terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Vingativa- um conto mexicano-.


Uma elegante dama está sentada em uma das poltronas brancas da sala de espera. Vestido, chapéu,bolsa,óculos, sapatos,batom e esmaltes vermelhos. Em suas mãos, uma revista de fofocas que ela, folheia calmamente, molhando a ponta do dedo e passando folha por folha, lentamente. Em seu colo, um ramalhete de rosas brancas envolvido por uma fita de cetim vermelha..

-Senhora Catherinne Barros Motta! - chama a recepcionista.

Ela levanta-se elegantemente e vai até o balcão.

- Senhorita, Catherinne Barros, apenas. Não uso mais o nome de casada.

-Perdão!

- Tudo bem. Todo mundo comete erros e eu cometi um, há um tempo atrás, mas sempre é hora de repará-lo. Qual o numero do quarto?

- 242.

-Obrigada.

Ela dá de costas e segue pelo corredor branco.

Em frente a porta branca, ela retira os óculos. Bate duas vezes e entra.

No quarto, numa maca branca, Agenor, deitado de barriga para cima e envolto em um lençol branco, mexe os olhos para ver quem entra.

Ela se aproxima calmamente. O som dos seus saltos parecem ponteiros marcando horas. Neste caso, de terror, intermináveis.

Os olhos dele arregalam-se. Ele faz força para falar.

- Oi...meu amor!- diz ela com olhar doce- Não precisa fazer força para demonstrar o tamanho da sua felicidade em me ver aqui. Eu sei... tudo o que você desejou foi a minha visita e aqui estou.

Ele, com respiração ofegante, tenta dizer mais uma palavra.

- Vo...vo...

- Não querido. Não é o vovô... sou eu, sua amada.- ela da uma gargalhada- Desculpa, eu tive que fazer essa piadinha agora, não resisti. Você sabe que bom humor sempre foi meu forte. Vim ver como você está. E estou vendo... você tá mal! Coitado!

Ele tenta mais uma vez fazer força para falar.

- Eu já disse para não se esforçar querido- disse ela jogando as rosas sobre ele- Trouxe rosas! Brancas! Simbolizando a pureza dos meus sentimentos. Sabe meu amor, eu pensei muito sobre o que aconteceu há duas semanas atrás e, depois de passar noites inquietantes decidindo se viria aqui ou não, peguei o seu cartão e comprei o melhor vestido da loja mais cara da cidade. Afinal, eu não poderia vir de qualquer jeito. O chapéu e os sapatos também são da mesma loja e sim, custaram caro. Muito caro. Mas fica tranqüilo, a bolsa foi brinde e você não precisará pagar a conta.

Ela encosta-se na cama.

- Eu lamento tanto a fatalidade que aconteceu... tanto!

Ele,inquieto tenta levantar ao que ela o empurra de volta.

- Não faça força para me abraçar. Não é momento para isso. Fique quietinho ai, menino mal educado. A mamãe não gosta de criança mal criada. – ela da outra gargalhada- Você vê que ironia...sempre brincamos de papai e mamãe sendo que eu tenho idade para ser sua tataraneta, mas, tudo bem, o que a gente não faz por amor..? Mas, onde eu estava mesmo? Ah sim, me desculpando pela fatalidade. Gente... eu sempre dirigi tão bem. Eu não sei mesmo o que aconteceu para que eu perdesse o controle e deixasse o carro cair no despenhadeiro. Eu até gostava daquele carro sabia? Mas enfim, as vezes é preciso perder algumas coisas na vida para se chegar a um objetivo mais concreto. Mas sabe? Eu fiquei surpresa comigo mesma. Consegui pular do carro segundos antes. Depois, consegui descer aquela serra cheia de mato... você acredita que minha meia ficou toda desfiada? Não, mas certamente o mais difícil foi passar você do banco do carona para o do motorista. Eu realmente me surpreendi comigo mesma. Depois ainda fiquei lá, deitada, bancando a morta até chegar o socorro. Salvem meu marido!!! Salvem meu marido!! Eu gritava. Você ouviu? Acho que não. Eu podia jurar que você estava morto.

