quinta-feira, 24 de maio de 2012

Café.

Ah, o café de Joana. Não sei o que contém que o faz ser tão irresistível. Nunca gostei de café, mas o de Joana era divino. Ela dizia que era o tempo da fervura da água que modifica o sabor.

A primeira vez que tomei  foi no velório da mãe dela. Achei que o segredo daquela maravilha fossem as lágrimas caídas enquanto Joana fazia. Lágrimas modificam sabores.
A segunda vez foi no dia seguinte ao velório. É... eu fiquei por lá para consola-la.
E assim veio a terceira, a décima, vigésima...os sete anos que tomei o café de Joana todos os dias.

O café de Joana. Ah, o café de Joana...

Há dois meses não o tomo mais. Não há mais pó. Não há mais açúcar. Não há mais água. Não há Joana.

E se eu tivesse elogiado mais? E se eu dissesse que não sei mais viver sem seu...café? Será que ela volta?
E se eu disser que  coloquei a água pra ferver para ela apenas colocar o pó? A fervura da água modifica o sabor, não é? A minha já ferveu bastante.
E se eu disser que me faz falta o cheiro de café penetrando todos os cômodos da casa?
E se eu disser que as xícaras empoeiradas esperam? Que as colheres enferrujadas esperam?
E se eu disser que o homem triste espera o café que agora é servido em outro lar?

Elmo Ferrér

quarta-feira, 23 de maio de 2012

A estação.


* "A estação" é uma série de contos que se passam numa estação de trem. Aqui você acompanha a primeira.


Duas crianças brincavam de pique-pega. Uma senhora chorava por ter perdido a bolsa. Um homem de terno e gravata com uma bíblia na mão tentava converter meia dúzia de pessoas que o rodeavam. Alheia a tudo isso, Ana olhava fixamente para a linha férrea. Há três anos atrás naquela mesma estação, ela se despediu de Pedro. Ambos tinham vinte anos e ele foi fazer um intercâmbio em Londres. Desde aquele dia, nunca mais se viram, mal se falaram. Ela ficou sabendo de sua volta por meio de amigos. Será que ele ainda sentia o mesmo por ela? Será que todas as palavras de amor que foram ditas foram esquecidas?

Para ela, todo esse tempo foi um tempo de espera. Ela não conseguia esquecer por um momento dos dias que passaram juntos, das idas ao parque, dos estudos na biblioteca. De como ele mexia em seu cabelo ou do seu simples olhar. Será que para ele foi igual?

Quando ele recebeu a proposta para ir, nem sequer perguntou a ela o que achava. Apenas avisou: - Vou daqui a quinze dias.- e pronto! Se fosse o contrário, ela estaria desesperada sem saber se ia ou se ficava, se o levaria ou o deixaria. Mas ele não. Mal quis saber o que ela pensava. Para outras pessoas aquele seria um sinal de que não era nada sério, mas para ela que sentia amor por dois, não importava. Ela podia esperar.

Se ele ficasse lá para sempre, ela iria atrás dele. Se ele não a quisesse por lá, ela ficaria aqui, amando-o a distância. Ela só queria amá-lo. Agora, queria vê-lo chegar. Se ele a ignorar, se não souber mas seu nome, se não a reconhecer, não importa. Ela quer apenas vê-lo. Olhar o rosto vivo em sua memória por todos esses anos.

Para ela que amou sempre por dois, continuar amando não seria problema.

Chega o trem na estação. Os seus olhos brilham mais fortes que os faróis. Seu coração podia ser ouvido mais alto que o apito do trem.

Desce uma velha com sacolas,desce um homem com uma mala, desce uma mulher com um menino de colo, desce ele.

Os olhos se cruzaram. Ele sorriu. Ela nada demonstrava. Tanto esperou por aquele momento que agora mal sabia o que fazer. Ela ficou em silêncio enquanto ele se aproximou.

- Você sabe como faço para chegar ao centro da cidade? – disse ele.

- Como assim? –pensou ela.- Ele não me reconheceu?

- Oi...moça!

Ela em silêncio apenas olhava fixamente nos seus olhos.

- Você não lembra de mim? –disse ela.

- Não. A gente se conhece?

- Eu não sei onde fica o centro da cidade!- ela disse e deu de costas.

Ele começou a rir. Ela virou-se para ele.

- Está rindo do quê? De como sou tola por achar que você ia lembrar de mim? Para você tudo não passou de uma aventura não é? –disse ela.

- Estou rindo por que você é uma tola mesmo. Como pode achar que eu te esqueceria se todos esses dias eu pensava em você? Se toda vez que ia dormir abraçava o travesseiro tentando sentir você? Se toda vez que eu pensava em você eu imaginava que já estaria com outro alguém e que para você eu fui só uma aventura? Como posso esquecer de você se eu te amo?

- Mas você foi embora tão repentinamente e mal quis saber o que eu achava...

- Eu fui embora para saber o que você achava. Eu voltei para saber se você estaria aqui. Essa é a resposta!

Os dois se olharam. Ela sorriu. Ele também. Abraçaram-se e depois deram um longo beijo. Todos que passavam pelo local estatizaram. Uma música invadiu o ambiente. Ela pensou: - Ah, o amor é algo tão simples. A gente é que complica tudo.

A imagem dos dois abraçados é vista de cima, cada vez mais longe, enquanto a música vai aumentando e o diretor diz:

- Corta! Ficou ótimo!





















sexta-feira, 18 de maio de 2012

O cupido e a encalhada.


