quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Ela... parte I

Uma canção toca ao fundo. Borboletas multicoloridas envolvem os corpos nus dos dois amantes. Folhas douradas caem das copas mais altas quase em câmera lenta. Tudo tão perfeito. Eles se olham nos olhos. Acho que agora, ela vai dizer a ele o que ele esperou uma vida para ouvir. Vai dizer que o ama e que ele é o único em sua vida. Os lábios dela se mexem devagar, o coração dele bate cada vez mais forte e então...Plim! Plím! Plimmmmm!!!! Como assim plim, plim, plim? Ela vai sumindo em seus braços, ele tenta agarra-la, mas suas mãos atravessam seu corpo. E o Plim! Plim! Plimmmm!!! madito e incessante continua.
As folhas douradas que caiam do céu e formavam o colchão macio que ele e era se deitara, agora, foram substituídas pelos lencóis imundos de sua cama. É, agora ele se deu conta: está no quartinho vagabundo 2x2 na periferia mais imunda da cidade.
O relógio marca 6 horas. A partir deste momento, ele tem alguns minutos para se arrumar, tomar um gole do café de ontem e correr para pegar o ônibus que passa a dez metros do seu quartinho, que um dia chegou-se a pensar que seria um apartamento.
Então, ele corre. Chove muito e ele não tem guarda-chuva. O último que teve foi levado por uma rajada de vento, isso, claro, depois de ter se contorcido para todos os lados. Tudo bem, não se importava de pegar essa chuva toda. É até melhor, assim aproveita para tomar seu banho, já que a água foi cortada. Ele continua correndo, a chuva cada vez mais forte e o ponto de ônibus nunca chega.
Pisa em um buraco disfarçado de poça d'água e seu pé fica preso. Tudo bem. Tentatívas inúteis de tira o pé dali. Senta-se no chão, puxa o pé com força. Que merda! Tudo bem, já conseguiu, agora, correr para não perder o bendito ônibus. Ótimo! Acaba de passar um carro e jogar toda água do mundo nele. Finalmente chega ao ponto de ônibus. Veria que horas são, se o relógio não tivesse todo embaçado, tomado por água. O ônibus chega, ele entra. Põe a mão no bolso para pegar o dinheiro da passagem e tudo que retira, é uma bolo empapado azul e verde...lá se foi o dinheiro do ônibus, lá se foi o ônibus. Foi convidado a descer, pela cobradora mal humorada com cara de arroz de fundo de panela. Ódio do mundo. Só resta agora voltar para casa. Sai chutando as poças d'água e desejando que o mundo se explodisse. Para em frente a porta, põe as mãos no bolso e percebe: perdeu as chaves! O que mais falta acontecer?

continua...

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