quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Mais uma vez...

Eu não consigo me libertar de você. Não consigo me libertar desse sentimento e dessa dor pela perda. Eu não me preparei para viver sem você e o mais engraçado é que nem eu mesmo sabia o quanto te amava.
Esse lance de "dar valor quando perde" não tem nada a ver. Sempre dei valor a cada segundo que passamos juntos e sempre deixei isso tão claro.
Será que o meu único erro foi te amar? Não querer ficar do seu lado?
Será que me erro foi pensar em você em todas as canções que ouvi?
Escrever você em cada poema?
Comer você em cada pedaço de amor que ingeri?
Mais uma vez eu me pego falando, pensando em você. E eu que jurei para mim que jamais faria isso de novo.
Essa doença precisa ter cura. 
Já deixei de ouvir as músicas que me lembram você. Já deixei de ir pros lugares que frequentávamos juntos e de falar com as pessoas que te conhece, mas, ainda assim, você está em mim como esteve ontem, como esteve mês, ano passado.
Eu tento entender o porquê de não te esquecer e não encontro respostas. Essas perguntas que me confundem, que me matam todos os dias.
Merda! Como tirar isso do meu coração? Eu não quero mais te amar, eu não quero mais pensar em  você, mas a medida que peço, eu lembro, eu te amo...!

Elmo Ferrér

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A força do dom.

Estou com uma página no facebook chamada " A força do dom", que vem sendo bastante elogiada e comentada, tanto que o alcance semanal chegou a 360 visitas. Aqui, você confere os três textos mais comentados e compartilhados da semana.


http://www.facebook.com/pages/A-for%C3%A7a-do-dom/125858634197829


I.
Preciso mesmo me acostumar a viver sem você assim, do dia pra noite? Como um amor que parecia ser tão belo acaba de uma hora pra outra? Era amor? Sim, era o que eu sentia. E acredito que ainda sentirei por mais algum tempo, porque amei de verdade, intensamente, completamente. Nada apaga o que eu sinto, está em mim, impregnado. Me acostumei a te amar de tal forma, que nem me dei conta que o que você sentia por mim não era o mesmo. Amei por dois...! Não é fácil viver sem você, mas sei que vou me acostumar. Sei que isso vai cicatrizar. É hora de cuidar de mim!


II.

E mais uma vez aqui estou, pensando em você. Pensando em te dizer que você consome meu dia sem ao menos saber. Que não consigo ler, não consigo prestar atenção em mais nada. Pensar em você até então, tem sido a razão dos meus dias. Quero, preciso te dizer, que nada mais tem graça sem você por perto. Que nada mais me desperta o interesse e que meu mundo só ganha cor quando estou com você. Como eu consegui viver sem você até agora? Como alguém consegue viver sem alma por tanto tempo? Como alguém consegue se iludir achando que já amou, que já encontrou a pessoa certa, que já disse tudo que tinha pra dizer? Meu Deus... você é meu sentido, entende? Eu não sei se estou escolhendo as palavras certas pra dizer o quanto te amo, nem sei se... ah, pode parecer que... não sei de mais nada.
É você. É apenas, simplesmente, unicamente você quem me faz ver a vida de outra maneira, que é o meu relógio, que é minha bússola, meu tempo, meu verbo. Nem se te sufoco com tantas palavras, queria mesmo te sufocar de beijos e abraços. Estou pensando o que farei agora sem você aqui. Não consigo fazer mais nada, mal consigo dormir e comer. Tá tudo tão entediante...!
Quero você comigo pra sempre. Eu te amo e isso me assusta ao mesmo tempo que é tão bom.
Amar você é bom!

III.

Como disse o poeta, "mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira". Não podemos fugir de quem realmente somos. Como somos humanos e vivemos diversas fases, é normal que queiramos mudar algumas coisas que não nos satisfazem. Mas, quando essas mudanças passam a ser por alguém, algo está errado. Por mais que tenhamos defeitos e coisas que não agradem os outros, devemos sempre pensar no que podemos mudar para que sejamos melhores e não, para agradar ou ser o "número certo" para alguém. O que você tem, é o que há de mais preciso e único e não vale a pena mudar para satisfazer outrem. Quem te ama, te ama como você é. Principalmente com os seus defeitos. Se você retira defeitos para ser perfeito para o outro, você não está sendo verdadeiro com você. Porque a perfeição só existe na cabeça daqueles que não sabem viver, porque quem vive de verdade sabe que os defeitos são essenciais em nossa vida, pois são eles que nos levam a evoluir em prol de nós mesmos e não dos outros.
Pense nisso e não esqueça: Você tem a obrigação de ser feliz e isso não depende de outra pessoa !