GUARACIABA- É hoje! Essa é a terceira lua cheia, o vento esta em sentido transversal, a coruja já piou sete vezes e eu estou numa encruzilhada. Essa simpatia tem que dar certo. O cupido vai ter que me ajudar, nem que seja por mal. – abre o livro- Bem, agora que eu já fiz tudo, só falta dizer as últimas palavras. :- Cupido, ó cupido. Faça com que o amor entre na minha vida. Que a sua flecha milagrosa possa flechar a pessoa certa e que eternamente me amará.- Bem, agora, dou os três pulos... peraí, mas pulo não é pra São Longuinho? Bem, deve ser pra que eu seja achada logo por alguém né? (ela pula)- Bem, deixa eu ver se falta alguma coisa... (procura no livro)- Acho que não. Então,agora é esperar.
Passa por ela o cupido, com vários papeis na mão, procurando por algo no chão.
CUPIDO- Deixa eu te perguntar meu bem, você não viu um papel desses pelo chão não?
GUARACIABA- Não. Um momento, se eu não estiver ficando louca, o carnaval já passou não?
CUPIDO- Meu amor, brincadeiras agora não ok? Não vem falar da minha roupa senão eu seria obrigado a falar da sua, que diga-se de passagem é da coleção outono-inverno de 50.
GUARACIABA- Credo, que grosso. Eu só achei estranho, por isso perguntei.
CUPIDO- Eu também te achei estranha, mas nem por isso eu te perguntei quem colocou essa macumba na encruzilhada.
GUARACIABA- Oi?
CUPIDO- Bem querida, já que você não vai me ajudar, deixe eu ir andando por que ainda tenho trabalho pela frente. Posso saber o que a senhora faz na encruzilhada essa hora meu amor? O exu ainda não veio te buscar,ou você não é uma obrigação?
GUARACIABA- Não senhor, não sou obrigação coisa nenhuma. Eu estou aqui por que fiz uma simpatia para o cupido lançar a flecha dele sobre mim.
CUPIDO-  Então é você? Meu pai do céu...
GUARACIABA- Não estou entendendo moço.
CUPIDO- Nada não fia. Eu perdi a minha ficha de atendimento desse horário e estava sem saber o nome da pessoa, mas, como você acabou de fazer uma simpatia, então acredito que seja você. Lembrando que eu não costumo mais atender pedidos de simpatia, você entrou pelo sistema de cotas amada.
GUARACIABA- Peraí, então você é o Cupido?
CUPIDO- Eu mesmo querida. Fala logo o que você quer por que ainda tenho que atender três essa noite.
GUARACIABA- Eu imaginava você de outro jeito, como nos desenhos.
CUPIDO- é o que tem pra hoje bem. E outra, quantos anos você tem?
GUARACIABA- 30.
CUPIDO- E ainda acredita que tudo que vê? Acorda querida. Aquele cupido que você vê por ai, de tanguinha, cabelos cacheados já era ok? O mundo mudou,eu sou um cupido  contemporâneo certo?
GUARACIABA- Eu pensei que todo anjinho fosse loiro...
CUPIDO- Dá não, bem. Cabelo loiro da um trabalho danado. Tem que retocar a raiz a cada quinze dias sem contar que o cabelo ficar hiper ressecado, é horrível. Eu não tenho tempo de ficar fazendo hidratação sempre. Mas, vamos parar de papo e me diz: o que você quer de mim?
GUARACIABA- Então seu cupido...
CUPIDO- Ariel meu bem, pode me chamar de Ariel.
GUARACIABA- Então seu Ariel...
CUPIDO- Esquece esse seu minha filha, não faz a educada...
GUARACIABA- Ta, Ariel. É o seguinte. Faz um bom tempo que eu não desperto o interesse de ninguém sabe? Então eu queria muito uma ajudinha, se não for pedir demais.
CUPIDO-  Você é digna de pena querida.E a quanto tempo que você não pega ninguém meu bem?
GUARACIABA- Uns... trinta anos.
CUPIDO- Ui. O caso é mais grave do que eu pensava.
GUARACIABA- Será que eu tenho algum problema?
CUPIDO- Querida, você não tem um problema, você é o problema. Nem muriçoca quer te picar amada.
GUARACIABA- Pior que é. E o que fazer então?
CUPIDO- Se eu fosse Deus eu ia te deletar da face da terra, mas, como eu não sou, o máximo que posso fazer é te dar umas dicas, mas olha, não faço milagre certo?
GUARACIABA- O que você mandar eu faço.
CUPIDO- Ta precisada mesmo né filhinha? Então vamos começar pelo começo. Qual seu nome?
GUARACIABA- É Guaraciaba.
CUPIDO- Senhor. Parece nome de aguardente meu bem. Você nunca se apresentou para alguém usando esse nome não né?
GUARACIABA- Já.
CUPIDO- Ta explicado. Então, a primeira coisa que a gente vai fazer é mudar esse seu nome uó.
GUARACIABA- Não. Esse nome veio de uma tradição familiar. Meu pai nasceu as margens do Rio Guarajá, e a minha avó deu pra ele o nome do rio, então para preservar a tradição, todas minhas onze irmãs e eu, fomos batizadas com as iniciais do seu nome. Guaraci, Guarimari, Guarujá, Guaracininga, Guarujaé, Guaramirin...
CUPIDO- Tá, tá. Para! O que é isso minha irmã? É o ponto do  caboclo Tupinambá? Pelo amor de Deus. Foda-se a tradição ok? Foda-se! A partir de agora você se chama Gisele.
GUARACIABA- Gisele? Eu sempre quis me chamar Shirley, da pra ser?
CUPIDO- Não. Gisele. E não me conteste.
GUARACIABA- Tudo bem. Ai Ariel ,por favor, me flecha para que todos os homens possam me olhar de outro jeito...
CUPIDO- Você não sabe a vontade que eu tô de dar uma flechada bem no meio das suas fuças. Mas infelizmente não rola. Flechada foi proibida ta? Porte ilegal de armas, três anos de xilindró. Não rola. Agora eu apenas banco o psicólogo e dou conselhos para você levantar a estima, se bem que a sua ta mais pra baixo que peito de velha.
GUARACIABA- Então, como eu posso ser notada?
CUPIDO- Calma, não pensa tão alto, vamos começar devagar. Quais são os lugares que você costuma freqüentar?
GUARACIABA- Eu vou á vários lugares. Igreja, chá beneficente, aniversário de amiga.
CUPIDO- E ainda espera pegar alguém? Na igreja meu amor, o máximo que você vai conseguir pegar é a hóstia. Sem contar que quando o padre olhar pra sua cara ele vai mandar você rezar uns 600 pai-nosso e 1...000 Ave-Maria por andar assustando a humanidade.  No chá beneficente só vai mulher, se bem que você tem cara mesmo de chá beneficente. E aniversário de amiga é o mesmo que você assumir para todo mundo o quanto você é velha né? Por que se o tempo ta passando para elas, para você então, ele ta passando, lavando,cozinhando...
