sexta-feira, 20 de julho de 2012

Conjunturas desconjuntas.


07:00hs AM.

           Toca o despertador interno, duas horas após ter conseguido pegar no sono após uma noite fria, de cigarros, vinhos, música, pensamentos.
Abro a janela e mal dá pra ver o quintal lá fora, coberto por névoa. Sem me preocupar com o frio que assola o mundo, faço meu café amargo, acendo meu cigarro e vou.
O banco de madeira molhado, as gotas de orvalho caindo das flores adormecidas. Um raio de sol triste entra em meio a vida que dorme ali naquele quintal.
Uma vida se desfaz aos poucos, começando internamente e a qualquer momento, fisicamente.
Eu decidi que será assim. Assim serão meus últimos dias.
Pensei muito antes de decidir como aproveitar os momentos que me faltavam. Rejeitei de imediato a ideia de que passar os instantes ao meu lado não seria boa. Mas ao mesmo tempo, a certeza de que neste momento não haveria pessoa melhor para estar comigo do que eu mesmo me confortava. Afinal, ninguém merece acompanhar de perto o definhar de um ser.
Esta morte lenta não é circunstancia de nenhuma doença incurável. É apenas a decisão mais certa a ser tomada.
Vejo mais um raio de sol tomando o branco do quintal e penso nas coisas que eu disse sem querer disser. E quantas coisas causei sem querer causar. Fui vilão e mocinho. Ora fui um mosaico de todas as coisas que recebi, ora um espelho refletindo a verdade do que eu realmente sou.
Ah, eu amei. Amei com vigor, amei com a força de um raio de sol que invade a manhã nebulosa sem se importar, sem se medir, sem se guardar.
Amei e uma grande parcela de amor foi destinada ao desprezo, a pessoas que receberam tudo que eu tinha pra dar como quem fuma um cigarro, me usando aos poucos, me queimando, me transformando em cinzas, me jogando fora quando de me restou o mínimo, o filtro solitário.
Eu me destruo aos poucos,brinco de ser destino e lanço a minha própria sina. Escrevo meu fim. Morro aos poucos esperando que um resto de vida dentro de mim resolva me salvar do que eu mesmo provoco. E seria mais fácil tentar mudar tudo? Deixar de ser eu e começar a agir de diferentes formas?
Mas deixar de ser eu não significa morrer? Agir de formas controversas a mim não é me matar aos poucos?
Por que não ficar só? Por que não escolher a verdade que preciso pra...viver?
Um e mais um e mais um e agora vários raios de sol invadem o espaço. O sol decidiu pelo sim, embora algumas vezes decida pelo não. Até a ele foi dado o poder de escolha.  Quando resolve se esconder por entre nuvens e chorar lágrimas ácidas que inundam cidades, ele assim o faz sem questionamentos. Por que eu não? 
Levanto-me e vou para dentro da casa solitária e fria, colocada como uma peça de Lego sobre o alto da montanha. 
Aqui ficarei esperando minha hora. Continuarei bailando e tomando vinho todas as noites até o sono chegar.Continuarei acordando quando a alma assim decidir. Continuarei indo ao quintal gelado até o sol interromper a melancolia que vivem as flores enquanto dormem. Continuarei, até a hora chegar.


Elmo.


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