e agora, às 09 horas, 48 minutos e 27 segundos está ali, a sua frente.

Continua...

A menina que sabia brincar com as palavras. Parte II

Era 24 de Dezembro de 2010 e chovia bastante. O seu namorado, Júlio, a convidara para passar a ceia de natal com sua família e ela aceitara satisfeita, afinal, desde que sua mãe faleceu e seu pai resolveu cuidar da própria vida numa fazenda, ela mal sabe o que são encontros familiares. Após ligar pro seu pai e desejar-lhe feliz natal, ela pega seu carro e vai para a casa do namorado.

Ao chegar na varanda da casa de Júlio, ela se surpreende com a quantidade de pessoas que vê através da janela. Não era de se imaginar que haveriam tantos convidados, afinal, a família dele era pequena. Ela é prontamente recebida por uma senhorinha agradável.

- Olá filha, seja bem vinda! Você deve ser Priscila.

- Sou eu mesma... e a senhora, pela simpatia, deve ser dona Margarida, avó do Júlio.

- Isso mesmo. Ah, Júlio é só elogios à você. Já mostrou a sua foto para todos da família.

- Para todos? - disse surpresa- Então, quando eu entrar por aquela porta, todos já sabem quem sou. E eu, não conheço ninguém... o Júlio sabe como me deixar com vergonha!

- Não precisa ficar preocupada, todos são bem receptivos. Você vai adorar. Vamos entrar?

- Amor, que bom que você chegou, só faltava você! – disse Júlio, abrindo os braços e com um longo sorriso.

- Oi... nossa, você não me falou que havia convidado tanta gente.

- Não são tantas pessoas assim. Vamos, vou apresentá-la para todos.- ele a puxou pelo braço sem que ela esperasse e deu um assobio.

- Atenção pessoal, atenção... Quero apresentar para vocês a minha namorada Priscila!

Um silêncio pairou no ar. O olhar de algumas pessoas era de surpresa, assim como o de Priscila. Ao lado da escada, estava Maria, sua amiga de faculdade e que a conhece como Ana. Sentado no sofá conversando com um colega, está Maurício, seu colega do curso de inglês, no qual ela é Alice.Tomando uma taça de vinho e perplexa, está Viviane, amiga que conheceu numa festa e que para a qual ela é Carla. Numa roda de quatro pessoas, está Sidney, que a conhece como Vitória.

- Olá pessoal, é um prazer... estar aqui! –disse encabulada.



Continua...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Mulher de bandido.

*Para quem andou reclamando que eu não escrevia mais textos cômicos, aí vai um escrito ano passado.


ELA- (Fumando um cigarro )- Sinceramente. Eu sou mesmo uma idiota, imbecil, tola. É isso. tudo isso. Eu jurei para mim mesma que não iria me apaixonar, que não iria me deixar envolver por ninguém. Mas não. Eu sempre escuto esse bolo de carne, veia e sangue que tenho aqui no peito. É. Por que para mim, ele não passa disso. Um bolo de carne, veia e sangue. Se eu pudesse, enfiava um punhal no meu peito e rançava essa merda. Mas não. Isso eu não faço. Além de detonar meu peito, vou ficar com uma cicatriz imensa, deformada. Também, o máximo que eu faria era rancar o silicone, e paguei caro, muito caro nesse silicone. Merda! Eu coloquei esse silicone por causa dele sabia? Por causa dele. Ele falava que gostava de mulher com peitão. Pra mim, não teve nada mais humilhante do que o dia em que ele pediu para eu transar com ele com dois melões embaixo da blusa. Mas fiz né? O que a gente não faz por amor.

Cara, eu me sacrifiquei por aquele desgraçado. Eu fiz coisas que até Deus duvida. Até assaltar banco disfarçada de Bin Laden eu assaltei. Mas também, não foi por falta de aviso. Minha mãe, minhas amigas, todo mundo sempre me dizia que não era pra eu me envolver com bandido. Mas é que eu acreditei né? Acreditei.

