Ah, o café de Joana. Não sei o que contém que o faz ser tão irresistível. Nunca gostei de café, mas o de Joana era divino. Ela dizia que era o tempo da fervura da água que modifica o sabor.
A primeira vez que tomei foi no velório da mãe dela. Achei que o segredo daquela maravilha fossem as lágrimas caídas enquanto Joana fazia. Lágrimas modificam sabores.
A segunda vez foi no dia seguinte ao velório. É... eu fiquei por lá para consola-la.
E assim veio a terceira, a décima, vigésima...os sete anos que tomei o café de Joana todos os dias.
O café de Joana. Ah, o café de Joana...
Há dois meses não o tomo mais. Não há mais pó. Não há mais açúcar. Não há mais água. Não há Joana.
E se eu tivesse elogiado mais? E se eu dissesse que não sei mais viver sem seu...café? Será que ela volta?
E se eu disser que coloquei a água pra ferver para ela apenas colocar o pó? A fervura da água modifica o sabor, não é? A minha já ferveu bastante.
E se eu disser que me faz falta o cheiro de café penetrando todos os cômodos da casa?
E se eu disser que as xícaras empoeiradas esperam? Que as colheres enferrujadas esperam?
E se eu disser que o homem triste espera o café que agora é servido em outro lar?
Elmo Ferrér
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