domingo, 2 de maio de 2010

As costureiras.

Sentadas naquela calçada, aquelas duas só queriam saber de praticar a arte de falar dos que passavam, dos que morreram, dos que adoeceram, dos que foram traídos, dos devedores, dos parentes, dos amigos dos parentes, e dos amigos dos amigos dos parentes.


A cocha de retalhos que elas costuravam enquanto falavam, nunca ficava pronta, ao contrário, crescia tanto, que dava para forrar todas as camas de todos aqueles de que elas falavam.


No bairro todo, só havia duas pessoas da qual elas não falavam: delas mesmas.


E mesmo se quisessem falar, não tinham assunto, porque, por causa do tempo que perderam falando da vida dos outros, não viveram. Não tiveram história para contar. A única coisa que falavam delas, é que elas falavam dos outros.


Um dia, uma delas morreu, e a outra foi obrigada então, a arrumar uma nova “costureira” para falar da falecida. Afinal, alguém tinha que manter a tradição depois que ela também fosse falar com Deus.






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