Acreditei quando ele me disse que eu era única. Que eu era mais bonita que as outras. E olha que na época eu ainda não havia operado as vistas, nem feito o tratamento contra espinha, nem tirado os dois dentes de vampiro que eu tinha. Eu mudei por ele. Eu quis agradar, afinal, ele vivia elogiando a Débora Secco, a Juliana Paes, a Angelina Jolie. Dizia que elas sim eram mulheres de verdade. Tá vendo essa boca? Você acha que era assim. Até botox nos lábios eu botei. Tudo bem que eu fiquei a cara do Carlinhos Beauty, mas enfim, a gente nem sempre acerta não é mesmo?

Mas onde eu estava mesmo? Ah, lembrei. Eu ESTOU no fundo do poço. No fundo, do fundo do poço. Eu tive que deixar tudo para trás, amigas, mãe, pai, meus quatro filhos... e claro, meu marido. Deixei tudo por esse desgraçado. Desgraçado.

Hoje, tudo que resta é lamentar. Ser trocada por outra é a pior coisa que alguém pode passar. Eu mesma não desejo isso para ninguém. Acho uma puta falta de sacanagem uma pessoa trair a outra, trocar... como se a gente fosse absorvente.

Não, mas eu não traí o meu marido não. A gente não tava bem, não tava. Ele só queria saber de trabalhar, colocar as coisas dentro de casa. Cuidar dos meus filhos, e olha que nem dele eles eram. Mas eu não. Eu sempre quis mais. Agora, eu fico assim, como estou. Trocada por uma cachorra com os peitos maiores que os meus, mais alta, loira... E eu fico pensando: o que eu posso fazer? Colocar mais silicone? Pintar o cabelo? Fazer o joelho? Nada mais adianta. Isso não vai trazer ele de volta. Não vai. Eu agora vou sair por ai. Vou tentar me vingar. Vou ficar com quem aparecer na minha frente. Eu vou mudar. Eu vou mudar!! Só preciso saber o quê dessa vez.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O jogo da verdade- sinopse

A vida é feita de verdades e conseqüências. Assim como no jogo, na vida você precisa escolher o certo para ganhar. Seis estudantes, Marina, Fábio, Carla, Thiago, Vivian e William, vão para a excursão da escola. O destino é um acampamento. Após o sorteio, todos ficam no mesmo grupo. Marina e Carla são da mesma turma e os demais, mal se conhecem. Após andar horas em busca de uma cachoeira, todos se perdem do restante dos alunos e o que era pra ser uma pequena aventura, se transforma em uma questão de sobrevivência. São três dias em mata fechada, tendo que se virar de todas as formas. Como não poderia deixar de acontecer, para se conhecerem melhor, resolvem fazer o jogo da verdade. E é exatamente ai, que seis novos adolescentes aparecem. Os que se escondiam por dentro de cada um.


O jogo da verdade. Texto de Elmo Ferrér.

As carências da juventude, os anseios e todas as questões que envolvem a vida adolescente são abordados.


Os personagens:

Marina- 17 anos. Filha de pais separados, é a melhor amiga de Carla. Mora com o pai, que é alcoólatra.

Fábio- 17 anos. Mora com os pais, duas irmãs e quatro sobrinhos. Trabalha para ajudar no sustento da casa e é bissexual.

Carla- 18 anos. É a mais velha do grupo e sempre foi uma garota problema. Usa drogas e tem um filho de 2 anos.

Thiago- 17 anos. Extremamente inteligente, sofre bulling dos colegas por ter dificuldade de fala e de locomoção, devido a um acidente de carro.

Vivian- 17 anos. É cleptomaníaca.

William- 17 anos. Tímido e desajeitado, divide uma casa com dois amigos e trabalha em uma oficina mecânica. Tem um péssimo relacionamento com a mãe.

Os saltimbancos do planalto central.

* Trata-se do meu primeiro roteiro para cinema, nesse caso, um curta.

"Um grupo de artistas faz uma proposta para quatro políticos: por um mês, os quatro devem percorrer o entorno da cidade levando teatro para as populações mais carentes."

O objetivo desse curta, é levar, de forma abrangente, as dificuldades enfrentadas por artistas para conseguir fazer arte, tudo isso, com foco em crítica política e social.

