terça-feira, 23 de novembro de 2010

No forró.

Esquete cômica para duas pessoas.

Escrita por: Elmo Ferrér



A cena escura, ouve-se um forró. A luz abre e vê-se dois atores, em lados opostos. De um lado, Josivaldo e do outro, Vandercléia. Os dois vão dançando até se encontrar no meio da cena.



Josivaldo- Ei!! Vandercléia!

Vandercléia- Josivaldo!!

Josivaldo- E ai menina? O que manda?

Vandercléia- Ah menino, o mesmo de sempre né? E você?

Josivaldo- Ah, mesmo de sempre também.

Vandercléia- E ai? Terminou os estudo?

Josivaldo- Terminei minha filha! Decidi que quero estudar mais não, é muito cansante trabalhar de dia e estudar de noite. Da não amada! Terminei na 6° mermo!

Vandercléia- Eu também parei total. Agora que resolvi ter uma vida digna né, com duas criança pra cuidar. Não dá pra continuar na escola.

Josivaldo- Pois é. E o Fabinho?

Vandercléia- Quem? Ah. Já fez a passagem meu amor. Agora tô com Rosiberto. Lembra dele?

Josivaldo- Lembro sim. Aquele que te assaltou né?

Vandercléia- Foi amor a primeira vista menino. Quando aquele negão apareceu no beco e mandou eu encostar na parede...menino. eu vi a glória!

Josivaldo- Eu que não dou sorte de ser assaltado por um negão desses. Mas, ele não tava preso?

Vandercléia- Pegou uma condicional menino. Nem te conto. Quer casar comigo e tudo mais.

Josivaldo- Ai amiga... meu sonho, casar de véu e grinalda. Menina, cê tá podendo né?

Vandercléia- Ô, toda noite meu filho...Resolvi sair daquela vida sabe? Rodar bolsa nunca mais. É muito difícil. E nem sempre a bolsa combinava com o sapato, com a maquilagem... e você? Desistiu de ser travesti?

Josivaldo- Não desisti coisa nenhuma. Passei por uns perrengues ai mas já to saindo.

Vandercléia- Como é mermo seu nome de traveco?

Josivaldo- Lady dei. Tô com quase tudo pra arrasar nos forró meu bem. Já comprei o cabelo, lente, salto e...olha só...- levanta a blusa-

Vandercléia- Menino. Você conseguiu colocar o silicone?

Josivaldo- Só o direito né? Mas mês que vem compro o outro.

Vandercléia- Ai amigo...cê merece? Nossa, mas eu adoro essa banda. Os “calcinha de plástico” são tudo né?

Josivaldo- Se são menina.

Vandercléia- E a Marioneide?

Josivaldo- Topei com ela semana passada. Tá magra, careca, radicalizou. Disse que tá fazendo quimioterapia.

Vandercléia- Pelo menos uma de nós conseguiu fazer faculdade né?

Josivaldo- Pois é! E ficou sabendo da Shirley?

Vandercléia- Fiquei menino. Coisa horrível né?

Josivaldo- Pois é menina. Acordou morta. Toda retalhada, com o corpo dividido em dez pedaços, dentro de um saco lá na represa.

Vandercléia- Eu acho que ela se matou sabia?

Josivaldo- Também acho amiga. Ela tava tão pra baixo...

Vandercléia- Olhe...semana que vem é aniversário de Rosiberto, vou fazer uma besteirinha lá em casa, aparece por lá.

Josivaldo- E tem que levar bebida?

Vandercléia- Só se quiser. Olhe, vai ter tudo que você gosta. Mela cueca, pau na cocha e vaca atolada.

Josivaldo- Adoro!! Cê vai chamar a Rita?

Vandercléia- Tu tá doido? Agora é tá metida com macumba menino. Fiquei sabendo que ela fez uma macumba pra Rosi que a bichinha ta mancando das duas pernas e a cara entortou.

Josivaldo- Credo!

Vandercléia- Vou indo. Aparece lá na casa que trabalho. To lá diariamente, as terças e quintas.

Josivaldo- Apareço sim. E seus filho, ficaram com quem?

Vandercléia- Com a vizinha.

Josivaldo- Menina, tava pensando... como é engraçado. Veja só. Você rodava bolsa né? Daí você engravidou de um cara que trabalhava na bolsa e hoje, você depende da bolsa para sobreviver.

Vandercléia- Da bolsa?

Josivaldo- É menina. Da bolsa família, bolsa escola...

Vandercléia- É mermo. Pelo menos teve algumas vantagem botar filho no mundo.

A música aumenta.

Josivaldo- Menina. Essa musica é tudo, vamos dançar.

Vandercléia- Já é!



Os dois dançam até a luz baixar.

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