Elmo Ferrér

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Um pensamento.


 "Enquanto muitos buscam a vida na vida dos outros, comentando fatos relevantes e um tanto quanto supérfluos, eu busco o concreto, mas que não deixa de ser sonho, que não deixa de dar o friozinho na barriga que o desconhecido causa. Devemos buscar sempre a vida nas pequenas coisas e naquelas onde parece que não há. Aquela folha que caiu e se decompõe é um exemplo de que a vida está ali. De que há vida. Se hoje ela morre, um dia ela nasceu. Certamente, enquanto caía da copa da árvore, ela pôde sentir o vento leve toca-la e certamente, pôde sentir que, se sente o ar é porque há vida. A queda será dura, o estado que levará até a morte, também. Mas há vida. Há e sempre haverá aquele que olhe aquela folha como única ou como mais uma que compõe aquele tapete de folhas que enfeitam o jardim. Assim também, o balão, que voa livremente pelo ar. Não poderá voar pensando no bico do pássaro ou no arame farpado que o estoure, mas, deve voar pensando que há vida e enquanto há vida, há sempre esperança. Quando algo te desanimar ou alguém disser que não conseguirá, pense: há vida, há brilho, há dentro de mim alguém maior do que penso e que é invisível aos olhos dos que morrem cotidianamente, esperando vida na vida dos outros...!"

Elmo Ferrér

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Réquiem para a solidão.


Ah, solidão. Tristeza dos amantes e alegria dos poetas. Nos casamos embaixo de uma árvore sem folhas e de um céu pesado, de nuvens negras. Um coral de pássaros de asas cortadas cantava uma Ave-Maria enquanto você chegava, com um longo vestido negro, um véu de tule grosso e um buquê de folhas daqueles livros, daquelas cartas, daqueles poemas.
Um beijo sela nosso enlace. A tempestade cai sobre nós. Nossa lua de mel acontece ali mesmo. Um homem na chuva, trocando carícias com o vento. Pássaros de asas cortadas, cantando a canção morta e incompreensível, únicos presentes e testemunhas da cerimônia. Ali estão apenas porque não sabem voar.

Simplesmente.


Desde aquele dia no parque, quando o vento soprou seu cabelo de leve, desde aquele momento, eu te amo!
Você estava longe de mim, talvez nem tenha percebido minha presença, mas eu, eu te notei, eu te vi, eu te senti. Eu pude sorrir o seu sorriso bobo e pude piscar seu olho cor de mel. Eu pude passar pelo que você passava e ouvir o que você ouvia...!
O amor é assim, ele não escolhe momento nem pessoa certa. Ele simplesmente vem e, impiedosamente, nos obriga a ser seu escravo. Nunca pedi para você me amar, porque o meu amor por você simplesmente aconteceu. Assim como uma folha que se solta do galho e cai lentamente sobre outras, assim como uma pequena onda que bate na rocha, assim como um pássaro que descobre que sabe voar, o amor, simplesmente acontece.
Ele, sábio e ao mesmo tempo ignorante que é, escolheu que meu tempo de senti-lo é o agora e que a pessoa a quem eu o daria seria você. Simplesmente.
Posso te observar por horas ou pensar em você por décadas. Posso te ouvir o dia inteiro ou simplesmente, saborear o seu silêncio. Te amar é algo que não impõe tantas regras como o “se eu te amo,tu me amas”. Te amar é simplesmente, te amar.
Um dia poderá passar ou  ficar comigo a vida inteira. Posso casar e continuar te amando. Posso ficar eternamente só e só te amando. Posso acordar e descobrir que meu amor acabou com o  sonho. Te amar é natural. Natural como o tempo que vem e vai sem  ao menos dermos conta do quanto é importante.
Te amar é simplesmente assim.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

II- Apenas.