Os interessados em participar do projeto, favor, entrar em contato, para que possamos já trabalhar a equipe de produção e elenco.
A proposta, é levar o filme para a mostra de curtas do festival internacional de cinema de Brasília.

Elmo Ferrér

O direito ao erro.


As vezes é como se o peso do mundo caisse sobre minhas costas. Essa espécie de cruz pessoal que cada um carrega e que as vezes se torna um fardo insustentável. A vida me mostra que eu não sou herói, que não sou perfeito e que não posso apenas acertar sempre. O fato é que todos erram mas quando se deparam com os erros alheios, atiram pedras.
É difícil você ser perfeito e quando tenta ser, tem que saber que quando errar, talvez seus erros não serão vistos como algo normal a um ser humano.
Sempre procurei ser o melhor amigo e o melhor conselheiro. Sempre quando alguém passa por algo, me procura para desabafar por que sabe que de mim, irá receber os melhores conselhos. E é por isso que eu também me procuro quando passo por algum problema. Não por que sei que tenho os melhores conselhos, mas  por que sei que, comigo, eu posso sempre contar.
Fui criado para ser herói, para ir contra, para dar e não para receber. Me acostumei a ser assim, o mais diferente da turma, o que ninguém olhava nas festas, o que sempre tinha uma piada engraçada...
É extremamente normal que, quando as pessoas vêem alguém como eu fazendo coisas contraditórias, se assustem, por que, por muitas vezes, isso me transforma em ser humano e muitos não me vêem assim.
Estou aqui para dizer que erro e que além de errar eu quero errar. Quero aprender com meus erros e saber até onde eu posso ir e só o erro pode me mostrar isso. Por que é quando se erra que se é percebido. Quantas pessoas me procuram por dia para me dar parabéns pelos meus artigos? E quantas me procuram para me julgar por que estou saindo com a pessoa errada? Quantos me agradeçem por ter dito ou feito algo bom? Quantos me julgam por não ter feito nada?
São essas coisas que me fazem decidir por ser um errante e assumir todos os meus pecados. Os que são e os que não são bons pra mim.

Elmo Ferrér

Alma vazia, closet cheio. - um monólogo.

Ato único:

De um lado da cena, quatro cadeiras, todas com vestidos e sapatos. Em outro lado, um espelho e uma cômoda com perfumes, rosas murchas e maquiagens. No meio, Ana está sentada, abraçada a um vestido tomando vinho. Ela deve estar completamente desarrumada, com os cabelos bagunçados e maquiagem borrada.

ANA- (falando com as roupas) - Estão vendo? São todas compradas nas mais caras lojas da cidade. Hoje, alimentei meu ego comprando as mais caras roupas das grifes mais famosas da cidade. (pega um vestido) – Esse, acho que vou deixar para usar...(olha para a platéia, volta, vai até outro vestido) – Este, vou usar no evento... (mesma ação anterior).

Ana olha para as roupas e aos poucos vai voltando o olhar para a platéia- 4ª parede.

ANA- Há quanto tempo eu não sou convidada para uma festa? (voltando a si)- Bem, não importa tanto. Para quê está no meio de tanta gente medíocre que mal chega aos meus pés quando eu posso estar aqui. Com as melhores roupas, os melhores sapatos.

Ela vai até um par de sapatos e os veste. Tira-os, coloca outro. Faz esta ação algumas vezes.

ANA- Droga. Já usei todos esses sapatos. Preciso sair para comprar mais. Talvez se eu combinar com outras bolsas...

Ela pega algumas bolsas, vai até o espelho, se olha. Experimenta mais bolsas.

ANA- Essas bolsas eu já usei. (alerta) – Jóias! Acho que pode ajudar a disfarçar...

Novamente ela levanta e vai até uma caixa de jóias. Poe algumas, tira insatisfeita. Executa estas ações mais algumas vezes.

ANA- (Já alterada) – Que merda! Nada combina com nada. Preciso sair para fazer mais compras. (se olha)- Mas não com essas roupas.

Música. Ana experimenta vestidos, sapatos, bolsas e jóias. O ritmo da cena vai se tornando frenético até o ponto dela dar um grito.

