Ela senta no meio fio de uma rua qualquer, olhos pretos de maquiagem borrada, pingos de chuva ácida caindo do céu molham seus cabelos vermelhos desbotados.
Ela abre o agenda de 95 qua ainda usa para escrever versos que não tem coragem de mostrar pra ninguém.
Numa folha manchada se encontra a rosa seca que ganhou de sua ex.
Numa folha seca encontra a palavra manchada por lágrimas que derramou por sua ex.
Maria, a louca. Assim é chamada por várias pessoas que a conhecem, ou não. Só por que tem o estranho hábito de dançar pelada na rua enquanto a chuva cai.
Para ela, isso é natural. Quantas tantas outras saem por ai quase peladas e são apenas chamadas de bonitas?
Ela pega bitucas de cigarro que encontra pelas calçadas e fuma. Ela pega bitucas de amor que desperdiçam e guarda no paletó velho que usa.
Maria, a louca. Assim é chamada por aqueles que a conhecem,ou não. Só por que uma vez matou um gato que a arranhou. Para ela, isso é natural. Quantas tantas outras saem por ai matando muriçocas que as picam?
Ela pega pedaços da primeira carta de amor que recebeu e reconhece frases soltas que um dia, quiseram dizer alguma coisa que acabou por se tornar frases soltas e sem sentido algum.
Ela se olha em uma poça d’água e se vê embaçada. Ela se olha no vidro da loja atrás dela e se vê embaçada.
Maria, a louca. Assim é chamada por aqueles que a conhecem, ou não. Só por que uma vez bateu em uma criança que a chamou de louca. Para ela, isso é natural. Quantas tantas outras saem por ai batendo nos outros com palavras que machucam ainda mais?
Ela abre a bolsa feita de retalhos de tecido e retira um vidro com uma última gota de perfume. Seu momento se confunde com o vidro. 95% vazio, com um resto de algo que só poderá ser usado apenas mais uma vez.
Maria, a louca. Assim é chamada por aqueles que a conhecem, ou não.
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