GUARACIABA- Essa eu não entendi.
CUPIDO- Esquece. Então Guarabara...
GUARACIABA- Guaraciaba!
CUPIDO- Tá, Gisele! Então Gisele, eu quero que você faça o seguinte. Vamos fingir que nós estamos numa balada certo? Eu sou um homem que estou observando as mulheres que eu poderia pegar e você vai dançar para mim, me dando mole. Entendeu?
GUARACIABA- Eu não sou muito boa nisso.
CUPIDO- Querida, você não é boa nem pra tosse, mas, é o que tem né? Então vamos trabalhar em cima disso. Música.
ELE BATE PALMAS E A MÚSICA COMEÇA.
GUARACIABA- De onde apareceu essa música?
CUPIDO- Querida, eu sou o cupido. Alô! Agora dança.
ELA COMEÇA A DANÇAR SEM JEITO.
CUPIDO- Para! Pelo amor de Deus. Meu amor. Eu estou super em dúvida se acabei de ver o exorcista 2 ou uma vaca louca pisando num fio desencapado. Assim não rola.
GUARACIABA- Você acha que nenhum homem vai olhar para mim dançando assim?
CUPIDO- Te olhar até que vão, mas com desprezo. Meu bem, deixa a música te envolver, sinta-se uma diva. Certo? Vamos de novo.
ELE BATE PALMAS E ELA DANÇA DO MESMO JEITO.
GUARACIABA- E então?
CUPIDO- O mosquito da dengue é mais sexy.
ELA COMEÇA A CHORAR.
GUARACIABA- Eu sou um desastre.
CUPIDO- É mesmo, mais dar ataque de pelanca agora não vai ajudar em nada. Levanta essa cabeça e vamos pensar em outra alternativa. Faz o seguinte. Como dançar não é o seu forte, vamos investir no carão. Você vai ficar parada, olhando para lá. Daí, conta até dez e vira. Joga o cabelo e me da uma encarada. Faz cara de sedução entende? Cara de mulher que manda, decidida,digna!
GUARACIABA- Ta bom.
CUPIDO- Ok? Pode começar.
(t) ELA EXECUTA OS MOVIMENTOS DITADOS POR ELE.
GUARACIABA- E então?
CUPIDO- Seu sapato tá apertado filha?
GUARACIABA- Não.
CUPIDO- Então por que a cara de dor misturada com fome meu bem?
GUARACIABA- Eu fiz o que você pediu.
CUPIDO- Eu acho que se você tivesse nascido do avesso seria mais fácil. Ok! Acho que não vai dar. Faz o seguinte. Chega chegando. Vai até a platéia, escolhe um homem, olha nos olhos e diz: Oi, sou Gisele e essa noite eu quero você. Certo?
GUARACIABA- Certo.
CUPIDO- Atitude minha irmã, atitude!
MUSICA, ELA VAI ATÉ PLATEIA DESFILANDO.
GUARACIABA- Oi. Meu nome é Gisele e essa noite eu quero você.
ELA SAI E VOLTA AO PALCO.
CUPIDO- Por que você voltou anta?
GUARACIABA- Ué. Eu fiz o que você me disse.
CUPIDO- Sim meu bem, mas você tem que ver se ele vai corresponder. Vai de novo e da o seu numero para ele, pede para ele te ligar e diz que você vai levar ele a loucura. Vai!
ELA FAZ A AÇÃO E VOLTA AO PALCO.
CUPIDO- Ta vendo que não foi tão difícil?
GUARACIABA- Será que ele vai me ligar?
CUPIDO- Claro, você não deu o numero do seu celular?
GUARACIABA- Eu não tenho celular. Dei o numero do orelhão perto da minha casa.
CUPIDO- Olhe... Deus quando te fez jogou a forma fora.
GUARACIABA- Sério?
CUPIDO- Sim. Pra não cometer mais o mesmo erro né minha irmã?
GUARACIABA- Mas eu estou vendo que ele ta me olhando...
CUPIDO- É né? Ele também não é nenhum deus.  Bem, agora que você já arranjada, eu preciso ir por que ainda tenho mais gente para atender.
GUARACIABA- Ai Ariel... obrigada mesmo viu? Você me ajudou muito.
CUPIDO- Querida. O que você tinha sempre esteve dentro de você, eu só fiz ajudar a pôr para fora, mas essa sua luz, ela transcende. É uma coisa que vem de dentro e que te ajudou. Você tem brilho próprio meu bem. Você terá o homem que você quiser.
GUARACIABA- Sério?
CUPIDO- Claro que não né? Você me deu mais trabalho que tudo. Olha só..(ANOTA NUM PAPEL)-  Qualquer coisa vai nesse pai de santo aqui. Ele é maravilhoso. Traz a pessoa amada em três dias de limusine e ainda entrega na porta da sua casa.
GUARACIABA- Ta bom, brigada.
CUPIDO- Nada fia... peraí, que papel é esse aqui no chão? Gente, é a ficha da cliente desse horário. Claudia dos Santos. Não era você a pessoa que eu iria atender agora. Vou ter que jogar a última pra amanhã para ver se consigo pelo menos dar uma descansada. Então é isso querida, felicidades. São R$ 250,00.
GUARACIABA- Como assim? Você está me cobrando pela consulta?
CUPIDO- Claro, você não tava marcada. É assim que funciona. Vamos, aceito cheque, promissória, tele-sena, cartão, vale-gás, o que tiver.
GUARACIABA- Mas se eu te der meu dinheiro eu fico sem ter como voltar pra casa.
CUPIDO- Tem problema não. O caminhão do lixo passa em duas horas, pede uma carona, certamente eles não vão te negar. É capaz até de você ser eleita musa do lixão.
ELA PEGA O DINHEIRO NA BOLSA E ENTREGA PARA ELE.
GUARACIABA- Só tem R$240,00.
CUPIDO- Tudo bem, depois você me passa os dez, eu descubro onde você mora e vou lá.
O TELEFONE DELE TOCA.
CUPIDO- Oi? Como? Não querida, eu tenho um cliente agora. Tudo bem, eu dou um jeito... –voltando-  É a fada do dente. Pegou caxumba, vou substituí-la. é cada uma que me aparece. Até.
GUARACIABA- Até.  Ai... Mas como é difícil achar quem ajude a gente de graça hoje em dia. Será que o caminhão do lixo vai me dar mesmo uma carona? Peraí, que cartão é esse? (lendo) Evandro, o cupido. Atendo em domicílio, jogo búzios, runas, tarô,faço amarração pro amor e trago seu amado em sete dias em um cavalo branco. Que safado... eu fui enganada por um falso cupido. gente, como eu sou burra. Como eu sou burra. Só levando na cara mesmo para aprender viu? Bem que eu notei que ele estava me esculhambando demais. Salafrário.Bem, mas pelo menos eu to arranjada né? –olha para a pessoa da platéia-  Eu vou em casa tomar um banho e ficar cheirosa para você e volto tá? E não some não por que senão eu vou no pai de santo e trago você de volta em menos de uma semana.Ah trago!
MUSICA. ELA SAI .
FIM.