ANA- Não tenho nada! Olho em volta e só vejo um monte de coisa usada que não me serve para nada. Estou sem roupa. Sem sapatos. Sem nada! (...) Já sei. Acho que vou naquela loja...(olha para a platéia) – Não. acho melhor ir naquela loja... (mesma ação) – Acho que não vou a loja alguma. Que horas são?

Ela revira as roupas freneticamente atrás do relógio.

ANA- Que horas são? Alguém sabe que horas são? (pergunta para as roupas) – Vocês... vocês sabem que horas são? Há quanto tempo estamos aqui? (olha para a platéia) – Onde estamos? Onde estou?

Musica. Ela olha para os lados e percebe-se só.

ANA- Vocês não me respondem nunca! Nunca! Vocês apenas me ouvem. Não me contestam, não opinam. Parece até que não existo para vocês. Eu escolhi vocês... cada uma de vocês. Sempre que ele não vinha, sempre que cada um me virou as costas, eu escolhia vocês. Eu elegi vocês para viverem meus momentos junto comigo e o que recebo é isso? Desprezo? (...) Desprezo... As pessoas me desprezam pelo fato de eu ser diferente. Essa pele... esse cabelo... por mais que eu faça não consigo me livrar deles...

Ela se olha no espelho da cabeça aos pés. Pega um vestido no chão.

ANA- Você lembra aquele dia que ele marcou comigo no restaurante? Como me enfeitei para ele? Você lembra quantos outros vestidos vesti até encontrar você? Depois de horas me produzindo, me arrumando, quando cheguei lá, ele não estava mais... depois nem quis saber mais dele. Ele se foi, mas você continua aqui.

Olha para em volta, para todas as roupas jogadas pelo chão.

ANA- Aliás... todos vocês! Todos se foram e vocês continuam aqui. E sabe? Eu não preciso de ninguém mesmo. Tendo vocês já me basta. Nunca que vou trocar o prazer de comprar um belo par de sapatos por uma noite de sexo ou de conversa fora com amigas idiotas. E no mais... quando não estou coberta por vocês, deixo exposta essa pele...

Ela se toca enojada. Se olha no espelho e se encara por um tempo

ANA- Preciso fazer compras. Preciso preencher este vazio.

Ela faz menção de ir á platéia, volta, vai para outro lado. Percorre todos os lados da cena. Desespera-se.

ANA- Estou trancada! Trancada em um lugar no tempo que mal sei qual é. Há quanto tempo estou sozinha aqui?

Ela vai até as roupas e as organiza.

ANA- Não estou só. Tenho vocês. Esperem um pouco que vou colocar uma música. Não saiam daí.

Ela põe uma música e começa a dançar pela cena. Pega alguns vestidos e dança com eles. Coloca sapatos, tira, põe bolsas,jóias, olha para o público, para o espelho. Repete essas marcações enquanto a luz vai fechando

O artigo. Parte I

                                                  

Um dia, enquanto procurava algo que falasse sobre felicidade, ele encontrou duas esferas verdes, brilhantes, perdidas no olhar de Cristian.

