sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A mandinga.

-É o seguinte; numa noite de lua cheia vá a um brejo que seja bem afastado. Pegue o primeiro que aparecer.
- Mas, e se eu pegar uma sapa em vez de sapo?
- Não importa minha filha, o que importa é ser anfíbio. Sapo, rã, perereca, não importa. Se pular e fizer "coach", pegue. Não pense duas vezes.
- Certo. Então eu pego o sapo, perereca, rã ou sei lá o quê, e depois?
- Leve pra sua casa. Escreva o nome do seu amado em um papel branco, virgem.
- Uma dúvida! Enquanto eu estiver escrevendo no papel, o que acontece com o sapo?
- Ele pode ficar assistindo televisão. Ora minha filha, isso é pergunta que se faça? É claro que o sapo vai ficar lá na caixa dele esperando a hora. Não me faz pergunta besta. Então, escreva o nome do dito cujo...
- Roberto!
- Oi?
- Roberto. O nome dele.
- Ah, não importa. Escreva o nome no papel virgem. Depois dobre sete vezes e coloque na boca do sapo.
- Uma dúvida!
- Meu saco...
- Você não foi clara minha senhora. Como é que eu faço pro sapo abrir a boca? Não é assim, chegando, abrindo e pronto. Tem que ter uma técnica, não tem?
- Na verdade tem. Coloque papinha numa colher e faça aviãozinho pro sapo. Daí, quando você disser que o avião vai pousar ele abre a boca, você segura o maxilar dele com força e joga o papel.
- Sei...e a calçinha?
- Tudo junto. Calcinha e papel. Calcinha enrolada no papel, calcinha primeiro, papel depoís, não importa. Você decide na hora ta?
- Um... eu ainda tô pensando como vou abrir a boca desse sapo!
- Olhe, a técnica para abrir a boca do sapo você desenvolve depois ta bom? No panfleto que você recebeu diz que trago seu amado em sete dias e não que eu dou consultoria sobre sapos. Após colocar tudo na boca dele, costure.
- O quê?
- A boca do sapo!
- Ah!
- Então, pegue o sapo, enterre em frente a casa do dito cujo e diga: " Assim como eu costurei seu nome na boca deste sapo, você ficará costurado a mim por toda vida."
- Por toda a vida é? E se um dia eu não quiser mais ficar com ele?
- Você volta aqui que passo outra mandinga para ele deixar de gostar de você.
- Ah ta! Vamos pensar em hipóteses. Se caso, quando eu estiver enterrando o sapo, alguém acorda?
- Quê que tem?
- Como quê que tem minha senhora? O que eu faço? Vou ficar lá, com o sapo na mão, ajoelhada, com cara de pata?
- Se vire.
- Me viro e vou embora?
- Não. Se vire de se virar mesmo. Isso não é problema meu. Minha função é ensinar a mandinga, já disse. Não dá para ensinar como você vai lidar com os improvisos. Daqui a pouco você vai querer que eu vá junto.
- Não seria uma má idéia.
- Bem, a consulta já deu o que tinha que dá. São R$ 250,00.
- Não tem desconto?
- Não.
- Eu espero passar os sete dias e volto aqui né?
- Pra quê?
- Ué. A Senhora disse que trazia ele em sete dias. Se a senhora vai trazer, não vai ser pra cá? Ou a senhora manda entregar?
- Faz o seguinte minha querida. Vai mais atrás do sapo não. Pegue o papel, a calicinha e tudo mais e coloque na sua boca. Depois costure, vá pro...sei lá...elevador lacerda, e fique lá esperando.
- E ele vai até lá?
- Vai, vai sim. Agora, passar bem.

A falsa vidente observa pela janela a mulher se afastando. E então, pensa: " É por essas e outras que não me arrependo de enganar as pessoas. Elas pedem...elas pedem..."

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