Maria, a louca.


Ela senta no meio fio de uma rua qualquer, olhos pretos de maquiagem borrada, pingos de chuva ácida caindo do céu molham seus cabelos vermelhos desbotados.

Ela abre o agenda de 95 qua ainda usa para escrever versos que não tem coragem de mostrar pra ninguém.

Numa folha manchada se encontra a rosa seca que ganhou de sua ex.

Numa folha seca encontra a palavra manchada por lágrimas que derramou por sua ex.

Maria, a louca. Assim é chamada por várias pessoas que a conhecem, ou não. Só por que tem o estranho hábito de dançar pelada na rua enquanto a chuva cai.

Para ela, isso é natural. Quantas tantas outras saem por ai quase peladas e são apenas chamadas de bonitas?

Ela pega bitucas de cigarro que encontra pelas calçadas e fuma. Ela pega bitucas de amor que desperdiçam e guarda no paletó velho que usa.

Maria, a louca. Assim é chamada por aqueles que a conhecem,ou não. Só por que uma vez matou um gato que a arranhou. Para ela, isso é natural. Quantas tantas outras saem por ai matando muriçocas que as picam?

Ela pega pedaços da primeira carta de amor que recebeu e reconhece frases soltas que um dia, quiseram dizer alguma coisa que acabou por se tornar frases soltas e sem sentido algum.

Ela se olha em uma poça d’água e se vê embaçada. Ela se olha no vidro da loja atrás dela e se vê embaçada.

Maria, a louca. Assim é chamada por aqueles que a conhecem, ou não. Só por que uma vez bateu em uma criança que a chamou de louca. Para ela, isso é natural. Quantas tantas outras saem por ai batendo nos outros com palavras que machucam ainda mais?

Ela abre a bolsa feita de retalhos de tecido e retira um vidro com uma última gota de perfume. Seu momento se confunde com o vidro. 95% vazio, com um resto de algo que só poderá ser usado apenas mais uma vez.

Maria, a louca. Assim é chamada por aqueles que a conhecem, ou não.

Por: Elmo Ferrér

domingo, 6 de maio de 2012

A montanha.




