domingo, 14 de novembro de 2010

Caçadores de estrelas cadentes.


Quem passa pelo semáforo da rodoviária e vê os vendedores de bala, nem ao menos imagina as histórias que eles tem para contar.
Há algum tempo venho observando um menino magrinho, bem frágil, de mais ou menos dez anos de idade.
Ele espera os carros pararem, vai lá e vende suas balas de menta. Faz isso todos os dias, das duas até as oito da noite.
Confesso que este menino me instiga... como será que ele vive? Onde? Com quem?
Percebo também que este menino, sempre que o sinal está fechado, senta-se num cantinho, pega um livro e folheia, maravilhado.
Não mais me contendo de curiosidade, vou até ele e, antes que eu possa dizer qualquer coisa, ele vem correndo com o livro na mão e diz:
 - Moço, pode ler essa história para mim?
- Não sabe ler? - pergunto.
- Não moço, sei não. Nem sei o que é escola. De manhã cato papelão com meu pai e de tarde venho pra cá vender bala. Não tenho tempo pra estudar.
- Mas...sua mãe não trabalha? Ela não pode deixar você fora da escola.
- Ela tem um filho de colo, tem que cuidar dele. Espera um pouco seu moço, o sinal fechou.

O menino sai correndo, batendo de carro em carro. Eu, fico a observar e penso como pode uma criança viver assim, sem direito a educação. A partir de hoje, prometo para mim mesmo: ensinarei esse menino a ler e a escrever. Mas como? Se nem eu sei. Não sei, mas vou.

Todos os dias, quando o menino saia do "serviço", sentavámos na grama e o céu cheio de estrelas era nossa luminária. Volta e meia, estrelas caiam. Eu, percebi que esse menino, que chama-se João, sempre fechava os olhos com bastante força quando uma estrela caia. Perguntei a ele o que ele pedia a elas, ele disse que não podia dizer, mas que sempre pede e nunca consegue.

-A vontade que tenho é ir atrás de cada uma delas, saber onde elas caem e perguntar por que elas nunca me ouvem.- disse ele.
- Então, vamos fazer o seguinte. Nós vamos atrás dessas estrelas, vamos apanhar uma por uma. Você vai guarda-las contigo e só as soltará quando elas resolverem atender aos seus pedidos.
- Mas como tio? Não tem como. Elas devem ser bem pesadas e teremos que andar muito. Elas caem muito longe.
-Não precisaremos andar muito para encontra-las. Aliás, nem precisaremos sair daqui. Você vai buscar essas estrelas dentro de você. Dentro da sua imaginação. Vou lhe contar a história do menino que caçava estrelas. Você só precisará fechar os olhos e ser esse menino, ta bom?
- Ta bom tio. Mas pode ser amanhã? Já ta tarde.
- É, sua mãe deve estar preocupada.
- Não... ela não se preocupa. É que preciso levar o dinheiro das balas de hoje, senão vou apanhar. Até amanhã tio!
-Até amanhã João...

Esse menino tem estrelas nos olhos. A partir de hoje, esse será meu desafio. Fazer com que esse menino encontre cada estrela cadente a qual ele fez um pedido. E realiza-los.
Esse menino me encanta. Esse menino não é nada além que a extensão da minha alma. Esse menino sou eu.

"Dizem que as estrelas cadentes podem realizar desejos... E se eu pedir a uma delas que eu vire uma pequena estrela, brilhante? Será que conseguirei realizar tal façanha?"
 
***Caçadores de estrelas cadentes é uma peça teatral infanto juvenil que estou escrevendo e que estreia em 2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário