quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

RAINHAS- Parte I

Prólogo:
(Ao chegar, o público depara-se com um personagem mítico, roupas devem estar espalhadas pelo palco, desde o começo. Mina e Naiá estão sentadas, na posição de quem esta lavando roupas, estatizada).
Personagem- As histórias foram se espalhando. Tal qual as roupas pelo   chão. São roupas?  Memórias? Pessoas? Você já contou alguma história? Eu conto várias, sempre! 
Musica. Mina descongela, lava roupa.
Mina-  Essa água nos meus olhos não é reflexo do rio. Tampouco suor que desce da testa. É água de choro mesmo. É água do rio que minha alma se transformou.
Mina congela. Naiá descongela.
Naiá-   Essa pele morena queimada do sol.  O sol é minha luz de todo dia, é meu relógio. O sol é meu guia. É como sei que o tempo passa.
Duas-   Lavo roupa por que tenho que lavar. Roupa dos outros. Mas também,  cada roupa que lavo, lavo com força. E ai vem o suor, as lágrimas. É uma maneira de colocar tudo pra fora. Quando tudo sai como água, é mais fácil.
O personagem passa por trás delas, que congelam.
Personagem- Elas lavam roupas todos os dias. Quase o dia todo. Aqui ,são Mina e Naiá. Pros outros são lavadeiras, apenas. Em casa, “muié”. E pra elas? O que elas são?
Mina- Fonte de incerteza. Tristeza.
Naiá-   Fonte de água doce. Água salgada.
Musica- as duas levantam no mesmo tempo.
Personagem- São jóias que a vida lapidou de maneira bruta.  São duas mulheres fadadas a prisão em meio a liberdade.
Música aumenta. As duas correm para as roupas no chão. Experimentam algumas peças.
                        Mina- Vê Naiá.
                        Naiá-   Como estou?
                        Mina-  É tão engraçado lavar as roupas dos outros e não tem nem o que vestir direito não é?
                        Naiá- Pior é estar vestida pobremente, mas estar sempre nua para quem não vê na gente qualquer beleza.
Musica. As personagens começam a narrar a medida que a história acontece ao fundo.
                        Mina-  Ele chega em casa sempre com a cara fechada. Mal olha na minha cara. Quer comida na mesa. Mal percebe que estou vestida. Que hoje estou de roupa lavada, cabelos soltos. Só quer comida na mesa. Quando a comida não ta boa, ele só me olha com a cara feia. Não diz nada. Não precisa dizer. Então, minha alma vira rio e meus olhos cachoeira.
                        Naiá- Hoje ele chegou bravo. Não quis saber de mim. Sempre procuro entender por que ele não quer saber de mim. Então, eu vejo que nem mesma eu sei de mim. O que é a minha vida? Lavar roupa pros barão. Fazer trabalho de casa. Me cuidar? Não cuido não. 
As duas se olham, se aproximam. Derretem e voltam a lavar roupa.
                       
                        Naiá- Uma música tocava...
            Mina- E eu, mesmo sem saber dançar, dançava

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