20:00hs . Ele entra no google para buscar algo que falasse sobre felicidade. Poderia ser um poema, imagem, música ou uma história qualquer. Encontrou a frase "Eu busco a felicidade em pequenas coisas" escrita por Cristian M.Barros. Após ler o artigo, teve a certeza que havia encontrado a pessoa, digo, a história certa para o seu trabalho da faculdade. Quando o professor pediu a ele que escrevesse sobre a felicidade de modo geral, sobre o que faz as pessoas realmente felizes e tudo mais, ele logo achou que seria a coisa mais impossível do mundo, afinal, como falar de um assunto que ele mal conheçe? O que é felicidade para ele que sempre viveu as maiores decepções e, sempre quando acreditava ter encontrado a felicidade, sempre era enganado?
A felicidade sempre apareceu para ele de todas as formas e, de alguma maneira, ela sempre foi a grande vilã de sua história. Ela sempre o fazia acreditar em tudo, nas pessoas, nas coisas, para depois revelar que por trás de tudo sempre se encondia a tristeza.
Mas naquele dia, naquele exato momento, a felicidade estava ali, descrita pelo tal Cristian M.Barros. E de uma forma tão simples, mas ao mesmo tempo, perfeita. As palavras de Cristian eram exatamente as palavras dele. Parecia que os dois haviam escrito juntos ou até que, ele sabia o que pensava...
O instinto dele foi não só buscar mais sobre a felicidade, mas sobre o próprio Cristian. Colocou o nome dele na busca e saiu lendo tudo que podia sobre ele. Aqueles olhos verdes, aquelas esferas... quantos segredos os olhos de Cristian podiam guardar?
Ele lhe mandou um email, dizendo da sua admiração pelo dom da escrita e o interesse em poder conversar com ele, que estava fazendo um trabalho de faculdade e tudo mais e que se podesse entrar em contato, seria eternamente grato. A verdade, é que a vontade dele era ter escrito "Não sei por que eu me encantei por você e quero te ver amanhã."
Cristian lhe respondeu o email com as seguintes palavras: "Olá amigo. Que bom que você gosta dos meus artigos, é muito bom saber que eles tocam alguém de alguma forma. Me adicione no Facebook para que possamos ter um contato maior. Att, Cristian M. Barros."
Ele achou aquele email tão...Ctrl. Você reconheçe quando um email é enviado a você e quando ele é algo que se manda para todo mundo.
No mínimo, o cara achava que ele era só mais um fã qualquer, que gostou dos seus artigos e tudo mais. Como se aproximar dele e dizer que o artigo era bom sim, mas ele era melhor ainda?
Vocês devem achar que as coisas acontecem rápido demais por aqui não é? Que é impossível alguém, apenas por um artigo ou uma fotografia, se encantar por uma pessoa e que essas coisas só aconteçem em histórias. Será?
Bem, voltando. O fato é que ele adicionou o Cristian no facebook e aguardou apreensivamente a entrada dele no inbox por dois dias, até que foi respondido com um scrap em seu mural que dizia: "Olá, seja bem vindo". Apenas.
Quand viu que ele estava no inbox, a atitude foi escrever diretamente o que estava pensando. "Ola Cristian, tudo bem? Estou fazendo uma pesquisa sobre felicidade para um trabalho da faculdade e gostei muito do seu artigo, mas sobretudo, gostei da sua pessoa,da maneira como escreve e gostaria de saber como ter um contato maior com você."
A resposta foi:
- Olá. Sim, você já está tendo um contato maior comigo. Estou aqui para esclarecer qualquer dúvida que tiver, pode contar comigo!
Que frieza, pensou ele. Mas ainda assim, resolveu ir mais fundo.
- Então... queria saber se não haveria como a gente se encontrar para eu lhe mostrar o que já tenho escrito aqui e o que você acha... eu sei que você nem me conheçe, mas, como moramos na mesma cidade, achei que seria interessante haver essa troca.
Passaram-se quatro longos minutos, ao que ele lhe respondeu:
-Desculpe, minha internet caiu. Mas... bem, se for realmente importante para você, podemos nos encontrar sim, amanhã se der para você. É só marcar um horário e local.
- Ok. Pode ser as 10:00hs na biblioteca nacional?
- Pode.
- Ok.  Eu estarei bem na entrada, vestido com uma blusa azul.
- Tudo bem, nos encontramos lá amanhã então, grande abraço e espero poder ajuda-lo.
- Você vai me ajudar muito. Um abraço!
- Outro!
Bem. As coisas aconteceram. Amanhã, às 10:00hs, o encontro. O encontro.

continua....

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A menina que sabia brincar com as palavras. Parte I


 Com seus cabelos negros e sua pele branca, ela bem que poderia ser personagem de algum livro de contos de fadas ou fazer a branca de neve no teatro. Porém, Ana Priscila era uma grande inventora de histórias. Tinha o dom da comunicação e sempre conseguia tudo o que queria através delas. As sábias e mágicas palavras, que, para quem sabe usar, é um "prato cheio".

           O relógio marcava 04:00hs da madrugada e ele, sentada em frente ao computador, deixava que as palavras expressassem tudo aquilo que sentia. Ela sempre gostou de escrever e de inventar histórias. Desde pequenina.
Recorda-se de um fato: As crianças brincando na rua e ela, sentada na janela de casa, escrevia sobre o que via. Sob os gritos de "sai da janela e vai brincar com as outras crianças" da sua mãe, ela relevava e imaginava. "O mundo poderia começar a acabar e aquelas crianças sairiam correndo desesperadas tentando achar abrigo. O garotinho ruivo seria atingido por um asteróide, a menina gorda ficaria com o pé preso em algum lugar e alguém tentaria salva-la, a menina de tranças começaria a chorar desesperadamente e chamar pela mãe. Nenhum herói apareceria para salvar a vida delas por que estamos falando da vida real e na vida real, heróis não existem."
Um barulho de carro lhe chamou a atenção e logo ela foi a janela para ver se seria alguma perseguição policial, mas era apenas o carro do lixo. Isso a fez sair dos seus pensamentos longinquos e voltar a pensar em terminar o texto. O título da história era "Seja você mesma". Na verdade, ela tinha uma dúvida se seria uma história ou uma crônica. Ou se seria um artigo ou se seria mesmo aquele título. Por fim, ela se "jogou" no teclado do computador e quando deu por si, toda a sua história, todos os seus erros, seus acertos, enfim, sua vida, estava ali, na tela.
- Brincar com palavras é algo perigoso para quem sabe escrever. Elas podem te dominar e serem ainda maiores que você mesma. - disse a anjinha de um lado.
- Nada disso. Escrever é um trunfo e saber contar histórias, uma dádiva. Pense em tudo o que ja consegiu e o que ainda pode conseguir através das suas palavras.- disse a diabinha, do outro.
Ela bate uma palma e as duas somem, com direito a fumacinha e tudo. Bem, pensamentos alheios, o segundo passo é postar a história no seu blog, que por sinal, é completamente fictício. Lá, ela se chama Mauren e tem 30 anos. É rude, decidida e escreve sobre realismo fantástico. Ou seja, histórias que podem ser reais, com pitadas de ficção e virce e versa.
Entendendo melhor a nossa escritora, ela tem 20 anos, mora sozinha numa kit e sobrevive da pensão do pai. Faz faculdade de engenharia (nada a ver com ela mas, foi uma imposição do pai, caso contrário ela perderia a pensão). No fim, para ela tanto faz, ela tem o poder de se colocar em qualquer lugar, por que para cada lugar que frequenta, ela é uma. Na faculdade, ela é Ana, menina meiga e tímida que senta na primeira cadeira e quase não fala com ninguém. No curso de inglês, ela é Alice, menina revoltada e que tem conselhos para tudo. Para algumas pessoas, ela é Carla, está passando um tempo no Brasil e lançando um livro nos EUA. Pra outras, ela é Vitória, casada e que perdeu os pais com 2 anos de idade, morou em um orfanato até os sete e foi adotada por uma familia de Minas. A familia perdeu tudo e foram morar em um acampamento sem-terra, de onde fugiu e se virou sozinha até ter tudo o que tem: um apartamento no bairro mais chique da cidade e sobrevive da herança do marido, que por sinal, era muito rico.
Para o seu namorado, ela disse que sofreu um acidente de carro aos dez anos e ficou em coma por cinco. O que ela não consegue explicar, é como com 20, já está no quarto semestre da faculdade.
Mas as histórias de Priscila são releváveis, ela não conta para fazer mal a alguém. Apenas, as usa como uma maneira de fugir um pouco da realidade, que para ela, é assustadora.
O que aconteceria se um dia todas as suas personagens se encontrassem de alguma forma? Seria o fim? Seria o começo?

continua...





sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A protagonista.


