O trem de cor azul chega na estação e ele mais uma vez, senta-se no último banco esperando que a mulher da sua vida sente-se ao seu lado.
Passam cinco estações e ninguém senta ao seu lado. As pessoas preferem ficar em pé em meio a um trem lotado, mas sentar ao seu lado, nada.
Será que há algum problema? –pensa ele.- Será que estou fedendo? – ele verifica cheirando as axilas. Nada. O desodorante ainda esta ali, firme e forte.
Qual será o motivo de ninguém sentar ao seu lado?
Na sexta estação, entra uma moça baixa, branca e de vestido florido. Seus cabelos loiros estão presos com um coque e na orelha, brincos delicados. Se vê que é uma moça mais introspectiva, pelo seu modo de se vestir e se comporta. Ela sim seria a mulher ideal. Ela sim, senta-se ao lado dele.
- Com licença! – diz ela timidamente. – Posso sentar?
- Claro!- ele respondeu um pouco nervoso.
A viagem foi seguindo e a vontade dele, era perguntar qual o nome da moça, mas claro, isso seria impossível. Primeiro por que seria indelicado. Ou por que seria estranho. Ou por que ela poderia ficar chateada e lhe dar uma bolsada. Ou começar a gritar e chamá-lo de tarado. Não, o melhor mesmo é seguir a viagem.
- O senhor tem horas?- ela disse e ele ouviu como se fossem badaladas.
- José!
- Como? –ela da uma pequena risada. –Não senhor, não perguntei o seu nome, apenas as horas.
- Horas?
- Sim, horas. O senhor está bem?
Ele olha para ela por algum instante e depois olha no relógio.
- Cinco pras quatro.- diz, virando-se para a janela.
- Obrigada!- diz ela desapontada.
Ele não responde. Ela, mais uma vez, tenta puxar papo.
- O senhor sabe se falta muito pra chegar na estação da luz senhor José?
Ele vira instantaneamente, assustado.
- Como sabe meu nome?
- O senhor me disse, não lembra?
- Ah, sim. É verdade. Desculpa, estou distraído.
- Eu percebi. Mas... então! O senhor sabe?
- O quê?
- Se ainda falta muito para chegar na estação da luz.
- Ah, sim. Não.
- Não falta muito?
- Não.. é que eu não sei.
- Ah, sim!
Os dois se olham por um instante. E ele, novamente, se vira para a janela.
- Dizem que a estação da luz é a mais linda da cidade. –diz ela.- Estou indo lá só para conhecer mesmo. Não sou daqui. Venho do interior de Minas. Vim passar um tempinho aqui, lá onde eu moro é muito parado. Mas é complicado andar sozinha, não conheço ninguém aqui. O senhor está indo pro trabalho?
Ele esta olhando pela janela, meio alheio.
- Senhor?- ela toca em seu ombro e ele se assusta.
- Ah, desculpa. Estou meio distraído. O que perguntou?
- Se está indo pro trabalho.
- Ah, não, não. Estou andando sem rumo. Sempre entro neste trem e sento neste mesmo lugar. A minha esperança é que a mulher da minha vida sente-se ao meu lado, que a gente comece a conversar informalmente. Daí, quando menos se espera, a gente se apaixona, casa, tem filhos... essas coisas. Acha que estou sonhando demais?
- Não, imagina! Eu também tenho o mesmo sonho sabe? Encontrar alguém por acaso, começar a conversar e me apaixonar meio sem querer.
- Será que ela virá? – diz ele.
- Ela quem?
- A mulher da minha vida.
- Ah, sim. Desculpa, esqueci de me apresentar. Adriana.- ela estende a mão para cumprimentá-lo.
Ele aperta a mão dela ligeiramente.
- Prazer Adriana. Meu nome é José.
- O senhor já disse!
- É verdade!
Os dois se olham por um instante e ele volta a olhar pela janela.
O auto falante anuncia a próxima estação.
- Ah, a próxima estação é a da luz. O senhor vai descer nela ou em outra?
Ele não responde e continua olhando pela janela.
- Bem, foi um prazer senhor José. Quem sabe, podemos nos encontrar qualquer dia... até mais!
Ela levanta. O trem para, a porta se abre e ela, sai.
Um homem de paletó senta-se.
- Com licença, o senhor tem horas? – diz o homem tocando-lhe o ombro.
- Sim. Eu aceito descer na estação com você e te conhecer melhor e quem sabe podemos nos apaixonar e...- ele olha o homem nos olhos, assustado.- O que aconteceu com a mulher que estava aqui?
- Mulher? –diz o homem indignado.
- Sim, a mulher. Adriana, se não me engano. Estávamos conversando faz pouco tempo.
- Bem, não vi mulher alguma, desculpe. Acabei de entrar e como o senhor pode ver, o trem está quase vazio.
- Já passamos da estação da luz?
- Sim. Já estamos na quarta depois dela.
- Será então que andei sonhando demais? Será que tudo foi fruto da minha imaginação? Eu poderia jurar que uma mulher sentou do meu lado e que ela seria a mulher da minha vida.
- Bem, as vezes o senhor pode ter se distraído.
- É... pode ser. Eu sou mesmo um pouco distraído.
O trem segue sua viagem. Amanhã, ele pegará novamente o mesmo vagão azul e sentará no mesmo banco, esperando, incansavelmente, pela mulher da sua vida.
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