Passou.
Aquela fase de querer apenas ser alguém melhor para impressionar alguém.
Aquela fase de querer apenas ter o mais belo corpo para que me achassem bonito.
Aquela fase de querer estudar para provar que sou inteligente.
Aquela fase de apenas viver em função de mostrar pro mundo que existo.
Entendo hoje que tudo é fase e que tudo passa. Tanto as alegrias quanto as dores.
Percebo que, por mais que você se proíba de sofrer, sempre vai buscar algo que te faça sofrer, mesmo que um pouco. O sofrimento é uma necessidade tão vital quanto a felicidade. É preciso sofrer para evoluir, algumas vezes.
Nunca soube de alguém que evoluiu apenas sendo feliz. A felicidade de certa forma faz você estagnar. É um sentimento (se podemos chamar assim) que acomoda.
Sempre que se sofre, pensa-se em mudança.
Algumas pessoas não mudam quando sofrem, parecem gostar de sofrer ou, aceitar que deve sofrer.
Essa fase de sofrimento que passo é complicada, chata, incômoda, mas reconheço que necessária.
Vou mudar, certamente. Sempre se muda quando se sofre.
Mas não mudo mais em função ou por causa de alguém. Agora, mudarei em mim apenas aquilo que me incomoda ou que não me faz feliz.

Elmo.

I- O querer.


E até quando devo dizer que quero algo? Não seria melhor, ao invés de querer, correr atrás? Não seria melhor, ao invés de querer, não querer? Por que tudo que quero nem sempre consigo e por sua vez, muitas vezes tenho apenas o que não quero, mas que, de certa forma me satisfaz.
A cada momento eu me pego querendo alguma coisa. Seja ela mudar de vida ou apenas esquecer quem não quero mais. E acabo mais uma vez esbarrando no querer ou no não querer.
Ah, se não te querer dependesse apenas da minha vontade...!

Elmo

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Mais uma vez...


Estou, sou, permaneço e me encontro... sozinho!
Não dá para viver sempre virando a ampulheta quando bem entendo e começando de novo.
A calma já não está mais aqui como antes e a paciência para saber esperar, se foi, junto com a esperança.
Mais uma vez eu me engano, eu me iludo, eu sofro e choro por alguém.
Será que me amo tão pouco a ponto de me fazer sempre tão mal?
Por que tudo que vivo e sinto é reflexo do que eu faço para mim.
As pessoas, de certa forma, não tem culpa de serem como são. Eu traço metas, eu crio planos.
Eu, sempre eu.
Talvez a conclusão que tiro disso tudo é que no mundo existem dois tipos de pessoas: as que nasceram e as que não nasceram para serem amadas!
E certamente me incluo na segunda opção.
Talvez o que me falte é amor próprio e suficiente para me amar mais e sempre mais que os outros.
Para me preocupar mais comigo. Para perder tempo comigo. Para viver comigo.
Egoísmo seria uma palavra bem aplicada agora.
Não posso pedir para quem não tem coração, que entenda o que sinto.
Também não posso mais viver sonhando e acreditando que um dia vai dar certo.
Preciso viver e isso é contraditório por que a cada dia morro um pouco.
Os risos e momentos bons são forçados,forjados.
E do outro lado há quem me espere e que descartei.
E a conclusão que tiro é que antes de sofrer devo pensar que também ja devo ter feito alguém sofrer.
Mas a verdade, essa que me falta agora e que se esconde por trás do silêncio, essa, jamais deixei de dar a alguém.
E é apenas isso que cobro: verdade!
Mais uma vez estou eu aqui, escrevendo sobre sentimentos. Tentando por pra fora o que não tem mais vida. Tentando dar sentido ao que não tem mais sentido.
Tentando tirar leite de pedra.
A única certeza que tenho é que, hoje, você morreu pra mim.
E isso foi necessário para que eu percebesse que eu também morri.

Elmo Ferrér

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Distraído.



O trem de cor azul chega na estação e ele mais uma vez, senta-se no último banco esperando que a mulher da sua vida sente-se ao seu lado.


Passam cinco estações e ninguém senta ao seu lado. As pessoas preferem ficar em pé em meio a um trem lotado, mas sentar ao seu lado, nada.

Será que há algum problema? –pensa ele.- Será que estou fedendo? – ele verifica cheirando as axilas. Nada. O desodorante ainda esta ali, firme e forte.

Qual será o motivo de ninguém sentar ao seu lado?

Na sexta estação, entra uma moça baixa, branca e de vestido florido. Seus cabelos loiros estão presos com um coque e na orelha, brincos delicados. Se vê que é uma moça mais introspectiva, pelo seu modo de se vestir e se comporta. Ela sim seria a mulher ideal. Ela sim, senta-se ao lado dele.

- Com licença! – diz ela timidamente. – Posso sentar?

- Claro!- ele respondeu um pouco nervoso.