Noite de  vento e raios fortes. Início de uma tempestade. Queria a natureza reproduzir o que se passava no interior de Liz?
Ela está ali, encostada na parede, olhando para o corpo no chão e chorando pra si. Todos que ali estavam mal sabiam quem ela era. Também não importava se o único que sabia de sua existência estava  morto.
Todos perguntavam o que houvera acontecido e não encotravam respostas. Apenas ela sabia o por que da morte de André.
Uma moça loira deitou sobre o corpo e chorou compulsivamente. Era ela. A mulher. Era ela a segunda. Era ela, a verdade por trás de todas as palavras de amor malditas.
Como ela pode acreditar em tudo o que ele dizia? Era tudo o que ela pensava.
Mas o fato, é que não há tempo para questionamentos. Ele estava ali, no chão,morto, e sobre ele, ela.
Os olhos de Liz se fecharam e uma lágrima caiu. Uma.
Ela saiu do local e entrou no seu carro, uma blazer preta.
Ligou o som na rádio local e tocava a musica que serviu de trilha para seus momentos com ele: Hole in my soul- Aerosmith.
Ela dirigiu por horas, relembrando todos os momentos que passaram juntos. Todos os momentos fictícios em que ela, como coadjuvante, acreditava ser protagonista. É pecado xingar um morto? Foda-se!
-Desgraçado. Maldito. Filho da puta!
Mesmo se ele não tivesse morrido, ele iria morrer de qualquer jeito. Fisica ou sentimentalmente. Não importa. A morte seria o melhor caminho.
Ignorando todas as placas de Não prossiga, ela entra numa estrada interditada. Uma forte chuva começa a cair e ela prossegue. Nem faz questão de ligar o para-brisas. A sua visão é turva. Afinal, o que é uma chuva no vidro impedindo a visão para quem não viu a realidade diante dos olhos por tanto tempo?
Chegando a margem do precípício, ela acende aquele que pode ser seu último cigarro. Desce do carro e senta-se sobre o capô. Dali, não se avista nada. Apenas ouve-se o vento que uiva como o clamor das almas.
A chuva apaga o seu cigarro. Foda-se. Ela nem queria fumar mesmo. Mas é que um cigarro combinava bem com a cena.
As imagens então começam a aparecer como fantasmas.
Ele descobriu que ele era casado havia sete meses. Casado. Há cinco anos e com dois filhos pequenos, um menino de cinco e uma menina de três.
Pelas suas contas, eles se conheçeram no verão de dois mil,  então, havia onze anos que estavam juntos, seis que ele havia casado com a outra. Sendo assim, ela tinha seis anos como mulher e cinco como amante. Isso, se ele não tivesse outra antes da outra. De dois mil para dois mil e onze, noves fora... é... onze anos. Onze anos sendo enganada. Ou seriam cinco? Ah, já não importa mais.
O fato é que seu caso era diferente. Primeiro ele a conheçeu, para depois encontrar outra e se casar e continuar com ela. Dá pra entender?
Ele sempre disse a ela que não casaria por que não acreditava em matrimônio religioso, nem civil, nem nada. Preferia apenas viver junto. E ela, claro, concordou. Ela sempre concordou com tudo.
Quando será que ele conheçeu a amante que na verdade é mulher? Ah, não importa.
E como ele teve tempo para construir uma familia sem que ela percebesse? Também não importa.
O fato é que ela nunca desconfiou dos plantões que ele fazia nem de suas viagens. Ela acreditou. Todas as mulheres acreditam, com ela não seria diferente.
O que importa agora, é que ela descobriu. Não importa como. Ela descobriu.
Ela nunca acreditou que seria fria a esse ponto, mas ela aguentou longos sete meses.Foi o tempo de continuar bancando a "namulher" perfeita enquanto destruia sua vida aos poucos.
O primeiro passo foi, a cinco meses, contar para ele que sabia que ele tinha outra e fingir que o havia perdoado.
O segundo, foi dizer que aceitava passar de primeira, para segunda mulher. Que o amava de uma tal forma que aceitaria passar por isso. Que entendia que havia duas crianças na história e que blábláblá.
O terceiro, foi vê-lo sofrer pela morte do  filho.
O quarto foi vê-lo sofrer pela morte da filha.
A mulher, desgraçada, não morreu, mesmo diante de inúmeras tentativas. A desgraçada devia ter pacto com o demônio. Mas tudo bem. Vê-la chorando e sofrendo diante do corpo do infeliz bastou.
O quinto passo foi marcar o jantar de onze anos no restaurante preferido dos dois e deixa-lo sozinho, esperando por ela enquanto tomava o vinho. Ah, o vinho que ele mais gostava.
O sexto, foi vê-lo agonizando e se debatendo no chão e o olhar de pena de todos os presentes. E depois de morto, ver a loira- a segunda que virou primeira- sofrendo e chorando.
Pronto, lágrimas e lágrimas derramadas por todos. Sofrimentos distribuidos igualmente, agora é hora de olhar para baixo do precipício e tomar uma decisão.
Apesar da forte chuva e da escuridão, dava para ver que era bastante alto.
Todas as mortes devidamente resolvidas, agora é a hora e a vez dela.
A respiração ofegante por causa da chuva lhe cansou. Mas ainda assim, ela conseguiu empurrar o carro e joga-lo precipício abaixo.
A partir de agora, ela seguiria a pé, pegaria uma carona e recomeçaria sua vida em outro lugar.
Vocês acharam que ela iria se matar? Ora. Ela a é protagonista dessa história. E protagonistas não morrem no final baybe!