Ele começa a se debater na cama.

- Amor, não faça esforço, já disse. Sabe que a ultima vez que você se debateu assim foi para ter aquele orgasmo que você, claro, não conseguiu ter. Tadinho. Eu sempre fui muito paciente e compreensiva. Acho que até mais que a Márcia. Ah, a Márcia... minha melhor amiga. Sabe, eu jamais poderia imaginar que vocês tinham um caso? Como eu fui ingênua. Naquele dia que peguei vocês dois juntos na minha cama eu realmente fiquei muito abalada e, confesso, se eu soubesse que iria quebrar a minha unha, jamais teria dado um tapa na cara dela. Mas o mais difícil mesmo, foi fingir que eu havia perdoado a traição dos dois. Mas, como a vingança é um prato que se come frio, eu tive paciência... e como tive!

Ele faz força para falar.

- Quê? Fala mais devagar, não estou entendendo... Acho que você quer saber da Márcia não é? Não se preocupe, ela esta ótima. Acharam o corpo dela. Coitada... queimada em um pneu na favela e ainda sair em todos os jornais como refém de traficante foi foda! Mas enfim, eu lembro que ela sempre dizia que queria ser cremada. Adiantei o serviço e como sou boa, ainda realizei o sonho dela. Ah, minha amiga... que Deus a tenha.

A respiração dele começa a ficar ofegante.

- É querido... cada ação tem uma reação! É a vida. Ou você realmente acreditou que eu iria deixar tudo pra lá e continuar contigo como se nada tivesse acontecido? Aquela viagem para serra para uma possível lua de mel de reconciliação foi apenas a carta que faltava no meu baralho. Baralho esse, cujo o curinga veste vermelho. Vermelho sangue! Minha cor predileta. Acho que você percebeu. Ah, querido, como eu queria que você ficasse bem, mas acho que isso será improvável.

Ela retira da bolsa uma seringa e injeta o líquido incolor no soro.

- Olha, por favor, não pense que estou te matando. Eu seria incapaz de fazer isso. Mas o que todos sabemos é que você vai morrer e eu ,estou apenas adiantando. Como me dói ver você agonizando na cama. Na verdade, pelos meus cálculos, você vai começar a agonizar... –olha no relógio- agora!

Ele começa a se debater na cama violentamente.

Ela força um choro.

- Querido. Como me dói ver você sofrendo. Será que você esta sofrendo como eu sofri quando descobri que fui traída por seis anos? Agora, estou eu aqui, vendo você morrer... o que eu farei da minha vida sem você? Bem, primeiro eu vou ver como administro todos os bens, que por sinal, são muitos. Depois, para superar a dor, farei uma viagem ao redor do mundo com a Cecília. Cecília amor... a minha depiladora. A depilação dela é maravilhosa. E o bom é que ela faz o serviço completo, se é que você me entende. Mas, querido, não morra preocupado com as finanças, afinal, você não vai pagar nada.

Ele se debate na cama . Ela começa a chorar e chamar pelos enfermeiros.

- Salve meu marido! – É tudo o que ela diz.

Tentativas em vão. Ele morre e ela, desconsolada, grita um não capaz de ser ouvido em outro país.

Aliás, é onde ela esta agora. Do alto da Torre Eiffel, sentada a mesa,elegantemente, ela levanta a mão.

- Garçom, por favor, traga-me o prato de entrada.- diz ela.

- Pois não senhora! – ele dá de costas.

- Ah, garçom. Frio, por favor.

Ela toma um pouco do seu proseco e pensa.

- Ah, se a vingança é um prato que se come frio, que seja em Paris.





Elmo Ferrér

2 comentários:

  1. Digníssimo!! Sempre falo, se vingança é prato que se come frio, então a vingança é o sorvete! com calda de caramelo!! ahahahahahahahahah
    ADORO!!!

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  2. muito bom...
    quero fazer
    by juoka brasil

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