quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Monólogo da atriz narcisista.


*conto em duas partes

Por: Elmo Ferrér

(...)

Palmas. As cortinas se fecham e Elizabeth vai pro seu camarim. Tranca-se, solitária. Em frente ao imenso espelho, começa a tirar o figurino de sua personagem e em seguida a maquiagem.
- Senhora Elizabeth. Tem um fã querendo cumprimenta-la.- disse um dos contra-regra.
- Diga a ele que espere. Sabe que não falo com ninguém enquanto estou na personagem.
- Disse que é jornalista, não pode esperar muito.
- Tudo bem, mande-o entrar.
Ela ponhe agilmente um roupão e senta-se em sua cadeira negra, com ar de diva.
- Elizabeth Montevidell?- disse o jornalista apenas com a cabeça para dentro do camarim.
- Entre!
- Meu nome é Carlos Arantes, sou do "Diário de Notícias".
- Sim, sei bem quem é você. O crítico de teatro. Assistiu ao espetáculo?
- Certamente. Gostaria de entrevista-la, é possível?
- Não gosto de dar entrevistas, mas abrirei uma exceção para o senhor.
- Acho que é importante porque o seu espetáculo não esta sendo muito assistido e...
- Veio me dizer o que já sei?- disse, seca.
- Bem. Ao que a senhora credita a falta de público no seu espetáculo?
- A falta de cultura desse povo que só se preocupa com realit show e cultura pobre, em massa.
- Bem, mas bem sabemos que existem outros espetáculos pela cidade e, em sua maioria, bem vistos e aplaudidos por público e crítica.
- Normal! Os outros espetáculos tem em seu elenco celebridades da tv. Pessoas que nem sequer sabem o que é teatro e fazem peça para se auto promover. Senhor... o público não aprendeu ainda a assistir aquilo que realmente é bom. Eles querem saber do que é sucesso do momento. Em outras palavras: deem bananas aos macacos, se é isso que eles querem!- ela se vira para o espelho e continua a tirar a maquiagem.
- A senhora não acha que pode ser pelo fato da senhora não fazer mais sucesso e não ser chamada para mais nenhuma novela, filme, seriado e programas de tv? Existem boatos de que a senhora aceitou fazer esse espetáculo porque esta em fim de carreira.
Ela vira rapidamente.
- O senhor veio aqui para me afrontar? Me difamar? Ponha-se daqui pra fora!- ela se levanta e sai. Ele vai atrás, pelo corredor.
- Mas, senhora... não digo nenhuma mentira. Quem assistiu ao espetáculo, isso é, as nove pessoas, dez comigo, percebeu que a senhora já não está mais em condições de estar nos palcos.
Ela para, vira-se e olha profundamente nos olhos do jornalista.
- Quem pode dizer sobre minhas condições sou eu, seu "jornalistazinho" de jornal de limpar a bunda. O senhor, como as outras nove pessoas que estavam na plateia vieram aqui para tripudiar, para assistir meu espetáculo e depois sair por ai falando mal. O que vai ajudar a vender muito jornal e render quem sabe um aumento para o senhor, não é? Esse tipo de imprensa marrom não me interessa. Quem entende de arte, de teatro, sabe que o espetáculo é primoroso.
- Mas não estou dizendo que o espetáculo não seja primoroso. O texto é muito bem escrito e a direção é muito sinuosa, um belo casamento estético principalmente. Os outros atores também estão muito bem. Mas sinto dizer que talvez a falta de sucesso desse espetáculo deve-se a senhora. Uma atriz conhecida por não ser muito popular, que teve sua boa fase nos anos 80 até meados dos anos 90, mas que hoje, não é ninguém.
Ela lhe dá um tapa na face.
- Ponha-se daqui pra fora. Idiota!
- Pode saber que tudo que aconteceu neste corredor será colocado em primeira página.
- Dane-se! Aproveite e convide os seus poucos leitores para assistirem o espetáculo de amanhã.
Ela dá de costas e entra no camarim. Olha-se no imenso espelho a sua frente e vai até ele, devagar.
- Quem já foi rainha, nunca perde a majestade. Esses abutres verão que o show não acabou. Ninguém vai sair por ai falando de mim. Eu sou uma diva! Uma das melhores atrizes que esse país já teve. Não posso ser humilhada dessa maneira, servir de pano de fundo para texto, direção e pra esses "atorezinhos" de merda que dividem o palco comigo. O público gosta mesmo é de um bom circo! Esperem o próximo espetáculo.

continua... 

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