A viagem foi seguindo e a vontade dele, era perguntar qual o nome da moça, mas claro, isso seria impossível. Primeiro por que seria indelicado. Ou por que seria estranho. Ou por que ela poderia ficar chateada e lhe dar uma bolsada. Ou começar a gritar e chamá-lo de tarado. Não, o melhor mesmo é seguir a viagem.

- O senhor tem horas?- ela disse e ele ouviu como se fossem badaladas.

- José!

- Como? –ela da uma pequena risada. –Não senhor, não perguntei o seu nome, apenas as horas.

- Horas?

- Sim, horas. O senhor está bem?

Ele olha para ela por algum instante e depois olha no relógio.

- Cinco pras quatro.- diz, virando-se para a janela.

- Obrigada!- diz ela desapontada.

Ele não responde. Ela, mais uma vez, tenta puxar papo.

- O senhor sabe se falta muito pra chegar na estação da luz senhor José?

Ele vira instantaneamente, assustado.

- Como sabe meu nome?

- O senhor me disse, não lembra?

- Ah, sim. É verdade. Desculpa, estou distraído.

- Eu percebi. Mas... então! O senhor sabe?

- O quê?

- Se ainda falta muito para chegar na estação da luz.

- Ah, sim. Não.

- Não falta muito?

- Não.. é que eu não sei.

- Ah, sim!

Os dois se olham por um instante. E ele, novamente, se vira para a janela.

- Dizem que a estação da luz é a mais linda da cidade. –diz ela.- Estou indo lá só para conhecer mesmo. Não sou daqui. Venho do interior de Minas. Vim passar um tempinho aqui, lá onde eu moro é muito parado. Mas é complicado andar sozinha, não conheço ninguém aqui. O senhor está indo pro trabalho?

Ele esta olhando pela janela, meio alheio.

- Senhor?- ela toca em seu ombro e ele se assusta.

- Ah, desculpa. Estou meio distraído. O que perguntou?

- Se está indo pro trabalho.

- Ah, não, não. Estou andando sem rumo. Sempre entro neste trem e sento neste mesmo lugar. A minha esperança é que a mulher da minha vida sente-se ao meu lado, que a gente comece a conversar informalmente. Daí, quando menos se espera, a gente se apaixona, casa, tem filhos... essas coisas. Acha que estou sonhando demais?

- Não, imagina! Eu também tenho o mesmo sonho sabe? Encontrar alguém por acaso, começar a conversar e me apaixonar meio sem querer.

- Será que ela virá? – diz ele.

- Ela quem?

- A mulher da minha vida.

- Ah, sim. Desculpa, esqueci de me apresentar. Adriana.- ela estende a mão para cumprimentá-lo.

Ele aperta a mão dela ligeiramente.

- Prazer Adriana. Meu nome é José.

- O senhor já disse!

- É verdade!

Os dois se olham por um instante e ele volta a olhar pela janela.

O auto falante anuncia a próxima estação.

- Ah, a próxima estação é a da luz. O senhor vai descer nela ou em outra?

Ele não responde e continua olhando pela janela.

- Bem, foi um prazer senhor José. Quem sabe, podemos nos encontrar qualquer dia... até mais!

Ela levanta. O trem para, a porta se abre e ela, sai.

Um homem de paletó senta-se.

- Com licença, o senhor tem horas? – diz o homem tocando-lhe o ombro.

- Sim. Eu aceito descer na estação com você e te conhecer melhor e quem sabe podemos nos apaixonar e...- ele olha o homem nos olhos, assustado.- O que aconteceu com a mulher que estava aqui?

- Mulher? –diz o homem indignado.

- Sim, a mulher. Adriana, se não me engano. Estávamos conversando faz pouco tempo.

- Bem, não vi mulher alguma, desculpe. Acabei de entrar e como o senhor pode ver, o trem está quase vazio.

- Já passamos da estação da luz?

- Sim. Já estamos na quarta depois dela.

- Será então que andei sonhando demais? Será que tudo foi fruto da minha imaginação? Eu poderia jurar que uma mulher sentou do meu lado e que ela seria a mulher da minha vida.

- Bem, as vezes o senhor pode ter se distraído.

- É... pode ser. Eu sou mesmo um pouco distraído.

O trem segue sua viagem. Amanhã, ele pegará novamente o mesmo vagão azul e sentará no mesmo banco, esperando, incansavelmente, pela mulher da sua vida.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Vingativa- um conto mexicano-.