Naquela noite chuvosa, o silencio predominava na casa dela. Percorrendo os corredores, apenas  velas acesas e as sombras espectrais. O silêncio foi cortado por pequenos sussurros vindo de dentro do armário. Ela estava sentada, debruçada. Aquele era seu lugar preferido desde que foi para aquela casa. Era lá que ela esperava a raiva passar, que reclamava de tudo e  que conversava com seu amigo imaginário. Um dia, acreditou ter visto uma luz, o que julgou  ser uma pequena fada. Besteira,ela não acredita em  fadas. Ela não acreditava em nada.
Quando saiu, não viu nada. Passou pelo corredor dos espíritos. Ela assim o chamava, devido as sombras das esculturas refletidas pela luz das velas a noite, o que dava uma sensação de terror indescritível a ela. Percebendo que seu vestido branco estava manchado de sangue e que estava descalça, se confortou, afinal, depois de tudo que lhe acontecera desde o começo da noite, calçar os sapatos definitivamente não era de grande importância.
Ela procurou por todos, gritou, não obteve respostas.
Ela entrou nos quartos, foi até a sala . Nada. Apenas o silencio.
De repente, um forte vento entrou pela janela da sala e como uma correnteza, percorreu os corredores, apagando as velas. Escuridão, Ela gritou. Um grito de susto, de horror, não se sabe. O que parecia ruim, agora se tornara pior. Ela apenas ouvia o seu coração, batendo tão forte, como ela jamais tinha visto. Ela procurou se apegar as coisas que estavam próximas, tentando se localizar. Foi quando ela sentiu aquela mão gelada no seu tornozelo. Ela gritou, chutou e correu. Seja lá de quem era aquela mão, era pegajosa.
Agora, ela corria, sem olhar pra trás. E enquanto corria, chorava. E enquanto chorava, pensava.
Naquele início de noite, a lua estava escondida por nuvens feias e os pássaros voavam baixo. Aquela mulher, que ela não sabia ser ou não  sua mãe estava preparando o jantar e seu pai, que ela também duvidava ser,  tocava o piano. Ela brincava com seu amigo imaginário no balanço, que ficava na única árvore daquela montanha onde morava. Ela não se lembrava como eles foram morar ali, apenas, que nunca recebiam ninguém e que nunca lembrou de conhecer alguém além do seu amigo imaginário.
Ela não acreditava pertencer aquele lar e também nunca se sentiu filha dos seus pais. Algo neles a incomodava, ela não conseguia ama-los. Sua mãe era alta e magra, seu pai também. Ela chorava todos os dias. Não gostava mesmo deles, nem da casa, nem da montanha. Apenas do seu amigo imaginário, que era o único que ela conversava e era o único que a entendia. Todos os dias, ela só saia do sótão para comer. Ficava no armário, com ele. Seus pais achavam estranho, mas não ligavam. Pelo menos dentro do armário, ela não ficava sentada na cadeira no canto da cozinha olhando para eles com aquele olhar de ódio que ela tinha.
Ela dificilmente falava. Só com seu amigo.
Ela empurrava o balanço e se divertia com as gargalhadas dele. Ele parecia voar. Ele era um menino muito bonito, o mais bonito que ela já viu. E também o único. Ela sentiu uma gota d’agua cair sobre seu rosto, começara a chover. Ela não se importou, gostava de brincar na chuva. Seus pais não se importavam se ela pegaria um resfriado. Eles não se importavam com ela, a estranha.
Ele não quis mais brincar, pediu para entrarem. Ele não gostava de chuva.
Ela entrou, molhando o assoalho. Sua mãe brigou e disse que ela entrasse pelo fundo. Ela, de pirraça, se sacudiu, molhando ainda mais o assoalho. Não sabia por que, mais gostava de ver a cara de raiva da sua mãe. Gostava de vê-la triste. Sentia  prazer em irrita-la. Sua mãe lhe falou que ela era uma péssima filha e que era por isso que ninguém gostava dela. Seu pai levantou e perguntou o que havia acontecido e após a explicação da sua mãe, tirou o cinto e bateu nela. Ela ria, gostava de apanhar, de sentir dor. Maior do que a dor de apanhar, era o prazer de provocar raiva neles.
Seu amigo imaginário apenas observava e dizia para ela continuar rindo, porque assim, eles iriam ficar ainda com mais raiva dela.
Naquele momento, seu amigo tocou seu rosto. E então, ela não lembra mais de nada, apenas que estava a pouco chorando no armário.
Ela correu, até que chegou ao fim da montanha, no precipício. Ela olhou para baixo e viu como era lindo o vale cinza. Assim ela chamava o rochedo que avistava.
Ela não viu seu amigo desde então. Até que ele lhe apareceu. Ela perguntou se ele tinha visto seus pais e ele, disse que eles estavam na casa, refletidos na parede pela sombra das velas. Ele disse que queria ensiná-la a voar. Então, pegou em sua mão e juntos pularam. No ar, ele soltou sua mão e pediu para que ela abrisse os braços. Ela fechou os olhos. Uma imagem veio a sua cabeça. Uma menina, sendo  entregue a seus pais por dois homens vestidos de branco e de sua mãe dizendo que era melhor ir embora para um lugar distante, antes que ela fizesse mal a mais alguém.
A menina abriu os olhos, seu amigo já não estava mais com ela. O rochedo se aproximava. Ela viu uma luz. Seria uma fada? Ela não acreditava em fadas, ela não acreditava em nada.

O jardim.



