segunda-feira, 11 de junho de 2012

Bia. Capítulo I


Bia
Romance em 3 capítulos
Por: Elmo Ferrér

Capítulo I.


    Flávio entra na boate disposto a curar as dores com bebida. Senta-se no balcão e pede uma tequila dupla.
Uma moça de cabelos negros e pele bem branca colocando bebida na boca dos convidados se revela em meio ao jogo de luzes e fumaça. Sensual, popular, perfeita... ela é do tipo de mulher que deve viver cada dia como se fosse o último.
-Ei, o que é preciso para você colocar bebida na minha boca? -pergunta ele.
Ela vira num rompante. Seus cabelos se movimentam quase em câmera lenta e ele até chega a sentir um arrepio ao olhar profundamente pros olhos negros dela.
- A sua permissão. - diz ela com um grande sorriso.
- Então, eu permito, pode por.
Ele abra a boca e ela põe a boca da garrafa, mas, tira antes de uma gota cair.
- Posso saber por que você quer?- pergunta ela.
- Porque eu quero o quê?
- Ficar bêbado!
- Eu não quero ficar bêbado (...) Dar uma relaxada talvez.
- Ok. Agora só vou te falar uma coisa. O máximo que a bebida pode fazer é te dar uma longa dor de cabeça amanhã. Agora, não espere que ela vá curar essa dor ai. – diz ela batendo no peito dele. – Agora, abre a boca!
 Ela segura o maxilar dele e entorna meio líquido da garrafa.
- Pronto! Boa festa pra você! - ela diz e sai. Flávio fica por alguns segundos estatizado. Ele observa a moça de cabelos negros se afastando, colocando bebida na boca das pessoas e sorrindo.
Ele deixa a tequila em cima do balcão e sai. Sobe as escadarias da boate cabisbaixo. Ao sair de lá, encontra pelo beco sujo, várias mulheres oferecendo diversão. Sem se importar, ele segue para a estação.
- O último saiu as onze, agora, só as seis! – diz o vigia do metrô.
Flavio encosta-se na parede e dorme.

 - Ei, se fosse você tratava de levantar logo, o trem chega em poucos minutos.
Flávio desperta lentamente e se surpreende ao ver a moça da boate em sua frente.
- O que você está fazendo aqui? –pergunta ele, já se levantando.
- O mesmo que você. Esperando o metrô para voltar pra casa.
- E você mora onde?
- Entre o certo e o duvidoso.
- E passa metrô lá?
- Sempre! Na verdade ele está chegando- ela sai correndo sem dar tempo dele lhe dizer tchau.

Bia chega em casa e encontra sua porta arrombada, suas coisas remexidas e escritos ofensivos na parede. O seu instinto é procurar  o pingente em forma de coração que fora dado pela sua mãe no leito de morte. Mexe em todas a gavetas e em meio as roupas espalhadas pelo quarto. Nada. Sua única lembrança, seu único elo com o passado, única referência familiar fora roubado. De repente, um turbilhão de lembranças começam a se desenhar nas paredes do quarto. Seu padrasto batia em sua mãe frequentemente e ela era obrigada a assistir tudo. Também sofria agressões físicas e sexuais por parte dele. Um dia, em uma briga, ele empurrou a sua mãe e esta veio a bater com a cabeça na quina de uma mesa. Bia se ajoelhou em meio a poça de sangue e colocou a cabeça de sua mãe em seu colo. Pediu a ela que retirasse o cordão do seu pescoço, no qual, estava o pingente de coração. Bia deveria guarda-lo por toda a vida. Após o incidente, seu padrasto lhe fez ameaças, pediu para que contasse a todos que tudo não havia passado de um acidente. Sua mãe era a única família que tinha, até onde sabia. Ela tinha apenas 12 anos e mal saia de casa. O medo da rua era grande, mas as humilhações e abusos que sofria do padrasto se tornaram um fardo pesado demais e então ela fugiu de casa e passou boa parte do tempo nas ruas. Começou a se prostituir, mas encontrou aos vinte anos, um homem que mudaria toda a sua vida. O nome dele era Andrey e ele a retirou das ruas e lhe deu uma vida digna. Ele era casado e tinha dois filhos, mas eles pouco tinham relações. Ele a ajudava por bondade.
Quando Bia resolveu sair das ruas, sabia que não seria fácil. O seu cafetão a perturbava pois, além de ser apaixonado por ela, ainda lhe cobrava favores dados durante todos os anos. E foi assim...! Numa noite em seu apartamento, após uma longa conversa sobre planos para o futuro e coisas mais, Bia viu seu apartamento invadido pelos capangas do seu ex cafetão. Andrey, assassinado com um tiro a queima roupas. Ela, desesperada, foge pelas ruas, seguida pelos dois capangas. Bia, atropelada, vai parar num hospital e fica em coma por dois anos. Neste tempo, é procurada pela polícia como a principal suspeita pelo assassinato de Andrey. Ao sair do hospital, ela olha para a vida e pergunta: O que fazer?
Assumiu a identidade de Manuela, começou a trabalhar como garçonete num barzinho da cidade e com o dinheiro que juntou, foi embora da cidade. Começou a vida em outro lugar. Conseguiu emprego em uma boate, alugou um quarto na periferia e agora, está ali. Caída, chorando, sem saber pra onde ir. Seu cafetão havia lhe encontrado e o futuro... só Deus saberá.








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