Uma elegante dama está sentada em uma das poltronas brancas da sala de espera. Vestido, chapéu,bolsa,óculos, sapatos,batom e esmaltes vermelhos. Em suas mãos, uma revista de fofocas que ela, folheia calmamente, molhando a ponta do dedo e passando folha por folha, lentamente. Em seu colo, um ramalhete de rosas brancas envolvido por uma fita de cetim vermelha..

-Senhora Catherinne Barros Motta! - chama a recepcionista.

Ela levanta-se elegantemente e vai até o balcão.

- Senhorita, Catherinne Barros, apenas. Não uso mais o nome de casada.

-Perdão!

- Tudo bem. Todo mundo comete erros e eu cometi um, há um tempo atrás, mas sempre é hora de repará-lo. Qual o numero do quarto?

- 242.

-Obrigada.

Ela dá de costas e segue pelo corredor branco.

Em frente a porta branca, ela retira os óculos. Bate duas vezes e entra.

No quarto, numa maca branca, Agenor, deitado de barriga para cima e envolto em um lençol branco, mexe os olhos para ver quem entra.

Ela se aproxima calmamente. O som dos seus saltos parecem ponteiros marcando horas. Neste caso, de terror, intermináveis.

Os olhos dele arregalam-se. Ele faz força para falar.

- Oi...meu amor!- diz ela com olhar doce- Não precisa fazer força para demonstrar o tamanho da sua felicidade em me ver aqui. Eu sei... tudo o que você desejou foi a minha visita e aqui estou.

Ele, com respiração ofegante, tenta dizer mais uma palavra.

- Vo...vo...

- Não querido. Não é o vovô... sou eu, sua amada.- ela da uma gargalhada- Desculpa, eu tive que fazer essa piadinha agora, não resisti. Você sabe que bom humor sempre foi meu forte. Vim ver como você está. E estou vendo... você tá mal! Coitado!

Ele tenta mais uma vez fazer força para falar.

- Eu já disse para não se esforçar querido- disse ela jogando as rosas sobre ele- Trouxe rosas! Brancas! Simbolizando a pureza dos meus sentimentos. Sabe meu amor, eu pensei muito sobre o que aconteceu há duas semanas atrás e, depois de passar noites inquietantes decidindo se viria aqui ou não, peguei o seu cartão e comprei o melhor vestido da loja mais cara da cidade. Afinal, eu não poderia vir de qualquer jeito. O chapéu e os sapatos também são da mesma loja e sim, custaram caro. Muito caro. Mas fica tranqüilo, a bolsa foi brinde e você não precisará pagar a conta.

Ela encosta-se na cama.

- Eu lamento tanto a fatalidade que aconteceu... tanto!

Ele,inquieto tenta levantar ao que ela o empurra de volta.

- Não faça força para me abraçar. Não é momento para isso. Fique quietinho ai, menino mal educado. A mamãe não gosta de criança mal criada. – ela da outra gargalhada- Você vê que ironia...sempre brincamos de papai e mamãe sendo que eu tenho idade para ser sua tataraneta, mas, tudo bem, o que a gente não faz por amor..? Mas, onde eu estava mesmo? Ah sim, me desculpando pela fatalidade. Gente... eu sempre dirigi tão bem. Eu não sei mesmo o que aconteceu para que eu perdesse o controle e deixasse o carro cair no despenhadeiro. Eu até gostava daquele carro sabia? Mas enfim, as vezes é preciso perder algumas coisas na vida para se chegar a um objetivo mais concreto. Mas sabe? Eu fiquei surpresa comigo mesma. Consegui pular do carro segundos antes. Depois, consegui descer aquela serra cheia de mato... você acredita que minha meia ficou toda desfiada? Não, mas certamente o mais difícil foi passar você do banco do carona para o do motorista. Eu realmente me surpreendi comigo mesma. Depois ainda fiquei lá, deitada, bancando a morta até chegar o socorro. Salvem meu marido!!! Salvem meu marido!! Eu gritava. Você ouviu? Acho que não. Eu podia jurar que você estava morto.

Ele começa a se debater na cama.