             Os primeiros raios de sol começavam a aparecer timidamente. A noite e a madrugada foram de forte chuva. Marina, enrolada em uma manta, toma seu café amargo . Com a caneca nas mãos e a fumaça do café quente se misturando a fumacinha que sai com sua respiração ela passa pelo corredor de chão de madeira e paredes brancas repletas de fotografias. Abre a porta e um grande jardim lhe sorri. Os pássaros aquecem as vozes, duas ou três borboletas brincam no ar. Um beija -flor se aproxima e a observa. Logo os olhares se cruzam e ela entende que ele parece querer lhe dizer algo. Talvez ele queira lhe dizer que as dores passam ou que a tristeza é uma constante ou não queira lhe dizer nada, apenas observa-la, apenas deixar que o olhar expressasse a mensagem que ela queira entender. Mas o fato é que naquele momento ela precisava mesmo ouvir algo. Já  faz um mês que se abrigou na casa grande para pensar na vida e  colocar a cabeça em ordem. A manhã de domingo de um mês atrás estava bem diferente daquela. Estava muito mais iluminada e mais florida. Era o dia do seu casamento. Decidiu se casar no campo, no jardim, perto das flores, do verde, coisas que gostava. Ela relembra os rostos das pessoas quando chegou. Eram olhares de... pena? Carinho talvez. Alguém lhe disse que ficasse ali pois havia acontecido algo e a primeira coisa que ela perguntou foi por Helena. Um rapaz disse que ela ainda não havia chegado. Uma mulher lhe disse para ficar calma. "Ficar calma pra quê?” Por que nessas horas as pessoas não conseguem ser objetivas e ir direto ao assunto? Ela se atrasou? Ela desistiu? O que aconteceu? Ainda ontem estava tudo certo. Uma mão pousou em seu ombro, era seu irmão, com lágrimas nos olhos.

Ao piscar o olho ela percebeu que o beija- flor estava ali, acompanhando seus pensamentos. O que ele queria lhe dizer? Ele então rodopiou em volta dela duas vezes e lhe deu um beijo.

Em um fim de tarde de  Fevereiro ela estava sentada a beira do lago pensando em  como a vida lhe pregava peças e que definitivamente não nasceu para ser feliz. Há tempos vem tentando encontrar o homem ideal, aquele que lhe amaria como precisasse, que lhe amaria por ser, por existir, sem nada em troca. Um amor sincero, puro. Mas como era difícil. Foi quando olhou para o lado e viu aquela mulher magra, de cabelos negros, pele branca e meio corpo no lago. Aquele fim de tarde não era propício para alguém tomar um banho e ainda mais de roupa. Estava um tempo frio. Ela colocou a mão na água e percebeu que estava gelada. O que aquela mulher estava pensando em fazer estava bem longe de ser um simples banho de fim de tarde.
- Ei, moça. Não acha que a água está fria demais? - acenou dando pequenos pulinhos para chamar a atenção.
Helena continuou parada, olhando pra frente, cabelos ao vento. Não fez questão de olhar para ver quem estava lhe chamando. Então, deu mais dois passos para frente.
- Moça. Ei! Está começando a escurecer, tem certeza que quer ficar ai? - gritou, fazendo concha com as mãos para ampliar a voz.
Mas Helena não deu importância e deu mais dois passos pra frente.
"Não vou ser inconveniente. Se a moça resolveu pensar na vida, vestida e dentro d'água, é porque certamente quer fazer isso. Cada um pensa na vida da forma que quer."- pensou.

Os caminhos dos amores fracassados sempre se cruzam. E assim como Marina, Helena também pensava que não nasceu para ser feliz. A vida não estava sendo justa com ela. A traição de Caio, a perda da mãe, as brigas em família por inventário, tudo aquilo havia era tão desgastante. Era muita coisa pra pensar e pouco tempo, pouca vontade. Ninguém em seu meio percebia que ela morria aos poucos. Não comia, mal saia de casa. Ruídos de discussão vinham de todos os cantos da casa e invadiam seu quarto e ela, com o travesseiro em volta da cabeça, tentava fingir que não ouvia tudo aquilo. Cansada, saiu decidida a por um fim em todos os problemas, se atirando naquele lago e pondo fim a uma vida que não interessava a ninguém.

