quarta-feira, 9 de março de 2011

Conto: O último poema. Parte I.


Mais uma vez a chuva torrencial caia lá fora e ele, como eterno espectador do cotidiano, via pela janela de vidro a vida passar. Há três anos preso naquele hospital, ele esperava pacientemente a morte chegar. Agora, ela tem dia e hora certa. Sobre seu colo, um livro de capa dura sustenta uma folha amarelada. Em suas mãos, uma caneta quase sem tinta.O que fazer agora? Depois de tanto tempo sem escrever, ele agora busca inspiração para seu último poema. 
Era noite de Novembro de 1967. O rall do hotel Esplendor estava lotado. Grandes personalidades foram prestigiar o poeta Avelino Sampaio. O jovem humilde de 20 anos começou a escrever aos doze anos de idade e ler seus poemas  na praça da Sé, na cidade de São Paulo. Foi a alternativa encontrada por ele para sustentar os dois irmãos mais novos, depois da morte prematura da sua mãe. Ele os escrevia em papel de pão e lia em bares da cidade. Com o tempo, a fama dos seus poemas de amor se espalhou pela cidade até ele receber a proposta de uma grande editora para lançar seu primeiro livro.
O que mais surpreende na história do jovem poeta, é a facilidade de escrever sobre o amor sem ao menos conhecê-lo. Sempre tivera vontade de ter uma namorada, mas a sua timidez nunca o deixara ter iniciativa para se aproximar das garotas. Se acostumou a amar platonicamente, em silêncio. Se acostumou a escrever ao invés de falar. Se acostumou em ser espectador da história de amor dos outros. E era assim que ele encontrava inspiração para seus poemas.
Com a ascensão social,  veio então os amores disfarçados. Volta e meia era usado por jovens que pretendiam entrar pro rall socity. Começou a escrever sobre desilusão,tristeza e abandono como uma alternativa para se fazer ouvir. Com isso, consegui dobrar seu público, sedento por respostas para suas desilusões amorosas. Já cansado de chorar suas mágoas, resolveu usar a fama a seu favor, usando  as mulheres de forma descartável. O que ele não esperava é que, dentre todas, uma seria a eterna inspiração para seus poemas, seria aquela que o tiraria a paz, que o levaria para o céu e para o inferno.
 Continua...

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