quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Maria, a louca.

Ela senta no meio fio de uma rua qualquer, olhos pretos de maquiagem borrada, pingos de chuva ácida caindo do céu molham seus cabelos vermelhos desbotados.

Ela abre o agenda de 95 qua ainda usa para escrever versos que não tem coragem de mostrar pra ninguém.

Numa folha manchada se encontra a rosa seca que ganhou de sua ex.

Numa folha seca encontra a palavra manchada por lágrimas que derramou por sua ex.

Maria, a louca. Assim é chamada por várias pessoas que a conhecem, ou não. Só por que tem o estranho hábito de dançar pelada na rua enquanto a chuva cai.

Para ela, isso é natural. Quantas tantas outras saem por ai quase peladas e são apenas chamadas de bonitas?

Ela pega bitucas de cigarro que encontra pelas calçadas e fuma. Ela pega bitucas de amor que desperdiçam e guarda no paletó velho que usa.

Maria, a louca. Assim é chamada por aqueles que a conhecem,ou não. Só por que uma vez matou um gato que a arranhou. Para ela, isso é natural. Quantas tantas outras saem por ai matando muriçocas que as picam?

Ela pega pedaços da primeira carta de amor que recebeu e reconhece frases soltas que um dia, quiseram dizer alguma coisa que acabou por se tornar frases soltas e sem sentido algum.

Ela se olha em uma poça d’água e se vê embaçada. Ela se olha no vidro da loja atrás dela e se vê embaçada.

Maria, a louca. Assim é chamada por aqueles que a conhecem, ou não. Só por que uma vez bateu em uma criança que a chamou de louca. Para ela, isso é natural. Quantas tantas outras saem por ai batendo nos outros com palavras que machucam ainda mais?

Ela abre a bolsa feita de retalhos de tecido e retira um vidro com uma última gota de perfume. Seu momento se confunde com o vidro. 95% vazio, com um resto de algo que só poderá ser usado apenas mais uma vez.

Maria, a louca. Assim é chamada por aqueles que a conhecem, ou não.

Nenhum comentário:

Postar um comentário