- Não sei o que você pretende fazer, mas seja o que for farei também.
Era a voz de Marina ao seu lado, dentro d'água.
- O que você está fazendo? Não percebeu que eu quero ficar só? Será que não tenho o direito a me matar?
- Tem, claro que tem. Mas uma vez alguém me disse que boas ideias deviam ser sempre compartilhadas e achei essa sua ideia muito boa, tanto que me deu vontade de morrer também.
- E porque você quer morrer?
- Por que um dia isso vai acontecer e não sei se estou disposta a esperar tanto tempo. Esperar a morte significa sofrer enquanto espera e eu não sei se quero sofrer mais.
- Nem eu!
As duas se olham.
- E então... como é saber que vai morrer daqui a pouco tempo? -disse Marina.
- Me conforta. Acho que essa será a coisa mais sensata que farei desde que me entendo por gente.
- É... sabe que eu também? Ah, a vida é tão... sei lá!
- Tão sei lá?
- É. Sei lá!
As duas sorriem e Marina pode ver como o sorriso de Helena é lindo.
- E então?- Marina olha pra Helena.
- Então o quê?
- Não vamos pra frente?
- Ah, sim.
As duas dão um passo à frente.
- Como você espera morrer?- diz Marina.
- Ah, não sei bem. Sabe... é a primeira vez que faço isso. Não sei se submerjo com o nariz tampado assim. -ela prende o nariz com os polegar e o indicador e fala com voz fanha. - O que acha?
- Com essa voz? Acho que não rola muito não gata! -Marina dá uma piscada e um sorriso, o que faz Helena sorrir também.
- E então? - Marina olha para Helena com as sobrancelhas levantadas.
- Então??
- Vamos morrer eu não vamos?
- Ah, vamos! Vamos dar mais dois passos?
- Pode ser.
A água fria bate nos seios de Marina.
- Nossa, está bem gelada mesmo. Ainda está na sua cintura, o que significa que eu vou morrer primeiro.- diz Marina dando um risinho meio apavorada.
- Pra mim isso quer dizer que você é bem mais baixa que eu.
As duas riem. De repente, silêncio. E as duas ficam assim por um tempo.
- Não sei se é um bom momento para se apresentar mas eu me chamo Helena.
- Marina!
- Me diz Marina. Qual a último momento que recorda antes de morrer?
Marina pensa por um momento.
- Pode ser um imagem? Bem, acho que o meu diário. Era rosa e tinha um coração no meio. Quando ganhei de presente de aniversário eu achei cafona mas... bem, ele acabou virando meu melhor amigo e o único que de certa forma me entendia. Acho que nós, garotas, temos um pouco disso. Essa coisa de escrever tudo que pensa. Volta e meia eu o folheio para lembrar dos tempos onde sofrer por amor era o fim de tudo para um garota. Mas no fundo a gente sabe que ainda muitos amores viriam. Diferente de quando se é adulta. Parece que cada amor mal resolvido, cada decepção, tira de você um pedaço. Vai te deformando, te decompondo. E você? O que lhe vem a mente?
- Eu estava aqui ouvindo você e vendo seu diário rosa, cafona.- rir- Bem, deixa eu ver. A minha mãe morreu há um tempo e eu fui pra casa de uma amiga pra colocar a cabeça em ordem. É uma casa grande, no meio das montanhas. E tem um jardim tão lindo. Eu estava lá, sentada na grama, acho que pensando em nada, porque quando se tem tantas maravilhas em volta você não consegue pensar em nada, pelo menos comigo.
- Comigo também- disse Marina.
- Pois é. Então do nada me apareceu um beija- flor, ficou parado batendo as asas e me olhando. Eu tive medo, pensei que a qualquer momento ele iria me bicar, mas não. Ele me olhou, como se quisesse me passar uma mensagem. Me chamou a atenção a beleza daquele pássaro. De como é gracioso e tão... sensível. Eu pensei que  poderia ter vindo ao mundo como um beija- flor e não como ser humano. E desejei de certa forma que, quando eu morresse, eu me transformasse num. Na verdade eu sei que isso é loucura. Mas a vida é feita de loucuras não é?
- É. As loucuras que fazem caminhos distintos se cruzarem. E você, que queria morrer e virar beija - flor, imaginou um dia que sua morte seria num lago sujo em companhia de uma desconhecida?
- Sabe que não? Eu sempre desejei mesmo é encontrar um amor. Assim, mesmo sabendo que um dia a morte viria, por que ela sempre vem, eu estaria gastando o tempo ao lado de alguém que valeria a pena.
- É... eu também. Vem cá, você não acha que esse lance de morrer aqui não é meio ruim? Sei lá. Encontrarão nossos corpos na margem, cheios de lama e lixo. Eu proponho uma morte diferente.
- Como diferente?
- Ah não sei. Gastar o tempo ao lado de alguém que vale a pena até  que ela venha por vontade própria.
Helena sorri.
- Bem, quem sabe não é uma boa proposta?

Marina não percebeu quanto tempo passou no jardim. Duas, três horas. Quando voltou a si, viu o beija- flor ali, na frente. E percebendo meio que por intuição que ele a chamava para algum lugar, ela o seguiu. Entrou mata a dentro e chegou em um lugar que ainda não conhecia. Um lugar com árvores altas e uma gruta escondida por trepadeiras. O beija- flor entrou no local e ela  foi atrás. Ao abrir a imensa cortina de trepadeiras cobertas com flores, sorriu ao ver milhares de beija- flores de todas as cores dançando no ar e irradiando um brilho que não há como descrever. Estaria ela sonhando? Não se sabe. Mas estava ali. Pisou em flores e percebeu que no chão havia um desenho. Flores rosas e amarelas desenhavam um coração com fechadura, como o seu diário. O lugar onde guardou as emoções e sentimentos puros da juventude.

Helena ia a frente em sua bicicleta com cestinha. O tempo estava bom e dali a dois dias elas iriam se casar. Estava bem corada e nem lembrava a moça triste de um ano atrás. Marina vinha devagar, nunca teve fôlego para andar de bicicleta, nem gostava. Só estava ali para agradar Helena, pois quando há amor, a gente entra mesmo sem querer nos hábitos do outro.
- Marina, anda logo! Nessa velocidade a gente não chega nunca!- disse Helena em pé, segurando a bicicleta e batendo o pé direito.
- Calma. Não precisa presa. Lembre que se não fosse por mim você não estaria aqui hoje.
- Vai jogando na minha cara vai!
Quando Marina se aproximou ela lhe deu um beijo no rosto.
- Minha tartaruga.
- Vamos parar de pedalar um pouco e andar? Estou cansada.
Marina desceu da bicicleta e as duas seguiram andando.
- Helena... por que é tão importante pra você que a gente veja o por do sol hoje? A gente tem tanto tempo pra isso.
- Será que temos mesmo? A gente nunca sabe. Este ponto aonde vamos é o melhor local para ver o por do sol, vai por mim. Amanhã a gente não vai se ver, eu preciso ir na minha cidade pegar o tal documento e só volto horas antes da cerimônia.
- Não sei pra quê este documento.
- Sei ele a gente não casa!
- Eu quero ir com você!
- Não, você precisa ficar pra organizar o que falta.
- Essa viagem me deixa preocupada.
- Não precisa se preocupar. Eu vou sempre te mandar uma mensagem. Ei, eu não vou morrer se é isso que você pensa.
- Não! Nem fale uma coisa dessas!
- E mesmo se eu morrer, eu mando uma mensagem pra você de alguma forma.
Marina para.
- Não fale mais isso tá bom? Sabe que eu fico assustada.
- Estou brincando. Agora, sobe nessa bike e vamos, se não a gente perde o melhor espetáculo do mundo. Ah, Marina...!
- Fala!
- Escreva esse momento no seu diário. E escreva uma frase entre aspas. " Onde ver brilhar, lá estou. Onde houver um beija flor meu espirito estará, sempre, a te olhar."
- Nossa. É lindo.
- Acabei de pensar. Vamos?