- Amor, não faça esforço, já disse. Sabe que a ultima vez que você se debateu assim foi para ter aquele orgasmo que você, claro, não conseguiu ter. Tadinho. Eu sempre fui muito paciente e compreensiva. Acho que até mais que a Márcia. Ah, a Márcia... minha melhor amiga. Sabe, eu jamais poderia imaginar que vocês tinham um caso? Como eu fui ingênua. Naquele dia que peguei vocês dois juntos na minha cama eu realmente fiquei muito abalada e, confesso, se eu soubesse que iria quebrar a minha unha, jamais teria dado um tapa na cara dela. Mas o mais difícil mesmo, foi fingir que eu havia perdoado a traição dos dois. Mas, como a vingança é um prato que se come frio, eu tive paciência... e como tive!

Ele faz força para falar.

- Quê? Fala mais devagar, não estou entendendo... Acho que você quer saber da Márcia não é? Não se preocupe, ela esta ótima. Acharam o corpo dela. Coitada... queimada em um pneu na favela e ainda sair em todos os jornais como refém de traficante foi foda! Mas enfim, eu lembro que ela sempre dizia que queria ser cremada. Adiantei o serviço e como sou boa, ainda realizei o sonho dela. Ah, minha amiga... que Deus a tenha.

A respiração dele começa a ficar ofegante.

- É querido... cada ação tem uma reação! É a vida. Ou você realmente acreditou que eu iria deixar tudo pra lá e continuar contigo como se nada tivesse acontecido? Aquela viagem para serra para uma possível lua de mel de reconciliação foi apenas a carta que faltava no meu baralho. Baralho esse, cujo o curinga veste vermelho. Vermelho sangue! Minha cor predileta. Acho que você percebeu. Ah, querido, como eu queria que você ficasse bem, mas acho que isso será improvável.

Ela retira da bolsa uma seringa e injeta o líquido incolor no soro.

- Olha, por favor, não pense que estou te matando. Eu seria incapaz de fazer isso. Mas o que todos sabemos é que você vai morrer e eu ,estou apenas adiantando. Como me dói ver você agonizando na cama. Na verdade, pelos meus cálculos, você vai começar a agonizar... –olha no relógio- agora!

Ele começa a se debater na cama violentamente.

Ela força um choro.

- Querido. Como me dói ver você sofrendo. Será que você esta sofrendo como eu sofri quando descobri que fui traída por seis anos? Agora, estou eu aqui, vendo você morrer... o que eu farei da minha vida sem você? Bem, primeiro eu vou ver como administro todos os bens, que por sinal, são muitos. Depois, para superar a dor, farei uma viagem ao redor do mundo com a Cecília. Cecília amor... a minha depiladora. A depilação dela é maravilhosa. E o bom é que ela faz o serviço completo, se é que você me entende. Mas, querido, não morra preocupado com as finanças, afinal, você não vai pagar nada.

Ele se debate na cama . Ela começa a chorar e chamar pelos enfermeiros.

- Salve meu marido! – É tudo o que ela diz.

Tentativas em vão. Ele morre e ela, desconsolada, grita um não capaz de ser ouvido em outro país.

Aliás, é onde ela esta agora. Do alto da Torre Eiffel, sentada a mesa,elegantemente, ela levanta a mão.

- Garçom, por favor, traga-me o prato de entrada.- diz ela.

- Pois não senhora! – ele dá de costas.

- Ah, garçom. Frio, por favor.

Ela toma um pouco do seu proseco e pensa.

- Ah, se a vingança é um prato que se come frio, que seja em Paris.





Elmo Ferrér

Solto.



Era outono e eu, como sempre, me sentei no banco daquela praça. Como sempre fiz durante uma vida inteira.
Você me apareceu propondo uma aventura. Sair daquele lugar e voar com você de mãos dadas.
Eu hesitei, mas me entreguei. Segurei em sua mão e voei contigo o mais alto que pude.
Mesmo quando a altitude,que pra você era gostosa, começava a me incomodar, ainda assim, eu continuei indo cada vez mais alto.
A felicidade por estar voando de mãos dadas com você era maior que qualquer medo de altura. E aquele frio na barriga que eu senti, já não me era estranho.
Eis que quando muito alto estávamos, que quando a segurança que sentia se confrontava com o medo, você me solta.
Eu. Corpo a voar pelo espaço.
Eu. Lágrimas que caem em descompasso.
Eu. Corpo que cai e se desfaz, em mil pedaços.
Eu. Esperança perdida.
Eu. Não sei mais voar.
Meu corpo estendido e desfeito. Olhos ainda abrem a tempo de ver. Você.
Voando sozinho a me olhar com olhos de tristeza.
Eu não sou pássaro do seu bando.

Elmo Ferrér