domingo, 11 de julho de 2010

Vidas Inventadas

Ele sempre sentava em um banquinho embaixo da árvore mais antiga da praça. Linda, grande, sombra boa...no tronco, desenhos de corações apaixonados. Alguns feitos por eles e Ana. Desde que ela falecera, sua rotina cotidiana se resume a isso: sentar-se embaixo da árvore. Nem bem chega, crianças que brincam na rua logo o rodeiam. É hora da história. Ao abrir o grande livro de capa dourada, tão velho quanto ele, personagens mágicos saem e se fazem vivos dentro da imaginação de quem as ouve. E são inúmeros. O menino que matou um dragão, a menina que virava fada, o cachorro que falava, o homem que virava boto...inúmeras.
Mais um dia se finda, as crianças precisam tomar banho, comer, jantar, dormir... E ele, no seu monólogo cotidiano de fim de tarde, sentar-se na poltrona da sala em meio a porta- retratos. É sempre assim: senta-se, e começa a contar histórias para ele e para as imagens de Ana. Foi assim que ele a conquistou. E é isso que o mantém vivo, além da esperança de logo vê-la. Em seu livro, não há nada escrito. Ele não sabe ler. Todas as histórias que conta são inventadas, fantasias de sua criança interior.
Ele espera pacientemente sua hora chegar abrindo o livro e começando uma vida nova a cada dia.

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