Marina está sentada no degrau que dá para o jardim com seu diário aberto. Um beija flor a observa de longe enquanto a tarde vai morrendo, aos poucos.

Elmo Ferrér

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Sobre...

...um encontro casual, sem expectativas. Mas os olhos que não mentem olham além. A alma que salta e rompe a barreira das palavras que não podem ser expressadas.
No fundo a gente sempre sabe quando encontra a nossa cara-alma-vida-metade.
E que as coisas aconteçam no seu tempo.
Deixe fluir...!

Elmo.

Enquanto espero o sono...



...reflito sobre as coisas que realmente são importantes e que de alguma forma ou outra ficam perdidas, esquecidas lá no passado. Quando a gente é criança a gente não tem medo de amar, talvez pela não consciência ou conhecimento do sofrimento. Mas como tudo seria mais fácil se as pessoas parassem de ter medo de sofrer...
Hoje, sofrer ficou mais forte que amar. As pessoas não entram mais nos relacionamentos pensando em amar e sim, no que de ruim isso poderá lhes causar no futuro. E com isso deixam de viver, de se entregar de verdade.
E aquele bobo que se apaixona pelo simples bater de cílios, por cada vogal, cada consoante que sai da boca de alguém? Esse bobo apaixonado precisa se privar de sentir por que amanhã poderá sofrer ou se arrepender por ter amado?
Se arrepender por ter amado?? Prefiro me arrepender por odiar, por querer mal, por ser ruim, não por amar. E nada de pensar em sofrer. Vamos sofrer pelo que importa. A morte de um ente querido, a guerra, a fome, a pobreza. Isso sim merece nosso sofrimento. Mas amor... o amor não existe para fazer sofrer. Se faz, então talvez você esteja sentindo alguma coisa que tenta se passar por. 

Elmo.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Estranhos.

1965-Amarante abandona mulher e filhos numa cidade do interior para viver ao lado de uma atriz de teatro chamada Madalena, em outra cidade.
1966- Madalena, usando o nome de Rita, mantém um caso com Otávio.
1967- Cansada das viagens e boemias de Amarante, Madalena o abandona, vende a casa e o deixa na rua. De recordação, deixa apenas uma carta escrita num papel de pão e um sapato, que esquece no quintal de casa. 
1968-Otávio, quando descobre que era amante de Rita, resolve abandona-la para viver a vida boêmia e quem sabe, encontrar um amor verdadeiro. 
1972- Numa rua qualquer, um homem chamado Amarante lê mais uma vez a carta escrita por sua amada traidora. Esta carta é encontrada por Otávio que se encanta pelas palavras da moça e decide procurar a tal Madalena, jovem solitária e desprezada. O destino o coloca no caminho de Amarante, de quem vira amigo. E do diálogo dos dois em uma calçada qualquer, acabam descobrindo que a traição sempre encontra o traidor.

Estranhos- ensaio sobre a traição
Com: Elmo Ferrér e Láidison Peixoto
Dramaturgia: Elmo Ferrér

A ultima postagem.


Essa é uma postagem de dispidida. Percebo que aos poucos minha vida virtual comessa a perder o çentido. A dias venho publicando coisas no meu facebook, no twitter, no blog, no escambaú e nimguém, nimguém, eu disse NIMGUÉM me compartilha, me curte, me comenta, me cutuca ou me segue. As vez eu penso que sou um lixo virtual. Não sei, eu achei que fosse querido afinal tenho quase 234 amigos no Face e 7 seguidor no twitter. A galera do Orkut até era legal. Eu postava alguma coiza e sempre alguém comentava com um "Hum" ou um "Rs". Mais hoje em dia, nada disso. Eu fico o dia inteiro na frente di computador esperando anciosamente que alguém curta o que acabei de postar e o que eu recebo de troca é o desprezo virtual de todos. Não sei mais se vale a pena continuar...me sinto só, desprezado. Acredita que já cheguei até a pensar em me matar e pedi pra alguém publicar a foto do meu corpo no Facebook? Mais daí fiquei pensando se as pessoas ia curtir. Será que alguém vai compartilhar, comentar? Se isso aconteser ficarei feliz, pois esse sempre foi meu sonho. Já publiquei algumas frases de ums escritor famoso pra acharem que fui eu, mais nem assim. Bem, o que importa agora é que eu decidi morrer virtualmente e se caso essa carta de dispidida for curtida, compartilhada ou comentada por alguém, não me importo mais. Se ninguém me notou em vida, não me intereça depois de morto. Vô morrer sem saber o purque nimguém gosta de mim.
 Com lágrimas caídas sobre o teclado do meu PC, me dispeço, dispesso... eu vou embora. Fui!

Ass: Internauta indiginado. com