domingo, 19 de fevereiro de 2012

O reclame.



O garoto perfeito também chora. E melhor: ele é imperfeito e faz questão de mostrar suas imperfeições.
Não gosto de mostrar fraqueza, não quero que o inimigo descubra meu ponto fraco, se bem que nem eu mesmo o conheço bem, pois, sempre que acredito que tenho um ponto fraco, sempre aparece um outro ponto fraco para me mostrar que aquele ponto ainda é forte, ainda se mantém forte, apesar dos pesares.
Toda essa pompa colocada em cima das pessoas bonitas e bem vestidas me incomoda profundamente, porque eu sei o que tenho guardado na minha máquina registradora cinzenta. E são coisas valiosas, mas que sempre serão deixadas de lado, trocadas por corpo, beleza e status. Não ousem discordar de mim, sei muito bem o que estou falando e você também.
Não é difícil saber o porquê da minha indagação. Nunca, jamais, em hipótese alguma, o público vai aos confins de um teatro de bolso assistir um espetáculo dirigido e escrito por um jovem brilhante, cuja idéias ainda não foram descobertas. Nunca o público descerá ao sub mundo dos talentos indescobertos se ele pode ter a miserável segunda opção de ir ver um espetáculo onde o elenco inclui globais, ex-realits ou é dirigido por diretores famosos que não fazem nada além de maquiar aquilo que já fizeram ou que já foi feito por alguém, mas, que pelo nome e toda pompa que envolve, leva milhares e milhares de espectadores ao teatro para ver o batido com cara de novo.
Enquanto isso, um jovem cheio de idéias agradece o encontro das palmas de seis ou sete pessoas que entram no teatro pequeno para ver o grande.
De um lado, os pequenos que vêem o grande. Do outro, o pequeno que é visto pelos grandes como grande.
Lendo uma reportagem sobre o Stven Jobs, eu fiquei encantado pela maneira que ele conseguiu, aos 24 anos de idade, fundar uma empresa e ser bem sucedido e mesmo com as quedas, conseguir se reerguer e ser mais brilhante do que já era, do que pensavam que podia ser. Simples: Jobs veio de uma época onde o talento era realmente necessário, onde você era reconhecido por saber fazer e bem recompensado por isso. Hoje é completamente o oposto. Parece que quanto mais você sabe fazer, menos você é recompensado financeiramente por isso. E não é difícil entender minha colocação: Uma jovem é hostilizada numa faculdade por usar um vestido curto, outra, glorificada por que mora no Canadá, outra por que ganha um programa de TV e por ai vai. Em menos de um mês, estão ganhando o que um excelente artista ou professor ganha em um ano. Então você vem e me diz: - Ah, mas o sucesso delas é passageiro. Sim. Mas a questão levantada aqui não é o sucesso e sim, o reconhecimento. Muitas vezes essas pessoas são mais reconhecidas como profissionais do que quem investiu a vida inteira para ser o melhor. Voltamos na questão do sucesso passageiro... e também voltamos lá em cima, no começo deste texto, no jovem sonhador que luta para levar uma peça ao palco com seus próprios recursos em um teatro de bolso e de uma celebridade instantânea que estréia em uma sala de teatro glamorosa do outro lado da cidade.   Isso não é passageiro. A peça que o jovem montou e que não teve público nem crítica nem nada e que, possivelmente não será mais montada, não é passageira. Ela ainda será o motivo de muitas indagações deste jovem sobre suas perspectivas de futuro. Ela ainda será o motivo da discordância familiar a cerca de suas escolhas, ela será ainda, motivo de elogio para os sete espectadores-familiares-amigos- do começo dessa história.
O que falo aqui senhores, é sobre a banalização do talento e a valorização do supérfluo. No fundo, todos criticam as novas celebridades, mas neste momento, um crítico de teatro que poderia estar em um teatro de bolso vendo uma peça feita por um grupo amador, está em uma grande sala acompanhando a desenvoltura de um ator-atriz-modelo-dancarina e ex-alguma coisa, para daqui há uma semana colocar em primeira capa e vender revista.

Elmo Ferrér.

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