Por: Elmo Ferrér

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Caminhador.


Ando descalço por essa estrada de terra batida, cheia de buracos e pedregulhos.


Calça jeans surrada, camisa branca furada, o óculos comprado no camelô da esquina.

Nas costas, o peso de uma vida e a mochila desbotada, remendada, cheia de chaveiros e sonhos, planos, quereres...

É difícil não ter você pra caminhar comigo. Mas quem disse que a viagem seria fácil?

Eu levo você no pensamento e em met...ade do meu coração. A outra metade eu te dei.

Sou assim. Um andarilho solitário que procura seu lugar no espaço.

Olhar pra trás e ver o seus olhos de tristeza. Olhar para frente e ver o sol. Dois pontos contraditórios.

Ainda assim, vou seguir adiante.

Lembra que lhe dei metade do meu coração?

O tempo me dirá se voltarei para buscar ou para lhe entregar a metade que está comigo.

Por enquanto, preciso andar. Andar só.

Preciso chegar a algum lugar e descobrir quem realmente sou. Preciso caminhar sozinho.

É difícil não saber pra onde vou. Mas quem disse que a viagem seria fácil?

Por: Elmo Ferrér

sábado, 3 de dezembro de 2011

Calha.


Sentiu a chuva no telhado?
Lágrimas.
Enquanto eu voava, passei por cima de sua casa e simplesmente chorei.
Por que? Não sei.
Talvez por lembrar dos nossos momentos e sentir nostalgia.
Talvez por lembrar dos nossos momentos e sentir revolta.
Talvez porque chorar faz parte da minha vida desde que nasci.
Não. Minhas lágrimas não são de arrependimento.
Lembra quando te falei que me arrependo apenas do que faço? Então...
Não me arrependo.
Se eu não tivesse te deixado não poderia voar agora.
Nem poderia ter o dom de transformar lágrimas em chuva e fazer chover sobre a terra infértil.
Mas o fato é que chorei.
Por mais que voar sozinho fosse uma decisão minha, ainda sinto falta de...!
Falta. Acho que é isso. Chorei por falta.
Falta de você ou do que você dizia sentir por mim?
Falta de ouvir te amo, mesmo sabendo que era mentira ou falta de dizer te amo, sabendo que era verdade?
Falta... chorei por falta.
Eu precisei voar, para ver a vida por cima. Quando eu estava com você mal olhava pros lados.
Não sei nem como começei a voar, nem mesmo quando começei a ver a realidade.
Na verdade, nem sei que realidade vi. Se vi.
O fato é que chorei sobre seu telhado e as lágrimas que desceram pela calha encheu um imenso barril, onde você pode lavar o rosto se quiser ou até mesmo, banhar-se. Faça delas o que quiser, são suas.
Falta...
Daquilo que senti por tanto tempo até ver a realidade e decidir voar.
Realidade...
Voar é a minha realidade, chorar é a minha realidade.
Fazer chover sobre o seu telhado.

Por: Elmo Ferrér