quinta-feira, 19 de maio de 2011

A ESTAÇÃO. Amor de cinema.

* "A estação" é uma série de contos que se passam numa estação de trem. Aqui você acompanha a primeira.



Duas crianças brincavam de pique-pega. Uma senhora chorava por ter perdido a bolsa. Um homem de terno e gravata com uma bíblia na mão tentava converter meia dúzia de pessoas que o rodeavam. Alheia a tudo isso, Ana olhava fixamente para a linha férrea. Há três anos atrás naquela mesma estação, ela se despediu de Pedro. Ambos tinham vinte anos e ele foi fazer um intercâmbio em Londres. Desde aquele dia, nunca mais se viram, mal se falaram. Ela ficou sabendo de sua volta por meio de amigos. Será que ele ainda sentia o mesmo por ela? Será que todas as palavras de amor que foram ditas foram esquecidas?

Para ela, todo esse tempo foi um tempo de espera. Ela não conseguia esquecer por um momento dos dias que passaram juntos, das idas ao parque, dos estudos na biblioteca. De como ele mexia em seu cabelo ou do seu simples olhar. Será que para ele foi igual?

Quando ele recebeu a proposta para ir, nem sequer perguntou a ela o que achava. Apenas avisou: - Vou daqui a quinze dias.- e pronto! Se fosse o contrário, ela estaria desesperada sem saber se ia ou se ficava, se o levaria ou o deixaria. Mas ele não. Mal quis saber o que ela pensava. Para outras pessoas aquele seria um sinal de que não era nada sério, mas para ela que sentia amor por dois, não importava. Ela podia esperar.

Se ele ficasse lá para sempre, ela iria atrás dele. Se ele não a quisesse por lá, ela ficaria aqui, amando-o a distância. Ela só queria amá-lo. Agora, queria vê-lo chegar. Se ele a ignorar, se não souber mas seu nome, se não a reconhecer, não importa. Ela quer apenas vê-lo. Olhar o rosto vivo em sua memória por todos esses anos.

Para ela que amou sempre por dois, continuar amando não seria problema.

Chega o trem na estação. Os seus olhos brilham mais fortes que os faróis. Seu coração podia ser ouvido mais alto que o apito do trem.

Desce uma velha com sacolas,desce um homem com uma mala, desce uma mulher com um menino de colo, desce ele.

Os olhos se cruzaram. Ele sorriu. Ela nada demonstrava. Tanto esperou por aquele momento que agora mal sabia o que fazer. Ela ficou em silêncio enquanto ele se aproximou.

- Você sabe como faço para chegar ao centro da cidade? – disse ele.

- Como assim? –pensou ela.- Ele não me reconheceu?

- Oi, moça!

Ela em silêncio apenas olhava fixamente nos seus olhos.

- Você não lembra de mim? –disse ela.

- Não. A gente se conhece?

- Eu não sei onde fica o centro da cidade!- ela disse e deu de costas.

Ele começou a rir. Ela virou-se para ele.

- Está rindo do quê? De como sou tola por achar que você ia lembrar de mim? Para você tudo não passou de uma aventura não é? –disse ela.

- Estou rindo por que você é uma tola mesmo. Como pode achar que eu te esqueceria se todos esses dias eu pensava em você? Se toda vez que ia dormir abraçava o travesseiro tentando sentir você? Se toda vez que eu pensava em você eu imaginava que já estaria com outro alguém e que para você eu fui só uma aventura? Como posso esquecer de você se eu te amo?

- Mas você foi embora tão repentinamente e mal quis saber o que eu achava...

- Eu fui embora para saber o que você achava. Eu voltei para saber se você estaria aqui. Essa é a resposta!

Os dois se olharam. Ela sorriu. Ele também. Abraçaram-se e depois deram um longo beijo. Todos que passavam pelo local estatizaram. Uma música invadiu o ambiente. Ela pensou: - Ah, o amor é algo tão simples. A gente é que complica tudo.

A imagem dos dois abraçados foi sendo vista de cima, cada vez mais longe, enquanto a música vai aumentando e o diretor diz:

- Corta! Ficou ótimo!

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