Ele sempre sentava em um banquinho embaixo da árvore mais antiga da praça. Linda, grande, sombra boa...no tronco, desenhos de corações apaixonados. Alguns feitos por eles e Ana. Desde que ela falecera, sua rotina cotidiana se resume a isso: sentar-se embaixo da árvore. Nem bem chega, crianças que brincam na rua logo o rodeiam. É hora da história. Ao abrir o grande livro de capa dourada, tão velho quanto ele, personagens mágicos saem e se fazem vivos dentro da imaginação de quem as ouve. E são inúmeros. O menino que matou um dragão, a menina que virava fada, o cachorro que falava, o homem que virava boto...inúmeras.
Mais um dia se finda, as crianças precisam tomar banho, comer, jantar, dormir... E ele, no seu monólogo cotidiano de fim de tarde, sentar-se na poltrona da sala em meio a porta- retratos. É sempre assim: senta-se, e começa a contar histórias para ele e para as imagens de Ana. Foi assim que ele a conquistou. E é isso que o mantém vivo, além da esperança de logo vê-la. Em seu livro, não há nada escrito. Ele não sabe ler. Todas as histórias que conta são inventadas, fantasias de sua criança interior.
Ele espera pacientemente sua hora chegar abrindo o livro e começando uma vida nova a cada dia.
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